FINAL - YURI MARTEL - PARTE 02

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No quarto dia de festa, logo cedo, recebemos a pior de todas as notícias que eu poderia ter recebido em 11 meses de montanha. O corpo da pequena Cora chegou na montanha, dentro de um pequeno caixão branco, em uma charrete grande, puxada a boi, lotada de flores. O Cael pediu a todos os moradores que formassem um corredor de gente e, por aonde ela passasse, flores fossem jogadas aos seus pés. Um touro forte, robusto, levava a carroagenzinha, em cima o Cael, inconsolável. Tão inconsolável que eu o deixei fazer todo o trajeto sozinho junto a mãe. Aquele dia mal nos falamos por ele estar em luto. Chovia bem fraquinho naquela tardezinha fria. Eu acompanhei a todos abraçados a Yara que também estava muito emocionada, ainda mais estando grávida.

- Cael vai precisa de muito apoio Yuri – disse ela enquanto meu amor colocava o pequeno caixão dentro de uma vala, embaixo a uma árvore linda que ficava a beira da represa.

Um coro de vozes cantavam "Segura na mão de Deus!".

- Será um presságio? – perguntei no ouvido da Yara.

- Do que está falando?

- Amanhã é meu aniversário, digo, daqui algumas horas. Amanhã será o último dia de festas e de Poti.

- Não pense assim. Pense em vocês e tudo o que será daqui para frente. Hoje será o começo de tudo.

Ficamos embaixo da árvore até todos irem embora. Cael mandou os argentinos levarem a mãe da Cora até a cidade.

- Eu tinha uma ligação tão forte com essa garotinha. Eu sabia que ela ia embora, mas logo hoje? Eu fiquei tão cego pela festa que não pude dar ela 01 minuto da nossa festa.

- Ela recebeu a melhor de todas as festas, você deu a ela suas últimas alegrias. Olhe o que fizestes há uma semana?

- e mesmo assim não pude dar o meu último adeus. Ela era tão pequena, tão frágil, tão cheia de vida!

- Voce deu a ela o que ninguém pode dar... seja grato por isso. Viva isso e seja o que a Cora te tornou.

Ele ficou sentado por mais uma meia hora em cima do monte de terra que significava um túmulo.

- Está na hora de irmos. Está na hora de sermos o que nós criamos.

- Vamos ficar em casa, meu amor!

- Terá um tempo que chorarei pela Cora, mas não hoje. Ela me deu mais forças para continuar - disse ele mostrando o antebraço completamente roxo. Roxo pelas montarias.

Nos aprontamos e logo fomos para arena lotada. Já não conseguíamos entrar pela porta da frente, com tanta gente na cidade. O Cael pediu durante as orações, 01 minuto de silêncio pela garotinha que tanto nos encheu de alegria e nos encorajou a tomar uma vida diferente. E mais uma vez o Cael fora campeão da noite, na soma de pontos, o Cael já era imbatível, consagrando assim, o Campeão Nacional de Rodeios de 2016. A próxima noite, seria apenas uma montaria simbólica para entrega do prêmio. Chegamos na montanha já passavam das 08 da manhã. Paramos a lancha na beirada da represa.

- Vamos pular? – perguntei apontando a represa com a cabeça.

- Jura?

- É meu aniversário! – disse fazendo-o rir.

Arrancamos nossa roupa, ficando apenas de cueca e pulamos na água cristalina e gelada.

- Ah filha da puta, vai tomar no seu cu, vai se foder! Que friaaaaaaaaaa!

Eu sentia a mesma coisa, mas aquela água gelala me trazia muito mais que xingamentos, meus músculos agradeciam pelo momento.

- 36 anos Yuri Martel e já sabe o que quer de presente? – perguntou ele cuspindo água na minha cara.

YURI MARTELWhere stories live. Discover now