"Querida Megg,
Sabe o que fiz hoje, ou melhor, agora a pouco?
Fiz um álbum de colagens. Peguei todas as suas fotos que eu já tinha imprimido e as colei em um álbum de fotografias em linha de tempo, desde a primeira foto na UTI até a última vez em que eu segurei você em meus braços. Além disso, decorei com vários adesivos de princesas e flores e arrematei com cola glitter. Demorei a tarde inteira e parte da noite, seu pai disse que ficou "muito rosa e pouco agradável aos olhos por tanto brilho." Mas não me importei.
Minhas mãos e, quase tenho certeza que, parte do meu cabelo ficaram completamente pregados de cola, mas estou estranhamente feliz. Hoje foi o primeiro dia que não chorei por você. Parece que ter Sílvia para conversar e escrever cartas a você tem dado um resultado positivo. Não quer dizer que não fiquei com um nó na garganta de vez enquanto, principalmente quando admirei meu trabalho do álbum terminado, mas não cheguei a derramar lágrimas. Pela primeira vez em semanas.
Além disso, eu e seu pai finalmente conseguimos jantar juntos, falar de você e não sentir nenhum desconforto por isso. Eu o tinha magoado tanto e agora só queria poder fazê-lo feliz de novo.
Quando fui passear com Sílvia, naquele momento já tínhamos reduzido nossos encontros a duas vezes por semana, eu falei sobre o medo de estar te esquecendo. Por que eu já não chorava continuamente por sua perda.
Sabe o que ela me disse? Que uma mãe nunca esquece um filho, por menor que seja o tempo que passam juntos, e foi quando eu descobri por que Sílvia era especialista em perdas familiares, era por que ela mesma já tinha perdido um filho. Algo haver com um carro em alta velocidade e um motorista bêbado. Tivemos perdas diferentes, mas no final éramos duas mães que tinham perdido um filho.
E foi aí que eu percebi o que eu queria fazer. Conversei com Roberto e, mesmo ficando relutante no início, ele aceitou e eu tomei coragem e me inscrevi no 'Programa De Aconselhamento Hospitalar'. Era um programa pouco conhecido feito de forma voluntária por pessoas que vinham para oferecer um ombro amigo a alguém que havia passado por uma grande perda ou estava passando por um tratamento médico complicado. Assim como Sílvia tinha feito comigo.
Agora eu seria a Sílvia de alguém. Talvez poderia ser cedo, por que eu ainda não estava totalmente recuperada, mas pela primeira vez em três meses eu quis sair de casa por conta própria e fazer algo produtivo.
Me esforcei e participei do curso de formação durante o mês seguinte com mais afinco do que um dia achei que teria com algo. E algumas semanas depois recebi o primeiro paciente. Uma mãe que tinha perdido seu filho de nove anos para a leucemia. Vê-la tão quebrada e sofrida me fez lembrar de mim própria e do quanto eu me sentia quebrada quando você se foi.
Depois de dias de conversa e acompanhamento pude perceber que o lento processo de superação estava começando.
E mais do que tudo, pude perceber o quanto falar de você também estava me ajudando. Era incrível como ajudar outras pessoas a lidar com sua dor estava me ajudando a sarar minhas próprias feridas.
Eu nunca poderia te esquecer ou o quanto seus poucos meses de vida me fizeram feliz. Mas como a Sílvia me ensinou: você sempre fará parte de mim, mas eu tenho que seguir em frente, mesmo que não seja fácil.
Acho que por hoje é só. Até a próxima minha linda flor.
Com amor, mamãe. "
VOCÊ ESTÁ LENDO
Com amor, mamãe [Conto]
Historia Corta#Em homenagem a Maria Beatriz# O que fazer quando seu pequeno bebê, que você gestou e esperou com tanto carinho se vai? Quando Amanda perdeu sua filha, que tinha poucos meses de vida, foi como se uma parte de si mesma tivesse se rasgado, a depr...