A Realidade de Um Pesadelo

16 4 1
                                    


A brisa úmida e salgada atingia meu rosto, um ar frio e sútil me revigorava... Fazia-me esquecer das coisas horríveis que eu via. Eu já não sabia mais se eram visões, pesadelos ou simplesmente uma pegadinha maldosa do universo que gostava de me ver sofrendo. Aquele pesadelo se repetia toda noite quando eu meditava, às vezes eram somente com Neight, outras só Daélis estava lá, mas sempre me causava o mesmo desespero, o mesmo medo. Eu não queria sentir mais aquilo, eu só queria deixar esses sentimentos que me enfraqueciam irem embora.

Daélis estava fazendo alguns desenhos em uma folha branca, pareciam muito símbolos mágicos, então eu me atrevi e perguntei:

- Daélis, o que está fazendo?

- Me precavendo. Não estamos seguros aqui neste navio, por isso estou preparando um feitiço. Logo devo terminar. - Respondeu desenhando firmemente.

Ele terminou de desenhar o símbolo no papel logo após nossa conversa. Eu não conseguia ver direito, mas ele lançou a folha para cima e recitou "Aer Protectio Fascinans", a folha no ar se incendiou em uma chama azul liberando uma energia que circundou todo o navio. A tripulação parecia não conseguir ver essa energia, pois quando eu olhei pela porta, todos continuaram a rotina normalmente.

- Que feitiço foi esse Daélis? - Perguntei curioso.

- É um feitiço ancestral muito antigo, ele simplificadamente faz com que em toda área do navio, qualquer bruxo exceto nós, terá sua força reduzida. Basicamente a energia elemental que ele conseguirá absorver será menos eficaz. - Respondeu Daélis como se esse feitiço fosse algo normal. Uma magia dessas é algo raro de se aprender. Um feitiço que diminua a força de outro bruxo é extremamente poderoso e cobiçado, mas eu não insisti nesse assunto. Daélis já teve tantas oportunidades de conversar comigo, se ele não quis é porque não está pronto, ou simplesmente tem algo importante a esconder.

Fiquei pensando nisso, então me lembrei de um jogo que eu e meus irmãos fazíamos quando éramos pequenos.

- Daélis, quer jogar um jogo? - Perguntei inocentemente levando-o para a cabine.

- Tudo bem, não temos muito que fazer aqui. - Falou Daélis tentando descontrair.

Nós ficamos sentados em posição de meditação e eu desenhei na palma das nossas mãos uma estrela de cinco pontas, então colocamos uma de minhas mãos embaixo de uma das deles, e ele colocou a outra dele embaixo da minha.

- Esse é um jogo bem simples, nós fazemos perguntas um para o outro, toda vez que alguém mentir a estrela da outra pessoa irá começar a ficar quente, e ela irá ficar cada vez mais quente até acabarmos com o jogo. O símbolo só queima a mão da pessoa que mentiu, mas a outra pessoa sente isso, logo sabe se a resposta é mentira ou não. - Expliquei a ele como iria funcionar, e ele não demonstrou nenhum sentimento suspeito a respeito do jogo. Pensei que ele ia ficar desconfortável, mas pelo visto não.

Eu olhei para os desenhos e recitei "Aestus Signum" para criar o feitiço do jogo. - Você começa.

- Tudo bem então... Deixe-me pensar... - Ele parou por alguns momentos para poder fazer sua pergunta. - Você realmente ama o Neight? - Foi uma pergunta leve, talvez ele não quisesse pegar pesado logo no início.

- Sim, amo ele e quero passar minha vida com ele. - Respondi sem hesitar. - Agora minha vez... Você confia em mim?

Ele demorou um pouco e respondeu. - Sim, mas não totalmente, assim como sei que você não confia totalmente em mim. - Não ouve alteração na temperatura do símbolo.

Os Olhos da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora