Tarde de outono

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Ele passeava pelo parque naquele fim de tarde.
O parque estava lindo. Vez ou outra um súbito vento levantava umas folhas alaranjadas; este vento batia também em seus cabelos emaranhados e o fazia lembrar de sua amada. 
Sentou-se em um banco. As risadas das crianças que brincavam por naquele lugar faziam a trilha sonora perfeita para observar as folhas caindo dos galhos, em uma dança sublime.
E ele ficou ali, por um bom tempo.
Em seguida ele se levantou, como de costume, e foi até uma barraca onde vendia-se água de coco. Depois caminhou lentamente até o banco onde estava. Respirando de olhos fechados aquele ar puro, um sorriso no canto de seus lábios podia ser encontrado. Ele sorria sempre que lembrava das palavras nos bilhetes trocados com a querida de seu coração, a moça da cafeteria.
Ele costumava tomar café da manhã em uma cafeteria ao lado da universidade em que ele estudava. Mesmo depois de tempos frequentando aquele lugar, lhe faltava coragem para falar com a atendente algo que fosse além do preço do café. Mas tudo bem. Quando ele levantava a mão a fim de chamar alguma garçonete, era ela quem ia atendê-lo. E aquele contato bastava para fazê-lo feliz.
Ele não queria muito da vida: só que ela um dia o notasse. Que ela soubesse que ele ia àquele lugar para vê-la. Ele havia colocado nela sua idealização de felicidade.
Até que ele soube que no lugar da cafeteria abririam uma loja de discos. Foi como se lhe tivessem atirado uma bala no coração. Ele demorou um tempo para assimilar a ideia. E naquele dia, na cafeteria, junto com o pagamento do café ele entregou um bilhete para a moça. Eu não quero viver sem o teu sorriso, dizia o bilhete. Ele havia juntado toda sua coragem para escrever aquela que era a maior declaração de amor que já tinha feito para alguém.
No dia seguinte, no último dia em que ele a viu, embaixo da xícara de café, encontrou um bilhete no qual ela marcava um encontro. Desde então, todas as tardes ele saía para encontrá-la.
Na brisa da tarde, nas risadas das crianças, nas folhas das árvores ele podia sentir a presença dela. Ele não sabia o porquê de ela não ter ido ao encontro, mas ele nunca havia deixado de ir uma tarde sequer, porque tinha esperança de um dia encontrá-la.
No parque, no final da tarde, dizia o bilhete dela.
Continuarei vindo ao seu encontro, querida. Todos os dias. Sei que um dia você virá me encontrar.


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genteeee, vocês sabiam que "tarde de outono" vai ser publicado em uma coletânea de contos? é meu primeiro conto publicado tanto virtualmente quanto fisicamente e eu tô muito feliz por isso. sério. o conto teve bastante mudanças, é quase outro texto e por isso ficou beeeem melhor. obrigada por terem lido. abracinho!

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