O desastre

83 4 2
                                    

     Eram fortes luzes vindas do céu, como meteoritos pequenos de brilho intensificado. Olhava ao meu redor em desespero, o caminho tão comum que fazia diariamente à minha casa agora se tornara um complexo labirinto. O desespero invadiu meu corpo, paralisou todos os músculos e barrou qualquer tentativa de pensamento racional, quando menos esperei, a onda de choque causada por um dos meteoros me jogou ao chão, onde desmaiei.

     Lembro-me brevemente de silhuetas em sombras de pessoas correndo, ao fundo gritos ecoavam em meio ao caos, conseguia reconhecer alguns que assemelhavam-se a pedidos de socorro, gemidos de dor e ataques de panico. O sol havia começado seu trabalho deixando meu corpo queimado pelo tempo exposto.

     Não soube ao certo quanto tempo permaneci inconsciente ou em delírio após acordar, mas assim que retomei a consciência levantei e tomei conhecimento do acorrido. Ruas e calçadas agora eram um único espaço, casas tornaram-se recentes ruínas, carros e motos estavam jogados e destruídos por toda parte, e a minha volta crateras circulavam uma parede quase destruída e um antigo Camaro Comodoro, os quais em pedaços mostravam como haviam me protegido dos projéteis mais perigosos. Não sentia sinais de cansaço mas meus músculos, ainda rígidos, estavam doloridos, o suor escorria pelo meu rosto sujo de poeira, cortes e pequenas perfurações poderiam ser facilmente encontrados por todos os membros e minhas roupas sujas e rasgadas haviam ganhado detalhes em vermelho pelo sangue que escorria dos ferimentos.

      Apesar da situação do local, conforme ia acalmando o desespero mais claro o caminho para casa começava a ser redescoberto em meu cérebro. Quanto mais andava mais a tristeza e incerteza crescia em meu coração, por todo o caminho corpos de pessoas e animais de rua podiam ser achados facilmente, todos mortos ou aparentando estar, tentava ignorar, o som do caos ja se tornara confortante,  cachorros uivando, chamas por toda parte e o jorrar das aguas oriundas do esgoto fazia esquecer-me brevemente das visões que mais pareciam pesadelos e estavam ali bem ao meu lado.

     Chegando em casa notei que não havia mais casa, os escombros ainda estavam com a poeira do concreto levantada, aos fundos podia notar o colorido de uma recente cortina que minha mãe mantinha na entrada da cozinha, e pendurado em um tijolo que havia resistido aos impactos estava a gravata preferida do meu pai, era toda preta com listras vermelhas em seda, a poeira ofuscava seu brilho e beleza. Talvez conseguisse lidar com a cena da casa, mas o pior ainda estava por vir. Entrando nos escombros algumas manchas de sangue nos tijolos começaram a trazer de volta o desespero, não demorou muito para que sentisse algo macio sobre meus pés, estava pisando em uma mão, cujo corpo encontrava-se coberto pela parede da sala. De alguma forma tirei forças extras e comecei a retirar os escombros, sabia que novamente a visão da morte invadiria minha visão, mas o desejo por esperança era mais forte, continuei a tirar tijolo por tijolo, ate que uma parte pequena e desfigurada de um rosto encontra a luz do dia:

   __Mãe! mãe! - gritava inutilmente, sabia de sua morte, mas não queria aceitar, a dor que invadira meu peito me fez desabar de joelhos sobre o concreto quente -mãe...

     Permaneci por alguns minutos ajoelhado e caído sobre o corpo, o choro e desespero pareciam apertar cada vez mais meu coração, onde não possuía mais nenhuma gota de esperanças. Levantei cambaleante rumo para onde seria o quarto do meu pai e la, ainda respirando estava seu corpo caído, sua perna direita estava por baixo de blocos de concreto, seus braços imobilizados  pelos tijolos ainda sangravam e tingiam o cimento de vermelho, corri para me aproximar, o choro ficava cada mais mais forte. Sua face demonstravam sua dor, seu medo e a certeza que a morte estava ao seu redor. Olhava em meus olhos como se quisesse me dizer algo, mas estava impossibilitado. Ajoelhei ao seu lado e abracei seu pescoço, não segurei o choro enquanto em sua ultima agonizada sua cabeça tombou para meu lado, morrendo em minhas mão, sem pode ajudar...

Uma luz no céu, a sombra da terra.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora