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Nos dias seguintes a comemoração dos meus dezoito anos eu fiquei na cama, levantando apenas para me banhar na banheira de louça do meu quarto. O enjoo não passara, e eu vivia com a bacia suja ao lado da cama de tanto vomitar. Mamãe apostava que algo que comi, ou pior, bebi na minha festa de aniversário teria me feito mal, alguma intoxicação. Mas eu sabia que o que estava me deixando sem forças era a culpa que parecia consumir meu organismo, literalmente.
Não conseguia esquecer o beijo que ganhara de aniversário, não conseguia deixar de repugná-lo, menos ainda de desejá-lo, infinitas vezes. E essa mistura de desejos e sentimentos fazia meu estomago dar voltas e voltas e querer colocar tudo para fora, através do vômito. Eu não aguentava mais me sentir daquele jeito e Bete já não sabia mais o que me servir para hidratar e alimentar.
No quarto dia eu já não passava tanto mal, mas não conseguia comer nada, pois logo em seguida colocava de volta. Anna viera ter comigo, saber como estava, no final da tarde. Mais uns quinze dias e chegaria o inverno, aquele tempo instável de ventos e sol escondido em nuvens acabava por me desanimar ainda mais de sair dos lençóis.
- Maria Clara, o que há afinal com você? – Minha cunhada parecia realmente preocupada, mas seu tom era estranho.
- Eu não sei Anna! Esse mal estar não vai embora! – Minha boca amargava tanto que engolir a saliva era um esforço.
- Não é algo de demanda sentimental? – Virei meu rosto imediatamente para ela. Tinha me assustado com sua colocação. Ela parecia serena, mas com os olhos muito atentos.
- Como assim? Do que você está falando? – Anna estava de pé ao lado da minha cama de doente. Suspirou e sentou-se mais perto de mim, que estava sentada recostada em meus travesseiros.
- Minha mãe costuma dizer que o corpo padece as doenças da alma. Eu demorei muito a entender o que ela dizia com essas palavras. Até um dia que um gato que eu amava muito aparecera morto na porta do meu quarto. Eu fiquei muito triste. Chorei uma tarde e noite, sem cessar. No dia seguinte eu estava com febre, e assim como você, vomitava sem parar. Mamãe e Lia, nossa cozinheira, assim como Bete, se desdobravam em cuidados, mas nada parecia curar a minha doença. Quando inteiraram cinco dias do tormento, mamãe já também bastante abatida por ficar sempre ao meu lado, delicadamente veio me perguntar o que estava realmente sentindo. Eu repeti todos os meus sintomas e a vi negando com a cabeça. Aquilo me deixou muito irritada, ora, eu realmente estava sentindo aquilo tudo. Na minha mente de quinze anos minha mãe estava sendo indelicada comigo ao agir daquela forma. Foi então que ela explicou.
"Anna, há quase uma semana Neve morreu de uma forma trágica. Sei o quanto você o amava. As vezes chorar não é o suficiente para expurgar todas as nossas angustias, então o corpo reage como pode. Você não quis conversar com ninguém desde que vira seu gatinho morto a porta do seu quarto. Logo você percebeu que ele fora envenenado, e isso te machucou ainda mais. Mas ao contrário de dividir esse peso com alguém, você o engoliu e se fechou. Agora seu corpo quer por para fora de qualquer maneira, já que é algo que lhe faz mal, lhe envenena também. Pense sobre isso, reflita. E apenas quando estiver pronta fale sobre isso. Não precisa nem ser comigo, mas fale com alguém. E por favor, não demore muito a resolver isso. Você está realmente ficando fraca."
- Ela então se afastou de mim, e já ia saindo, quando um choro compulsivo me acometeu e eu mal podia respirar. Mamãe me abraçou apertado e disse que tudo ficaria bem em breve. E que se fosse do meu desejo poderíamos tentar descobrir quem fizera algo tão covarde com um bicho indefeso e já envelhecido. Eu acenei com a cabeça que não, não queria mais remexer naquela história obscura. Eu não disse uma palavra, mas chorar daquela forma nos braços de minha mãe realmente fizera com que eu colocasse tudo para fora. No dia seguinte eu estava bem melhor, e em dois dias já estava perfeitamente recuperada. – Anna parecia ter terminado seu relato. Olhou para mim com um sorriso leve no rosto. Meu coração acelerou.
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As Linhas que Escrevi
RomanceTudo que eu queria da vida era escrever meus livros e me tornar uma mulher culta, como poucas podiam. Até que conheci João. Um homem maravilhoso, por quem me apaixonei no primeiro instante que vi. Porém, ele tinha um problema, era casa, com Larissa...