KARINA
Faltam apenas dez minutos para o término do meu horário de trabalho, ainda não tinha passado todos os conteúdos que tinha programado para essa aula, então comecei a ir mais rápido nas explicações, mas sempre quando está acabando a aula os alunos ficam impaciente, consequência disso, eu fico falando com as paredes.
- Vocês entenderam? - minha voz sai abafada ao tamanho do barulho, não consigo nem ouvir uma se quer voz respondendo minha pergunta.
Me viro deixando que eles guardem os materias, pegando também o meu apagador para apagar a lousa, por mais que tenhamos faxineiras escolares, acho que tudo aquilo que fazemos ninguém pode fazer, por mais que seja o trabalho delas, isso eu gosto de fazer por mim mesmo. Pego meus materias de trabalho, guardo alguns no ármario da escola, outros tenho que levar para a casa, ser adulto as vezes exirge isso de você, até em sua própria casa o trabalho está ao seu lado. Única vantagem que tiro de tudo isso é que moro perto da escola e tenho uma marido que tem um ótimo emprego, fazendo com que não precise trabalhar em outra escola, assim cuido dos meninos e da casa, o que sempre sobra para mim, ter dois adolescentes em casa, dá pra pensar que eles podem ajudar em alguma coisa, mas não, uma só fica com suas amigas, da escola pra casa da amiga e por fim só vem para casa para dormir, outro que fica tracado dentro do quarto, Bruno as vezes ajuda em casa, mas apenas as vezes.
- Oii minha magricela - uma das poucas pessoas que sempre me ajuda nas piores horas é a Nina, gata que ganhei no meu 40° aniversário do Guilherme.
- Bruno, Bruno - eu tenho que gritar para ver se ele pelo menos escuta e desce, porque ficar 50 minutos de pé em uma sala de aula é a pior coisa que tem.
Por muitos berros e gritos, ele aparece no pé da escada, me parece que ele não estava nada bem, com uma cara totalmente vermelha parece que isso foi o resultado de uma manhã de lágrimas.
- O meu filho, o que houve? - pergunto mesmo sabendo que nada irá adiantar
- Nada mãe, eu só...
- Você só não está bem e tem uma mãe que pode escutar muito bem - interrompo, antes que ele me de uma desculpa qualquer.
- Sabe mãe, eu não entendo muito matemática... Eu tirei uma nota ruim - ele começa a gagueja, o que mistura em mim um sentimento de pena e de raiva caso ele esteja mentindo para mim.
- Tudo bem, você consegue recuperar, converse com seu pai, ele entende isso. Você viu sua irmã?
- Ham eu nunca a vejo, nem parece que mora nessa casa - uma coisa eu tenho que concordar.
- Eu vou tomar banho, já comeu alguma coisa?
- Já
- Ótimo, eu tive um péssimo dia, então caso queira algo pega te dou dinheiro e você compra, não quero fazer comida hoje - odeio deixar de fazer comida, mas Bruno assentiu.
Por mais que esteja em um clima quente, não gosto de banhos gelados, deixo a temperatura do chuveiro no morno, faço um coque no cabelo e entro na água, cada gota escorre no meu corpo, sinto como se fosse a primeira vez que meu corpo é banhado por águas, deixo me levar pelo ar gasoso, o coque que tinha feito agora está completamente desfeito e meu cabelo molhado, então pego a esponja e começo a passar pelo corpo, parece que em cada local que passo retira um peso de estresse que passei hoje, pode parecer que um professor não tem dificuldades, que apenas os alunos, mas muitas das vezes os diretores e nossos colegas de trabalhos que nos estressam mais, tirando os familiares, a vida é mais complicada por dentro do que por fora. Pego o meu roupão e vou para o quarto, pego meu celular e mando uma mensagem para Laura, pego alguma roupa que encontro dentro do guarda roupa e visto, não estou afim de ir lá pra baixo então eu me sento na cama e pego um livro que estou lendo ultimamente e abro onde havia parado, assim que comecei a ler as primeiras linhas eu sou interrompida
- Mãe? - Bruno me chama batendo na porta
- Oi Bruno
- Posso conversar com a senhor?
- Claro meu filho sente-se
- Eu queria saber sobre a sua juventude
- O que você gostaria de saber - fecho o livro e me inclino para frente para dar um ar de quer se interessar com o assunto, mesmo não sendo interessante
- Você sempre amou o papai? Ou conheceu outras pessoas?
- Por que essa pergunta tão infantil Bruno? Não é você que quer ser tratado com igual, porque reagir dessa maneira a essa idade?
- Eu só...
Guilherme chega e com isso o assunto acaba, Bruno sai do quarto, ele não é tão chegado ao pai quanto a mim, afinal ele não é chegado a ninguém, eu e meu marido parece que sempre seremos apenas nós, construímos uma família para qual ficar em seu canto e não ter o ar de união, o que é completamente ao contrário de ser uma família.
- Como foi hoje ? - pergunto para quebrar o silêncio
- Nada bom
- Como assim? A empresa não está fluindo?
- Eu preciso fazer algo, antes que vá a falência
- Calma meu...
- Não Karina, essa é a hora de salvar a empresa e eu tenho que fazer isso - o tom em sua voz me assusta, ele nunca foi de se alterar
- Eu tenho que ligar pra Laura, não quero que ela chegue tarde
- Aproveita e liga para algum restaurante ou lanchonete - ele começa a tirar a roupa da serviço
- Claro
- Vou tomar um banho - ele beija meus lábios e sai do quarto
Tento e tento ligar para Laura mas de nada adianta, mando mensagem e isso não se resolve
- Bruno - grito do quarto na esperança dele ouvir
- Oi
- Liga para Carla, vê se a Laura está lá, manda mensagem já está tarde
As horas passam e não consigo entrar em contato com a Laura e com nenhuma amiga dela, a preocupação me possui, onde minha filha está a essa hora, viro do lado da cama e vejo Guilherme já dormindo, provavelmente Bruno também está, mas eu não consigo dormir, fico imaginando todas as piores cenas do que poderá ter acontecido ou acontecendo com ela, desço para a cozinho para beber um pouco d'água e fico por lá pensando e pensando, tento ligar novamente mas nada, penso em chamar a polícia, até que então Nina aparece entre minhas pernas fazendo eu levar um susto, fiquei um tempo com ela no colo, até que esqueci se Laura e de todos meus problemas, as vezes precisamos fazer algo de costume para sentirmos bem, então assim eu deito com ela na sala e adormeço mesmo pensando em onde minha filha está.
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Entre o Desespero e a Esperança
RomanceUma busca entre salvar seu marido e manter a família, Karina se vê contra uma parede imaginária; com cenas bem profundas e personagens envolventes, Karina, Bruno e Laura descrevem suas dificuldades e assuntos de extrema invisibilidade social.