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O dia foi passado no hotel a trabalhar. Andei sempre de um lado para o outro e, a meio da tarde, tive de ir à enfermaria do hotel mudar de ligadura pois já se estava a notar o sangue a transparecer por ela e os hóspedes não podiam reparar nisso. O meu chefe já tinha vindo falar comigo para me perguntar se queria que ele me dispensasse mas eu não queria. Não me podia dar ao luxo de ir para casa. Sei que se fosse para casa iria pensar no que não devia e, provavelmente, fazer o que não devia.

Limpei vários quartos e dei tudo o que a banda necessitava. Estavam prestes a ir ensaiar e eu continuava a limpar. Estava a limpar um quarto de um hóspede que tinha saído e tinha deixado tudo de pernas para o ar.

- Rita? – Aquelas voz rouca que me fazia arrepiar sempre que a ouvia soou ao meu ouvido.

- Diz, Harry. - respondi levantando a cabeça do móvel que estava a limpar.

- Vamos agora ensaiar. Gostavas de vir connosco?- Não sei se daria muito bom resultado e além disso ainda tinha de trabalhar.

- É melhor não. Não estou com paciência nem estou pronta para enfrentar aquelas raparigas todas a chamarem-me de assassina. E além disso o meu dia de trabalho ainda não acabou

- Oh Rita não ligues a nada disso... Eles não sabem a verdadeira história.

- Tu também não sabes, também me chamaste e mesmo depois disso não sabes a verdadeira história. E se a palavra "assassina" estiver bem? Não sabes. Se calhar até está, e depois?

Harry não disse mais uma palavra. Reparei que ele tinha ficado triste com as minhas palavras. Eu também tinha sido rude com aquelas palavras, mas a verdade é que eu apesar de o ter perdoado, ainda não o perdoei verdadeiramente. Ainda dói relembrar-me daquele momento em que ele me chamou assassina. Dói relembrar o quanto ele estava convicto a dizê-lo. Na verdade não foi o meu coração que o desculpou mas sim a minha cabeça.

- Ei, Harry, vamos?- A voz do loirinho da banda fez-se ouvir.

- Sim vamos. Se mudares de ideias já sabes onde nos encontramos.

- Está bem. E desculpa a forma como te falei. - estava mesmo arrependida. Sei que ele ficou triste.

- Ainda estás abalada. É normal. - disse mas sei que ficou desiludido.

E saiu para fora do hotel. Ele e o Niall acompanhados por três seguranças. O resto da banda já tinha ido.

Fiquei a refletir no que tinha dito a Harry. Tinha sido muito agressiva e tinha-o magoado bastante, deu para reparar nos seus olhos. O brilho que ele tinha desapareceu de um segundo para o outro quando lhe disse tudo aquilo. Tinha sido realmente muito má. Decidi então que, no fim de limpar a suite deles e se não tivesse mais que limpar, que ia ter com eles ao ensaio. Tinha que, mais cedo ou mais tarde, enfrentar toda aquela gente desde fãs a jornalistas. Tinha de enfrentar todas as pessoas e flashes. A grande questão era: conseguiria eu ultrapassar mais uma vez?

Subi até ao décimo andar, à suite 4, que era deles, e mal entrei todas as memórias me vieram à cabeça. Tinha sido ali que ele me tinha chamado "assassina", tinha sido ali que nos cruzamos pela primeira vez. Tentei tirar todos estes pensamentos da minha cabeça e começar o trabalho. Já tinha perguntado a Afonso se tinha mais algo a limpar sem ser a suite deles e era só a deles e mais nada.

O cheiro dos seus perfumes misturados entrava pelas minhas narinas dentro. Um era um cheiro mais forte, outro menos, mas o que eu reconheci logo, mesmo no meio da mistura de fragâncias, foi o do rapaz de cabelos encaracolados e olhos verde-esmeralda. Era um cheiro bastante forte mas não muito enjoativo. Era o cheiro perfeito.

Nunca me deixes #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora