Capítulo 1: Locked

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Meus olhos pareciam dormentes, assim como todo o meu corpo, mas eu não me sentia propriamente mal. Era um estado confuso. Forcei minhas pálpebras e elas finalmente se abriram, fazendo minhas pupilas absorverem luz demais. Não é como se tivesse me machucando, mas aquilo doeu um pouco e demorou para que meus olhos se acostumassem.

Inspirei profundamente e senti falta de algo, como se respirar fosse meramente uma ação automática e não uma necessidade. O silêncio se perdurou e me apoiei no colchão confortável com as mãos, explorando o local com o olhar. Uma leve névoa parecia estar presente no quarto que aparentava ser de um hospital e o ar frio fez uma sensação estranha percorrer meu corpo, a porta estava aberta e de onde eu estava, ninguém podia ser visto. Sentei-me na cama e vi que eu estava vestido com uma calça jeans, All Stars, e uma camiseta branca comum. Estranho. Ignorando isso, desci da cama e caminhei procurando por ajuda ou qualquer informação.

Antes que eu chegasse na porta, pessoas passaram às pressas no corredor com uma daquelas camas de hospitais que podem ser levadas deslizando pelo chão, todos estavam com roupas azuis e brancas, parecendo realmente preocupados. Decidi que não atrapalharia o trabalho deles e que procuraria alguma enfermeira ou qualquer pessoa que pudesse me ajudar. 

Enquanto procurava por alguém, forcei minha mente a se lembrar de como vim parar aqui e cheguei à conclusão de que nem mesmo sei quem sou. Sem nome, família ou qualquer ponto de referência.

— Até amanhã, Andy, se comporte! — uma voz feminina atraiu meu olhar, fazendo-me esquecer por um momento que não me lembro de minha identidade.

— Oh, meu Deus. Que bom que encontrei alguém! —digo, caminhando com passos apressados até a mulher com uma prancheta. - Eu preciso de ajuda, você sabe o porquê de eu estar aqui? - pergunto e ela mantém seus olhos na prancheta, anotando algo nela.

— Pobre, Andy. Ele está piorando. — sua voz soa finalmente e franzo o cenho, confuso por ela ter ignorado minha pergunta.

— Sinto muito por isso, mas você pode me aju... — não termino pois minha frase morre no caminho assim que vejo a enfermeira virar as costas para mim, andando para a direção contrária a minha. - Ei! Por que está me ignorando? - indaguei mais alto, seguindo-a pelo corredor.

Agora mais pessoas podiam ser vistas e ouvidas por mim, passando através do corredor e se direcionando para quartos ou salas, nenhuma parecia me notar. Estranho mais uma vez.

A enfermeira que me ignorou parou em um balcão e começou a conversar com outra moça, passando informações e a prancheta para ela. Eu realmente não conseguia entender o porquê de essa mulher estar me ignorando, será que a maltratei em algum momento?

Avistei uma médica caminhando calmamente pelo corredor e desisti de ter alguma resposta da enfermeira, correndo para alcançar a doutora.

— Oi, desculpe incomodar, mas você poderia me ajudar? — digo assim que me aproximo, usando o máximo de gentileza que consigo, porém, sou surpreendido pelo o que acontece.

Ela continuou andando e nem sequer olhou em minha direção, na verdade, a médica parecia não ter me ouvido, como se eu fosse um fantasma. Confuso demais para pensar em algo racional, olhei ao meu redor e vi que todos estavam seguindo seus caminhos e ninguém me notava. Tentei passar na frente das pessoas, mas elas nem hesitavam em continuar andando. Ninguém olhou diretamente para mim.

— Alguém pode me ouvir? Por que todo mundo está agindo como se eu não existisse? — pergunto alto o suficiente para todos que estão ao meu redor possam ouvir, mas ninguém pareceu notar novamente. - Mas... — pisquei várias vezes, começando a entrar em desespero. - Por que ninguém me responde?

only souls | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora