O Presente do Mar.
Por Antonio H. Fernandes
"O mar não é obstáculo: é caminho. "
Amyr Klink
Laura era uma moça muito tímida, filha de uma professora e de um pescador. Moravam em uma casinha simples, mas bem arrumada, no litoral do Nordeste, em uma das praias mais isoladas e belas da região Maranhense.
Como não tinha muitos vizinhos, seu contato com pessoas se resumia à escola que freqüentava, e a uma ou outra amiga que morava mais próximo à sua casa.
Laura tinha um verdadeiro fascínio pelo mar, e não tinha como explicar tal fato. Quando não estava estudando ou ajudando em casa nas tarefas, estava na praia, muitas vezes apenas sentada olhando para o mar.
Aquela imensidão fazia com que ela esquecesse de todo o resto. Outras vezes ficava brincando e cantando enquanto as ondas iam e viam, molhando seus pés e parte do seu vestido.
Sua mãe, Rosaura, sempre dizia que ela havia sido um presente do mar, em atenção às suas preces, vez que não conseguia ter filhos, por algum problema genético.
No entanto, muitas pessoas não acreditavam nisso, achavam que havia sido sim, um milagre ou que o problema de Rosaura em engravidar não era tão grave assim.
Fato era que Laura amava o mar, e parecia que era recíproco, pois ela aprendera a nadar desde cedo e nunca teve nenhum problema, como se afogar por exemplo. Algumas pessoas tinham a nítida impressão que o mar ficava bem mais calmo quando ela estava na praia, se banhando. E, é claro, alguns brincavam que o melhor dia para se tomar banho no mar era quando Laura estava ali, junto com eles.
— Mãe, conta de novo como eu nasci. — Sempre perguntava Laura à sua mãe, era sua história favorita para dormir.
— Bem, filha, eu estava triste, pois não conseguia ficar grávida, e um dia, passeando pela praia, eu vi uma coisa vindo do mar, bem longe. Parecia um pequeno barco ou até uma jangada, mas ao me aproximar mais eu percebi que não era nenhum nem outro. Parecia uma cesta. Me assustei ao ver o que tinha dentro. Nunca em minha vida eu imaginaria que dentro de uma pequena cesta haveria uma linda garotinha que nem percebia onde estava. Dormia o sono dos justos, ou dos anjinhos, como preferir. Era você, meu amor. Na mesma hora, a tirei da cesta e corri para dentro de casa para mostrar ao seu pai, que ficou tão emocionado quanto eu. Era o presente que eu tinha pedido todos esses anos. Nós estávamos infelizes. Amávamos crianças e sofríamos porque não tínhamos a nossa criança.
— Mas, mãe, então eu nasci do mar...
Olhando para aqueles olhos da mesma cor do mar, e um sorriso que iluminava tudo, Laura respondeu com o mais afetuoso gesto de mãe. Deu um beijo na testa de sua filha, e com lágrimas caindo em seu rosto, disse:
— Minha filha, você nasceu de mim, apenas o mar foi o intermediário. Assim como as histórias de fadas, em que as cegonhas trazem os bebes para os pais.
E era assim todas as noites. Mesmo sabendo como é a história e como terminaria, Laura adorava que a mãe contasse essa história.
Enquanto ela crescia, algumas vezes acompanhava o pai nas pescarias, depois das aulas. E, coincidência ou não, nessas oportunidades, a pesca era sempre boa. Parecia que a menina sabia exatamente onde ficavam os cardumes.
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LENDAS MARINHAS - contos extraordinários.
FantasyQuem nunca ouviu falar em lendas dos mares, no mínimo ouviu sobre uma sereia... Mas, há muito mais, na época das grandes navegações havia o Kraken, monstro que destruiu muitos navios, inclusive piratas. O canto das sereias, que fez muito navio naufr...