O Primeiro Sangue

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Algor Veneficium:

Um único pensamento permeou em minha mente durante muitos anos. Um desejo... uma necessidade... uma ambição. Tudo que eu queria era a oportunidade de honrar minha família destruindo aqueles que os assassinaram. É um assunto complicado para qualquer pessoa pensar, mas não eu. Ao pensar nisso eu só sentia ódio, fúria, me levando à uma angustia por estar impotente.

Meu irmão de 16 anos, naquela época, sempre foi o mais inteligente da escola, porém sua habilidade mágica era horrível, por isso ele sempre quis uma vida normal. Já minha irmã de 11 anos era muito habilidosa, mas não tinha resistência e se cansava fácil ao praticar magia, sempre tentava ajudar os animais ou as plantas.... Ela vivia demonstrando a bondade em seu coração. Minha mãe era a que tinha todo o conhecimento sobre magia já que estudou antigos grimórios por muitos anos, mas quase nunca a usava, ela preferia usar a magia como uma extensão dos seus sentidos. Meu pai era muito talentoso, ele conseguia fazer todo tipo de magia se tivesse pratica, e era muito respeitoso ao usa-la. Eu era o que tinha mais habilidade, eu conseguia usar todo tipo de magia, mesmo com apenas 13 anos, porém eu não tinha muito controle. Muitas vezes ao tentar acender uma simples vela, a cama se enchia com um cobertor de chamas.

Nessa idade eu não entendia o perigo de ser um bruxo, até que o clã Damckler apareceu. Eles não conversaram, não bateram na porta, apenas entraram e atacaram, queimando e destruindo toda a casa. Minha mãe e meu pai tentaram nos proteger, porém haviam muitos bruxos. Eu estava na escada levando minha irmã para o andar de cima em meio ao fogo cruzado, até hoje consigo sentir o ar impregnado com o cheiro das chamas. Quando ouvi minha mãe gritar, eu olhei e ela estava sendo sufocada por magia, o bruxo estava apontando sua mão para ela... ainda consigo ouvir o som da sua garganta se fechando, do seu corpo lutando por uma gota de oxigênio. Meu pai correu para o corpo dela e tentou se proteger, mas os inimigos eram muitos e não tiveram problemas de chegar até ele e o esfaquear. A visão do sangue escorrendo de seu corpo ainda me assombra, seus olhos perdendo a vida, sua cabeça batendo no chão como um saco de carne. Meu irmão me puxou e nos levou até o quarto, lá eu me escondi no armário, minha irmã e meu irmão se esconderam debaixo da cama. Eu enfeiticei a porta do armário com uma ilusão, assim quem olhasse de fora veria o armário vazio.

Fiquei lá por alguns minutos que pareceram horas, ouvindo o som do meu coração, qualquer ruído era motivo para ele acelerar, até que um homem abriu a porta. Eu tapei a boca para não fazer nenhum barulho, meu corpo estava tomado por desespero. Ele ficou olhando por alguns segundos, mas fechou a porta e saiu. Nunca senti tanto alivio quanto naquele momento. Eu não me lembro do rosto do homem não importa o quanto eu tente, porém eu lembro que em seu braço havia uma tatuagem de um tridente com uma meia lua atravessada no cabo. Esse era o símbolo do clã Damckler, e foi a imagem que ficou gravada na minha cabeça.

Depois disso adormeci com medo de abrir a porta e ele ainda estar lá. Quando acordei procurei por toda a casa, mas não encontrei ninguém, nem os corpos. Essa calmaria é o mais desesperador, saber que tudo o que você tinha foi tomado, que o lugar que era seu não existia mais, as pessoas para quem correr quando não tivesse mais nada. Essa era a pior sensação. Fiquei uma semana na casa vazia, ela era afastada da vizinhança, por isso ninguém ouviu o ocorrido. Eu não tinha coragem para deixar tudo para trás.

Eu percebi que eles só levaram um objeto.... Um colar com um pingente de Dragão com um cristal no centro. Ele pertencia a minha família a gerações, e meu pai sempre contava histórias incríveis sobre aquele colar. Foi quando percebi que tudo tinha ocorrido por causa desse simples objeto, um artefato magico poderoso, mas não valia a perda que tive. Então eu peguei o grimório da minha família, que é um livro sobre magia, feitiços e histórias, e fui para um refúgio para jovens bruxos sem família, que ficava no Alaska. Esse lugar foi criado para que pessoas com magia não cresçam sem uma orientação correta. Eu não tinha outro lugar para ir, então fiz contato com eles assim que eu tive coragem. Fiquei lá até meus dezesseis anos, estudando e praticando magia, me preparando. Havia me convencido que eu não podia deixar as coisas como estavam, eu tinha poderes, por que não usa-los? Meu ódio foi crescendo toda noite que eu tinha pesadelos com aquele dia, e sempre quando acordava me vinha à mente o tridente com a meia lua. Aos meus dezesseis anos fui à Londres, pois ouvi dizer de alguns membros banidos do clã Damckler que sua sede principal ficava lá. Fiquei coletando informações por um período de um ano, não podia agir sem cautela.

Os Olhos da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora