No outro dia, quando sentei na mesa de jantar a primeira coisa que entrou em foco foi a enorme travessa de estrogonofe, então percebi o quanto eu estava com fome. Me servi e comecei a comer feito uma condenada.
-Está gostando? -reconheci a voz de Matheus.
Um breve tremor passou pelo meu corpo, minha pele arrepiou e meu rosto queimou. Estava ficando nervosa. Queria muito olhar para ele, mas eu não iria ceder.
A fome já não me assolava mais. Porém, não tirei os olhos de meu prato.
Sentia o peso dos seus olhos sobre mim. Sei que percebeu que eu estava corando.
Não queria que ele me olhasse assim.
Mentira, eu queria sim. Mas o simples fato de eu querer, não significava que ele devesse olhar.
-Matheus, preciso falar com você. -ouvi o senhor Newton chama-lo.
Levantei meus olhos a tempo de vê-lo se levantando e indo falar com o professor. Era a minha chance.
Lavei as mãos rapidamente e quando estava saindo do banheiro, os sussurros quase gritados do velho Newton chamaram minha atenção. Ele estava discutindo com alguém, eu até teria saído e ignorado, mas a voz de Matheus me fez parar.
-Eu sei. -ele falou.
-Pois não parece! -falou o professor. -Matheus, eu te confiei a minha sobrinha. Christina é inocente e não merece isso!
Não merece o que? Christina sobrinha do Newton?
Ouvi Matheus rir ironicamente.
-Se tem algo que sua sobrinha não é, é inocente! -falou.
-Seu cretino! Você à violou! -a voz do diretor se alterou.
-Nunca toquei nela. -Matheus se defendeu.
-O que está insinuando?
-Não estou insinuando. Eu à vi. Em uma porcaria de uma van pouco mais de um ano atrás! -exaltou-se Matheus.
Christina em uma van?
Eu sabia que era errado escutar atrás da porta, mas a conversa me interessou.
-Isso foi antes... Ela nunca te traiu. Porem você, na primeira oportunidade se tranca em um quarto com outra!
Tapei a minha boca para não gritar. Matheus realmente fez isso, e depois ainda teve a cara de pau de vir falar comigo?! Que tipo de cara era aquele? E que tipo de garota se apaixona por esse cara? Eu.
-Não fale assim dela. Eu a conheço perfeitamente para saber que se em toda essa história há uma inocência é a dela! -protestou Matheus.
Eu não queria mais ouvir. Para meu próprio bem eu precisava sair dali. Quando olhei para frente. No fim do comprido corredor tinha uma porta aberta, ela dava para fora do prédio.
Tirei meus chinelos, pois a umidade da grama os tornavam perigosamente resvaladios.
Meus pés logo se acostumaram ao contato com o gelado do sereno. A lua cheia beijava meu rosto com sua luz pálida. O lugar estava escuro e silencioso. Para algumas pessoas até de mais. O vento calmo que passeava por ali balançava as copas dos enormes eucaliptos e pinheiros. Fantasmagórico, eu diria. Mas ao contrario da maioria das pessoas normais, desde muito pequena eu sempre levei esse tipo de coisa com normalidade. Não que eu acredite em fantasmas, mas sei que se caso existissem e estivessem próximos a mim, não lhes seria permitido fazer-me mal algum.
O lugar era bonitinho. Tinha seu charme pessoal, dava pra ver o reflexo das poucas nuvens que emergiam no céu sobre o vasto 'tapete' formado pela grama verde e bem aparada.
Não me interprete mal, eu nunca fui uma dessas "abraçadoras de árvores", mas ainda assim, eu sabia admitir quando algo era realmente bonito.
Um dos meus inúmeros defeitos fatais era que o desconhecido me atraia, uma atração bastante perigosa.
Sim. Eu tinha uma grande parte lógica no meu cérebro, mas ela só funcionava na hora errada e com a pessoa errada. Fora o fato de que ela era tão patética, que se escondia toda vez que qualquer outro sentido ameaçasse se manifestar.
Alguma vez alguém disse que o ser humano é um animal curioso. Não sei esse fulaninho aí, mas eu não era um bicho. Porem era inegável que sempre fui curiosa.
Mesmo à alguns metros de distância eu consegui identificar uma construção de pedra, à julgar pelo barulho de água era uma fonte.
Sentei-me em sua borda de pedra. Observei os traços angelicais do cupido de fraldinha no alto de um pedestal. Da ponta de sua flecha jorrava água. Era a coisinha mais fofinha que eu já tinha visto.
Eu sei que posso parecer bem estranha, mas estar ali me parecia tão bom, tão certo, tão familiar. Eu sabia que nenhuma pessoa normal iria a um lugar assim de noite, apenas eu e...
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Cadê Suas Asas, Anjo?
Lãng mạnGabriela Arenas, teve sua infância roubada quando a mãe à abandonara. O pai, grande empresário, sempre preocupado com os negócios não lhe dava a devida atenção, causando-lhe traumas irreparáveis. Com 15 anos, Gabi se vê mais perdida do que nunca po...