Um foco incerto

12 1 1
                                    

     A esperança não me servia de nada, tentava me manter motivado, mas apesar dá suposta dica sobre Manu ainda estar viva, não sabia para onde ir. Estava perdido em um cenário nada harmônico. Agora, com a calmaria dos corpos não mais agonizantes, a poeira começou a baixar, pude ver mais detalhadamente a real consequência daquele misterioso e suposto acidente. Ao meu redor não havia nenhum corpo, nenhuma forma de vida não primitiva e racional, apenas manchas de sangue assombravam o local e tudo a minha volta. Pensava em todas as mortes vistas no caminho, e como soava estranho o pensamento de que tudo ali havia sumido.
     Não demorou muito para que os sintomas dá exaustão aparecessem: Sede, cansaço, fome, meus olhos não me deixavam enxergar muito longe, borrões negros surgiam a todo momento, é uma leve tontura ameaçou ficar mais forte. Caminhei por onde deveria estar a calçada rumo à uma casa de madeira que fora pouco danificada, mantendo-se insistentemente em pé.
     A porta estava trancada, acabei entrando por um buraco feito por algum progetil em sua lateral. Era uma casa pequena, feita provavelmente por moradores de rua, mas tinha um ar aconchegante. A luz entrava levemente pela janela, e a temperatura fresca mantida pela madeira tornava o ambiente levemente acolhedor. Não possuía divisões nos cômodos, era apenas um grande quadrado com o necessário para a sobrevivência de uma possível família pobre.
     Procurei inicialmente por água, não havia torneiras, mas aos cantos dá casa grandes jarros de barro guardavam a água consumível. Após saciar minha sede com o pouco que restou nos jarros, procurei por comida, não havia se passado muito tempo desde que havia comido pela última vez, mas todo o esforço físico e mental exigido pelo meu corpo foi o suficiente para acabar com todas as minhas reservas energéticas. Vasculhei inutilmente toda a casa, todo o cômodo, e tudo o que encontrei foram duas barras de cereais já vencidas fazia algumas semanas, e mesmo consumindo-as, ainda era pouco para acabar com com minha fome.
     Sentei em um colchão empoeirado no chão, sabia que havia um mercado próximo, e alguns produtos poderiam ainda estarem consumíveis, mas assim que sentei notei como o desgaste havia castigado meu corpo, meus membros tremiam, náuseas invadiam-me, deitei e logo acabei dormindo, um sono pesado e preciso.
     Era raro sonhos durante meu sono, mas naquele momento minha mente viajou. Eu podia me ver, mas estava paralisado, a minha volta só havia fogo e ironicamente, escuridão. De repente um caminho se abriu a minha frente, meu corpo ainda paralisado começou a flutuar por entre ele, e logo a frente podia notar uma silhueta negra se formando, era uma mulher, e estava de costas. Tentei gritar mas nada saia. Ela se vira, é Manu, está nua e seu corpo passa de uma silhueta negra para sua versão original, toda ensanguentada e com uma clara expressão de desespero em sua face:
__Corra, Lian, vc está apenas a procura de sua morte, corra!
     Tentava com todas as forças me mexer, gritar, segui-la enquanto virava-se e corria em direção ao nada, e lentamente sumia em meio as chamas.
     O cenário agora era outro, estava em um escritório (o mesmo que meu tio advogado possuía), os livros das prateleiras pareciam ficar cada vez mais transparentes, e dessa vez conseguia me mover. Tentava gritar, a porta estava trancada, tudo tinha a textura de uma parede sólida, os livros eram impossíveis de serem pegos. De repente as paredes começam a se mover, meu espaço diminui e lentamente sou esmagado, sinto meus ossos se partindo e perfurando meus órgãos, há sangue por toda a parte, quando finalmente alcançam meu crânio, esmagando-o, acordo gritando.
     Estou todo suado, acordo como se um caminhão tivesse me atropelado, meu corpo dolorido e minha cabeça a ponto de explodir. Não sei ao certo que horas são, havia anoitecido já, e sem as luzes dos postes, a lua iluminava a tenebrosa imagem do caos, toda a destruição formava um crepúsculo sombrio que dançava exibindo o caos. Meu refúgio acabara sendo as estrelas, ainda estava sem coragem para procurar o mercado próximo, e o céu exibia seu glamour, sem a poluição luminosa constelações podiam ser vistas facilmente. Era uma beleza escondida no cotidiano e que acabou aparecendo como forma de acalmar o estresse que a terra acabou de passar.
     Recolho algumas garrafas próximas, enchendo com água e amarrando-as com os trapos do colchão, faço uma pequena mochila para carregar água, e saio para "fazer compras".
     Como esperado, o mercado encontra-se destruído, e um forte cheiro de frutas podres atrai diversas moscas. Algumas embalagens de comida e bebidas ainda estão boas para consumo, pego o máximo que consigo, enchendo um carrinho amassado que encontro por lá.
     Um som é emitido por trás de algumas ferragens, penso ser algum possível sobrevivente. Saio correndo em direção ao som gritando:
___ Alguém? Alguém aí?
     Quando do meio das ferragens sobe uma bola metálica, uma nave estranha projeta-se em minha frente, fico paralisado enquanto começa a emitir uma forte luz vermelha.

Uma luz no céu, a sombra da terra.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora