Crush do ônibus

540 47 24
                                    

É segunda-feira. Estou em pé em um ônibus lotado. Não preciso dizer que tem gente suada se esfregando em mim. É hora do almoço (e eu também não vou comentar sobre a fome que eu tô sentindo, que quando eu chegar em casa é melhor que todos já tenham almoçado porque eu vou comer é tudo).
A pior parte de estar em um ônibus em horário de pico, é que ele para toda hora. To-da ho-ra. É gente entrando e saindo em cada esquina, mas o coletivo nunca esvazia.
Meu celular estava descarregado e se você olhasse em meus olhos, ia encontrar uma lágrima de tristeza por não estar escutando música no fone de ouvido.
Uma mulher, que estava sentada, olhava apreensiva pela janela. Acho que ela não sabia onde deveria descer. Há tempos atrás eu também era assim. Ficava olhando aflita pela janela porque não sabia onde eu devia solicitar que o ônibus parasse. Ora eu descia um milhão de quilômetros antes da parada onde eu devia descer, ora eu ficava um milhão de quilômetros depois. mas eu aprendi e por isso reconhecia de longe uma pessoa inexperiente em pegar transporte público. De repente a mulher levantou, olhou pela janela de novo e sentou outra vez. Duas esquinas depois, ela voltou a se levantar, mas dessa vez desceu (quase me lava junto, de tão apressada que foi embora).
Eu estava de olho no assento dela desde o momento em que percebi que ela ia descer. Ela desceu e eu já ia me sentando quando vi uma senhora em pé há alguns passos de mim. Ela olhou pra mim com cara de cansada e eu fiz sinal pra ela se sentar. Senta, minha senhora, também não precisa chorar, pensei.
Quando ela sentou, pude perceber um rapaz que me olhou muito fixamente. Ele olhou e logo desviou o olhar. Olar, pensei. Fiquei fingindo olhar para as outras janelas para ver o rosto dele de novo. Ele não era nenhum Rodrigo Lombardi, nem Cauã Reymond, mas era bonito. Principalmente por causa da barba dele, que era grande, mas nem tanto.
Ai, esses crush de ônibus acabam com meu coração. Porque eu sempre fico imaginando um romance, que começa com ele pedindo meu número, e depois a gente sendo feliz, namorando e eu o apresentando para minhas tias que perguntam "e os namoradinhos", sempre que me vêem.
O garoto chegou mais pra perto de mim. Percebi que ele continuava me olhando. Fiquei toda felizinha, mas fingi que não estava percebendo ele ali. Até esqueci que eu estava com fome.
O ônibus ainda estava lotado, mas se ele puxasse assunto, eu não ia ligar se alguém ouvisse a nossa conversa.
Dia desses eu estava em outro ônibus, mas esse não estava tão lotado. Tinha um cara tão chato! Ele ficava puxando assunto comigo de todo jeito, ele não aceitou que eu não estava interessada. Pior coisa é macho chato, desses que acham que quando a garota diz "não" é porque está se fazendo de difícil.
À essa hora, já estávamos chegando perto da parada onde eu ia descer. Olhei para o garoto. Ele olhou para mim e sorriu, tímido. E sorri de volta.
Não precisou a gente conversar pra eu sentir a vibe de boas do garoto. Tem gente que é tão de boas que só o sorriso delas já faz a gente ficar feliz também. Espero encontrá-lo mais uma vez num desses ônibus da vida.
Puxei a cordinha do ônibus e desci. Antes de descer, olhei para o garoto e ele ainda me olhava. Ele sorriu e eu também. Ganhei meu dia.

Minicontos :)Onde histórias criam vida. Descubra agora