Sua agilidade era admirável, com facilidade ele desviava das árvores ou qualquer obstáculo que aparecesse no meio do caminho. A sua velocidade era ainda mais impressionante, eu diria que sobrenatural. Me segurava mais firme em seus pêlos negros a cada minuto, e percebi o quanto eram macios. Talvez admirasse mais o lobo falante e suas habilidades se não fosse pelo alerta que continuava a soar em minha mente, cada vez mais alto. O lobo permanecia atento, os músculos tensos como se estivesse pronto para um ataque repentino. Por um momento o alerta parou, me fazendo ficar estranhamente mais alerta. E da mesma maneira que parou, ele voltou com toda força, no mesmo instante em que um vulto passou por nosso lado e fomos empurrados. Rolamos naquela terra cheia de galhos e folhas. Tentava me agarrar em algo, mas achei melhor proteger minha cabeça. Meus braços e pernas doíam após parar de rolar, o vestido estava rasgado e sujo e nem quero imaginar o estado do meu cabelo. Levantei, sentindo meu corpo reclamar, e olhei ao redor, procurando pelo lobo falante. Após alguns segundos sem nenhum sinal do mesmo, fico preocupada. Ando alguns passos e uma tontura me toma em uma fração de segundos, fecho os olhos e quando os abro novamente vejo o lobo falante em posição de ataque e em sua frente um homem com roupas escuras. Ele vai machucá-lo! Um pavor toma conta de mim e antes que eu possa pensar já estou correndo em sua direção e em uma velocidade incomum chego até eles. E o que vejo é ainda mais assustador. O homem de cabelos castanhos e aparência inofensiva de longe, era assustador de perto, e isso não era o que me assustou, e sim seus olhos vermelhos e caninos afiados. Uma única certeza me tomou, aquele homem não era humano.
Tentei me afastar, andando para longe deles a passos lentos, não queria ser notada, mas minha presença já não era desconhecida por eles.
__ Olha quem está aqui? A garota por quem estava procurando __ disse o homem, mostrando ainda mais seus dentes amarelados. Um arrepio correu por minha espinha quando em um segundo aquele homem estava ainda mais próximo de mim. Mas assim como o homem foi rápido em se aproximar, o lobo falante o afastou, pulando por cima dele e começando uma luta.
Meu instinto de sobrevivência foi mais rápido que meus pensamentos e logo eu já estava correndo, tentando me afastar o mais rápido possível. Quando já estou longe, paro por um momento para recuperar o ar, e então sou capaz de pensar. Pensar no quanto eu fui medrosa por fugir, o lobo havia me ajudado quando me pediu para subir em suas costas e tentou me afastar daquela coisa. Encosto a cabeça no tronco da árvore na qual estou apoiada e respiro fundo. Por que sou tão boa? Não podia simplesmente sair correndo para me salvar e deixar aqueles seres estranhos brigando? Vai saber o que aquele lobo realmente quer comigo. Gemo, frustrada. Não seria eu capaz de conviver com a consciência pesada como uma covarde qualquer? Não, não seria. Desencosto da árvore e corro de volta para onde deixei o lobo e o homem lutando.
Essa noite está sendo a mais louca da minha vida. Me condeno por ter aceito o convite de Laurie de ir para aquela maldita festa. O que eu tinha na cabeça? Okay, pensava que seria apenas mais uma festa e que voltaria para a segurança de minha casa antes das 1:00 am. Laurie me enganou ao não contar que a festa seria perto da floresta. E ainda há, para a ficha de acontecimentos bizarros dessa noite, as pessoas caminhando como zumbis em direção ao lago. A Laurie me levando para a floresta e sumindo logo depois. E então a dor e o lobo falante. Que sonho, ou pesadelo maluco é esse? Ou seria uma pegadinha super planejada e o lobo não passasse de um robô? Okay, isso é demais, não gastariam tanto em uma pegadinha. O mais provável é que seja um sonho produzido pela minha (in)consciência pesada de ter que mentir para minha mãe. Ou eu bebi mais álcool do que me lembro e estou tendo alucinações. Preciso acordar, ou qualquer outra coisa. Mas antes tenho de ajudar o lobo, ele seja real ou não.
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Agora eram dois homens contra o lobo falante. E não foi preciso de um segundo para o lobo e os dois homens notarem minha presença. O lobo rosnou ao olhar para mim:
__ Por que voltou, sua idiota? __ perguntou já sem me olhar, estava ocupado desviando de um dos homens e lhe empurrando para longe com apenas uma patada.
__ Vim te ajudar. __ dei de ombros, ignorando sua ofensa. O homem que o lobo havia acabado de empurrar veio para cima de mim, e por puro reflexo lhe dei um soco, não sei que força era aquela minha que fez o homem cair, mas foi quase tão forte quanto a patada do lobo. O mesmo me olhou impressionado por um milésimo de segundo, mas logo teus olhos frios voltaram-se para o homem com quem lutava. Não me foquei no lobo mais, e sim no meu oponente, que já voltava em minha direção com os caninos afiados à mostra.
Usando minhas habilidadea adquiridas com a aula de dança, comecei uma sequência de chutes e socos em seu rosto e tórax. Uma adrenalina desconhecidas tomou conta do meu corpo e já estava a me divertir quando o homem segurou minha perna e me lançou em direção a uma árvore. Bati minhas costas no tronco da mesma e uma dor enorme tomou meu corpo. Seus movimentos seguintes foram tão rápidos que não consegui acompanhá-los, apenas senti a dor ser distribuída por meu corpo e a raiva crescer dentro de mim. Tentava revidar ou desviar, mas ele era rápido. Via seu sorriso em seu rosto, o que me deu mais raiva e quando ele me deu mais um soco no rosto um rosnado gutural saiu de minha garganta e não me dei tempo se ficar surpresa, via tudo vermelho. Em um piscar de olhos eu já não estava debaixo do homem recebendo socos e mais socos. O homem que antes era uns vinte centímetros mais alto que eu parecia pequeno agora. Uma pata lhe bateu e o jogou para longe. Espera, uma pata. Olho para meus pés, vi pêlos e patas enormes. Eu. Eu havia virado uma lobo (!)?
Olho para trás, vendo o lobo lutando com três homens, enquanto dois corpos sem cabeça jaziam proximos à ele. Tentei ignorar os corpos e corri para tentar ajudá-lo. Agora ele não parecia tão grande, talvez eu fosse um pouco maior, não prestei atenção nisso. Minha nova aparência o distraiu o suficiente para ele levar um golpe. Após se recuperar ele voltou a lutar e eu recomecei também.
__ Quebre o pescoço, é o único jeito __ gritou o lobo. E eu tentei não pensar que eu estava matando uma pessoa quando desferi uma patada no homem e lhe mordi o pescoço, quebrando o mesmo. Ele não é humano, não é. Tentei me acalmar com essa frase e buscava uma brecha para fazer isso com o outro também. Ouvi passos se aproximando rapidamente. Quantas coisas como essas haviam? O lobo olhou para mim, havia percebido o mesmo. Faltava apenas mais dois, o lobo cuidou de um e eu de outro, e quando os dois se encontravam com a cabeça separada do corpo, nós voltamos a correr. Lado a lado agora. O gosto metálico do sangue dos homens que matei estava na minha boca, não era muito bom, mas tentei ignorar. Foquei no lobo, o seguindo, nos afastando daquelas coisas, o alerta soando cada vez mais baixo, e agora eu me permiti admirá-lo.
Hey, o que estão achando? Demorei, mas postei. Quais são suas deduções e opiniões sobre a história? Apareceram poucos personagens até agora, mas o que acham de cada um?
Anne, Laurie, a mãe de Anne, o nosso lobo falante, e é claro, o Henrique.
Aparecerá novos personagens nos próximos capítulos, então fique atento(a)!

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Meu Lobo Mau
WerewolfAnne sempre foi uma garota obediente e certinha, sua mãe sempre a mandou ficar longe da floresta e ela a obedecia. Até aquele dia. No seu aniversário de dezesseis anos a amiga consegue convencê-la à ir em uma festa, perto da floresta.