O vento soprava forte e em pouco tempo o sol iria nascer por completo, mas nenhum dos dois me incomodava. Peguei, com muito carinho, o bloco de 4 cartas envoltas em uma fita vermelha e segurei com as duas mãos. Já fazia mais de um ano e eu ainda me recordava de cada detalhe da minha pequena flor e tantas experiências que eu queria que ela tivesse tido, mas não teve e nunca teria. Mas, no final, eu estava bem.
Estávamos de volta a Muqui por três dias para a festa de aniversário da minha mãe, afinal não é todo dia que se faz 60 anos de pura juventude.
Fiquei parada na frente de sua lápide, o seu rostinho no pequeno espaço da fotografia e embaixo estava escrito: "Margarida Camila da Silva Oliveira - Filha e Neta Amada". Respirei fundo sentindo as primeiras lágrimas espreitando. A muito tempo eu tinha me conformado que a minha pequena estava em um lugar melhor, então as lágrimas eram fruto da saudade que me acompanharia por todos os dias e da emoção de estar ali.
Ouvi passos atrás de mim e me virei para ver quem estaria as 6 da manhã no cemitério. Mas não era um desconhecido, era Roberto. Ele estava desviando das lápides e chegou ao meu lado.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei surpresa. Eu tinha certeza que ele estava dormindo quando eu saí.
- Você não é tão silenciosa quanto imagina. – Ele respondeu sorrindo quando chegou ao meu lado. – Por que não me chamou?
- Eu não queria te incomodar. Apenas me deu vontade de vir agora. – Eu disse segurando com mais forças as cartas.
Ele olhou para o pacote
- O que é isso?
- São cartas. Eu as escrevi logo depois que Megg morreu. Silvia disse que eu tinha que achar uma forma de me conectar com ela.
- Hum... bem... ela me disse a mesma coisa. – Ele respondeu colocando a mão dentro do casaco e tirando uma carta de lá. – Eu também escrevi uma carta para a Megg. Sempre a trago comigo.
Olhei para as nossas cartas e sorri.
- Você pode colocar junto com as suas? – Ele perguntou com os olhos baixos.
- Claro. – Peguei a sua carta e desamarrei o laço vermelho colocando a sua carta junto com as minhas. Agora eram cinco cartas.
Coloquei o bloco em cima de lápide e peguei o isqueiro que eu havia trago para queima-las. Não havia sentido deixa-las ali quando qualquer visitante enxerido poderia ler as palavras que nós tínhamos escrito para a nossa princesinha. Então queimá-las era a melhor forma de "enviar" as cartas para Megg.
As cartas queimaram rapidamente e nós ficamos abraçados apenas olhando para o fogo até que elas não eram mais nada. Ficamos parados por um tempo olhando o sol nascendo enquanto o vento levava as cinzas das cartas do meu pequeno anjo que sempre estaria comigo até o dia em que Deus decidisse que estava na hora de encontrá-la de novo.
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Com amor, mamãe [Conto]
Short Story#Em homenagem a Maria Beatriz# O que fazer quando seu pequeno bebê, que você gestou e esperou com tanto carinho se vai? Quando Amanda perdeu sua filha, que tinha poucos meses de vida, foi como se uma parte de si mesma tivesse se rasgado, a depr...