Cupid Carries a Gun, por Frann Strack

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Sinopse: Ela sempre me disse que o cupido carregava uma arma igual a que ela colocou em minha mão naquela noite. Talvez ela esteja certa, porque ele com certeza atirou em mim. Ela tem olhos vermelhos e dentes bem afiados, prontos para beber sangue de humanos como eu. Nunca me importei com isso, afinal o único momento em que um monstro não é um monstro, é quando você o ama. No começo era só controle mental, mas eu realmente acabei me apaixonando por uma Vermelho Sangue.  
Gênero: Terror e Supense
Classificação: +12
Status: Shortfic – Finalizada.
Observações: Baseada na música Cupid Carries A Gun, do Marilyn Manson. Spin-off de Blood Red.

 

*Spin-off de Blood Red*

Cupido (cu.pi.do) – substantivo masculino
1.
O amor personificado; 2. Amor;
3. Cada um dos gênios alados que acompanham Vênus e Cupido;
4. Homem pretensamente bonito e dado ao galanteio, à sedução.

"I'm your God or your guardian. Keep your halo tight.
One hand on the trigger, the other hand in mine."

Festa à fantasia de Audrey Cervenka – Atlanta, GA.
Noite de Halloween, 2014.

– Não cheguei em um momento muito bom naquele quarto – voltei, fazendo careta.
– E aí, o que aconteceu?
– Ela vai transformá-lo em um de vocês – falei e Audrey ficou me encarando – Ela está prestes a fazer isso. Tracy está morta.
– Finalmente! Não aguentava mais aquela garota – disse, me fazendo rir – Por que você ainda continua leal à minha irmã, afinal?
– Eu ainda amo ela.
– Não entendo ela, sério – ela fez careta – Eu gosto de você, mas detesto aquele namorado humano dela.
– Humano por pouco tempo – comentei – Dylan ainda não percebeu que ela está, literalmente, o controlando, não é?
– Ah, querido – ela se encheu de orgulho – Eles nunca percebem o que as Cervenka podem fazer.
– Eu percebi – a lembrei.
– Você foi a exceção.
Meu nome é Ryan, tenho cem anos de idade, mas ainda aparento ter uns vinte; Isso porque eu sou um vampiro. Sou de uma espécie em que todos têm os olhos de uma cor verde bem viva; Não importa qual era a cor dos seus olhos antes de você ser transformado, ele vai se tornar esse verde peculiar. Quando ficamos com fome e precisamos urgentemente de sangue, nossos olhos brilham, ainda mais verdes do que o normal. Sou apaixonado por Rebecca Cervenka, uma Vermelho Sangue, há 81 anos; Nunca saí do lado dela e nem pretendo fazer isso. Sim, eu sou um verde e estou apaixonado por uma vermelha – e mais do que isso, devo minha sobrevivência e integridade à ela.
Eu nem sempre fui esse monstro de agora, um vampiro... Eu já havia sido, bem, normal. Quando conheci Rebecca, eu ainda era humano; Porém, tudo mudou há exatamente 79 anos atrás, quando fui transformado. Eu a deixei me usar para o que ela precisava e, ainda assim, fiquei do lado dela depois de tudo.

Baile de máscaras dos Cervenka – Atlanta, GA.
Noite de Halloween, 1935.

– Lembre-se, Ryan, o cupido carrega uma arma como esta – Rebecca colocou a arma pesada em minha mão – Você é meu cupido, meu amor, e eu preciso de você.
– Eu sei – disse simplesmente, mantendo o seu olhar.
– Não esquece das balas de prata – ela apontou a caixinha que já estava no meu bolso.
– Não vou esquecer – garanti, então hesitei – Seus olhos...
– Estou sentindo – assim que ela falou aquilo, abri meu terno e camisa, abrindo espaço para que ela pudesse fazer aquilo outra vez – Tem certeza?
– Faça isso – falei – Me morda.
E ela mordeu. Era incrível como a sensação era boa. Era quase como se eu estivesse embriagado. De certa forma, esse ato me deixava excitado, fazia-me sentir prazer. Eu nunca havia achado as palavras certas para explicar como eu me sentia quando ela fazia isso. No final de tudo, ela lambia o local e a ferida cicatrizava quase que instantaneamente. Tirei um lenço do bolso e entreguei em suas mãos. Ela limpou a boca e sorriu brevemente. A cor de seus olhos havia voltado ao normal.
– Obrigado – ela disse, antes de selar nossos lábios.
Eu sabia da existência de vampiros e sim, também sabia que a garota com quem eu estava saindo era uma Cervenka, uma vampira vermelha. Estava namorando com Rebecca por algum tempo, então já havia descoberto inclusive que ela tinha 57 anos de idade, apesar de aparentar ter vinte. Eu não me importava com isso. Eu estava apaixonado por ela antes mesmo de ela começar a me controlar para uma coisa ou outra. Tinha certeza que agora era a hora em que ela precisaria da minha ajuda, ou seja, usaria seus poderes de controle em mim para que eu fizesse algo. Esse era o motivo de ela ter me entregado uma Colt M1911 há alguns minutos. Carreguei a arma com as balas de prata e engatilhei.
– Vamos – eu disse e ela me acompanhou.
– Seu chapéu – entregou-me.
Coloquei o chapéu preto de volta em minha cabeça, enquanto Rebecca aproveitou para colocar de volta a sua máscara preta que cobria a região de seus olhos. Eu nem sequer havia tirado a minha. Deixei que ela me guiasse para onde queria que eu fosse. Logo chegamos a uma parte da casa que eu reconhecia por ser o quarto dela. A porta estava aberta e havia três pessoas lá dentro. Uma mulher estava sentada na cama, admirando seu longo vestido rosa, e dois caras revirando as coisas, procurando por algo. Os três estavam de costas. Adentramos o quarto sem nem sequer fazer um mínimo barulho.
Rebecca segurou a minha mão esquerda, entrelaçando nossos dedos. Eu sabia o que viria a seguir – o controle –, mas eu deixei. Olhei para o meu lado esquerdo, onde ela estava. Observei-a de cima a baixo, cada detalhe de seu comprido vestido vermelho de frente única – ele tinha uma abertura lateral que ia até a altura de sua coxa. Ela quase sempre vestia vermelho, igual aos seus olhos quando estava faminta. Só então subi meu olhar, parando seus olhos. Ela sustentou o olhar e segurou minha mão com mais força. Assenti com a cabeça e peguei a arma, levantando o braço direito, mirando no primeiro cara e puxando o gatilho. Uma bala de prata no lugar certo acaba com tudo. Ele estava morto. Os outros se viraram e vieram nos atacar. Eu fiz o que precisava ser feito. Botei uma bala no coração de cada um daqueles dois que haviam restado.
A mulher ao meu lado soltou a minha mão e eu me senti aliviado. Respirei fundo e guardei a arma. Apesar de saber que eu ainda estava sob efeito dela, eu me sentia bem, quase normal outra vez. Eu estava tão acostumado com isso que eu já sabia exatamente quais eram as diferenças dos estágios pelos quais eu passava. Rebecca sorriu para mim e eu a beijei com vontade. Fomos interrompidos ao ouvir alguém pigarrear.
– Sem querer interromper o casal, mas esse não é um lugar muito bom para namorar – a ruiva que estava na porta fez uma careta, olhando para os corpos.
– Oi para você também, Ariel – a cumprimentei, rindo, e ela me cumprimentou de volta.
– Esqueceu da nossa reunião, cunhadinha? – provocou.
– Já estou indo – Rebecca revirou os olhos e então olhou para mim – Vamos comigo.
Descemos e fomos até a sala que tinha atrás do hall principal daquela casa. Os outros já estavam lá, e dessa vez eu conhecia cada um deles. Audrey Cervenka, irmã de Rebecca – vampira Vermelho Sangue, dezessete anos mais nova que a irmã; Dominik, irmão mais velho das duas – também um Vermelho Sangue; Taylor – bruxo; E Ariel – bruxa, prima de Taylor, mais velha e experiente que ele. Ari e Dom estavam abraçados, o que era bem comum de se ver nos últimos meses. Eles estavam namorando há um bom tempo, pelo que Rebecca havia dito, mas foi só há sete meses que conseguiram estabelecer um tratado de paz entre os bruxos e os vampiros – principalmente os Vermelho Sangue – para que parassem de guerrear e não matassem mais uns aos outros. Toda a ideia desse tratado era baseada nas mais poderosas famílias de bruxos e vampiros: Heidrich e Cervenka, respectivamente. Ariel Heidrich e Dominik Cervenka era como se fossem o pilar que mantinha o tratado. Não sei o que aconteceria se eles decidissem terminar o relacionamento deles.
– O que ele está fazendo aqui? – Taylor perguntou, fazendo careta.
– Ah, Tay, por favor – Rebecca revirou os olhos – Não começa.
– Ele está bêbado de novo – Dominik olhou para Rebecca – Nossa irmãzinha não sabe escolher seus namorados direito.
– Hey! – Audrey defendeu-se – Ele não é meu namorado.
– Não sou? – Dessa vez foi Taylor quem falou.
– Gente, parem! – Ariel pronunciou-se e os outros se calaram – E Dom, não fique falando mal do meu primo. Mas enfim, nada disso importa, temos algo mais importante aqui. E o Ryan...
– Eu já sei de tudo e acabei de matar três lá em cima – falei antes que ela completasse o que ia falar – Então podem falar o que precisam por aqui. E você não precisa mais segurar minha mão – garanti a Rebecca; Não sabia se ela tinha finalmente entendido que eu já sabia como funcionava ou não, mas eu também não estava nem ligando no momento.
– Era exatamente isso que eu ia dizer! – Ari sorriu.
– Não, não era – Rebecca riu – Mas tudo bem, vamos lá. Primeiro tenho que dizer que conheci um verde aqui nessa festa que não está contra nós. Ele está nos ajudando. O nome dele é Bill, então não saiam matando sem saber se a pessoa, em questão, é contra ou a nosso favor – ela desandou a falar – Então, quantos "invasores" mortos?
– Contando os três dele... – Dominik apontou para mim – Dezessete.
– Wow, tudo isso? – Audrey indagou.
– Não sei porque está parecendo surpresa – Tay disse – Cinco foi só eu e você que matamos.
– Dezessete... – comentei, pensativo – Alguém pode, por favor, me atualizar do motivo de estarmos matando esses vampiros dos olhos verdes e por qual razão eles estão revirando as coisas na casa de vocês três? – apontei para minha namorada, Audrey e Dom.
– Quem vai contar a ele? – Ariel perguntou e todos se mantiveram em silêncio – Por que diabos sempre sobra para eu explicar as coisas?
– Porque você sabe explicar bem – Audrey disse, dando de ombros.
– Não é só isso que ela sabe fazer bem – Dominik disse, abrindo um sorriso brincalhão.
– Sei socar a sua cara muito bem – ela sorriu, sarcástica.
– Bem feito, babaca! – Rebecca gritou para o irmão, fazendo os outros rirem; Ari a repreendeu com o olhar e ela deu de ombros – Okay, explica.
– Os vampiros verdes, como a gente costuma os chamar, não são maus; Afinal, nós temos esse acordo de paz com eles também – esclareceu primeiramente – Porém, tem um grupinho seleto deles que estão armando um complô contra nós. Eles acham que os Cervenka estão perdendo a cabeça por "se misturarem" com nós, bruxos – apontou Taylor e ela mesma – Descobrimos há pouco tempo que eles planejavam nos atacar hoje à noite e descobrir o que nos mantém unidos. Estamos evitando isso, eliminando-os – ela parou por alguns segundos – Alguma dúvida? – neguei com a cabeça – Ótimo, porque tenho algo para contar a todos vocês.
– E está esperando o que para falar? – Audrey indagou, impaciente.
– Você tem que aprender a ser mais paciente, irmãzinha – Dominik falou.
– Para de implicar com ela, Dom – Rebecca a defendeu – Ela não é mais criança.
– Vocês, Cervenka, sempre se desviam dos assuntos – observei, voltando-me à Ariel – O que você descobriu?
– Quem é o líder desse grupinho de oposição – ela abriu um sorriso, orgulhosa.
– E quem é? – Tay questionou.
– Natasha.
– Eu odeio aquela mulher! – Dominik soltou.
– Qual é, Dom! – Rebecca riu – Você odeia todo mundo.
– Isso é porque ela chutou ele há alguns anos – Ari falou e Dom ficou bravo, mas ela o ignorou – A parte boa é que já está acabando. Sobraram pouquíssimos deles. Só precisamos encontrar Natasha e matá-la.
– Como se fosse fácil encontrá-la – Rebecca revirou os olhos – Nat não é como a gente e, para piorar, é a líder. Vai sempre estar escondida.
– Não importa – dei de ombros – Acho que temos que ir atrás e a encontrar.
– Eu gostei dele – Dominik apontou para mim – Ele tem coragem de fazer o que quer que precise ser feito.
– Agora que vocês têm a aprovação do irmão mais velho, vamos procurá-la de uma vez – Taylor disse.
– Tay, você está muito mal humorado hoje – minha namorada provocou e ele a xingou, saindo.
Rebecca e eu saímos de lá e acabamos parando em um canto.
– Então você sabe do controle? – Rebecca perguntou.
– Já entendi como funciona – respondi – Precisa tocar na pessoa, não é? Ainda não aprendeu a usar isso sem encostar na pessoa, como o seu irmão faz.
– Sempre soube que você era inteligente, mas estou surpresa – comentou – Desculpe por ter feito isso.
– Tudo bem, eu deixei – dei de ombros – Agora deveríamos procurar a mulher do cabelo vermelho.
– Natasha, claro – ela riu – Esqueci que você a conhecia. Quer que eu procure junto com você ou não precisa?
– Sei me defender – ri – E tenho uma Colt.
– Nunca esqueça das balas de prata.
– Nunca.
Selei nossos lábios e então saí pela casa, a procura da maldita mulher. Sempre desconfiei que a tal da Natasha escondia alguma coisa... E não é que eu estava certo. Assim que acabei de subir as escadas e adentrei o corredor, alguém me puxou brutalmente para dentro de um dos quartos – provavelmente o quarto de Dominik. Ergui o braço direito com a arma e apontei para o cara.
– Hey, espera! – o cara ergueu as mãos em sinal de rendição – Não sou um deles.
– Seus olhos – falei – É o mesmo verde dos outros três...
– Que você matou, é eu sei – ele foi dizendo – Baixe a arma, estou aqui para ajudar.
– Como eu sei que não está mentindo?
– Acho que vai ter que confiar em mim – mantive o dedo no gatilho – Falei com a sua namorada mais cedo. Sou o Bill.
– Bill? – perguntei, mas então eu lembrei – Então está do nosso lado.
– Descobriram qual deles está comando? – questionou-me.
– Natasha.
– A do cabelo vermelho? – concordei – Eu a vi faz pouco tempo, droga! Ela está nos fundos da casa, escondida, esperando. Avisa os outros.
– Espera – o fiz parar antes de sair – Eu vou e você avisa os outros.
Ele não gostou muito da ideia, mas acabou concordando. Descemos as escadas e cada um foi para um lado. Segurei firme na arma e chequei algumas vezes se ela estava totalmente carregada. Então, finalmente, saí. Procurei por todos os lados e não estava conseguindo a encontrar. Aquilo estava muito estranho. Eu tinha certeza que tinha algo de errado e que o que viria a seguir poderia ser muito ruim.
E realmente foi. Aquela mulher apareceu do nada, pulando em minhas costas. Tentei lutar para me soltar, mas ela era muito forte. Óbvio, eu era apenas humano, ela era uma vampira. Esforcei-me para atirar nela, mas ela me desarmou, jogando a arma para longe. Minha chance de vida era que alguém chegasse logo. Então, Natasha me soltou e jogou-me contra a parede. Veio rapidamente até mim e me levantou.
– A vadia da sua namorada não vai aparecer para te salvar – ela disse, com um sorriso no rosto – Ninguém vai vir, ninguém se importa... Nem a família dela.
E então ela mostrou suas presas e grunhiu, antes de me morder. Não havia nenhum modo de eu sentir aquela mesma coisa que eu sentia quando Rebecca fazia isso comigo. Quer dizer, a mordida ainda dava aquela sensação de prazer, mas minha namorada se alimentava, enquanto Natasha só estava bebendo meu sangue porque queria me matar. O desespero era o que eu mais sentia. Antes que minha vida se acabasse, Natasha foi puxada para longe de mim e eu caí no chão, sem forças.
– Você está errada mais uma vez, Nat – Ariel disse enquanto eu a observava caminhar até a outra – Somos todos uma família e nos importamos uns com os outros. Isso é o que nos mantém fortes.
– Eu vou matar você! – Natasha gritou, tentando levantar.
– Não, você não vai – Ari a chutou – Você não deveria ter se levantado contra nós – então ela puxou Natasha para cima e cravou algo brilhante em seu peito. Tirou a lâmina de lá, largando o corpo, e veio até mim – Rebecca já está vindo. Você está bem aí?
– Com dor – esforcei-me para falar – Você é a bruxa mais poderosa... Por que não usou seus poderes?
– Ah, Ryan, esse punhal de prata é meu melhor amigo contra vocês, vampiros – ela disse, o limpando – Você sabe, não é? Se sobreviver, vai virar um vampiro verde.
– Ryan! – ouvi Rebecca gritar. Logo ela estava abaixada ao meu lado – Eu te amo, Ryan. Por favor, não morra! – as lágrimas escorriam de seus olhos – Fica comigo! – pediu, segurando minha mão – Desculpe te meter nessa roubada.
– Eu... Eu também te amo – foi o que eu consegui dizer – Não quero matar... nenhum inocente para me manter... vivo.
– Não vai precisar matar gente inocente para sobreviver – ela dizia – Pode beber meu sangue. Vai ser o suficiente. Só... Mantenha-se vivo, comigo.
E eu estava tentando... Por mim, e por ela... Mas a dor que eu sentia era excruciante e cada vez piorava mais. Eu sentia aquilo dentro de mim, como se fosse um veneno, percorrendo cada centímetro de minhas veias. Tinha certeza que estava me tornando um vampiro e sabia que aquilo não era uma coisa ruim, afinal, nem todos os vampiros eram maus. Ainda assim, eu só queria que aquilo parasse. Eu não sabia mais se conseguiria aguentar aquela dor. Talvez fosse valer a pena, talvez não. Olhei nos olhos molhados da mulher que eu amava por uma última vez antes de finalmente fechar meus olhos. Eu ainda estava ali, mas minhas forças estavam se esvaindo e a dor não parava de aumentar. Então, finalmente perdi a consciência.

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