O verde dos olhos daquele garoto parecia opaco e sua pele estava pálida, apesar dos lábios e olhos estarem vermelhos, não era um vermelho vivo mas... morto. Ele parecia sem rumo quando eu o encontrei em uma de minhas tediosas voltas pelo hospital, eu realmente não imaginava que ele pudesse me ouvir.
Pensar alto já era um costume para mim, não é como se alguém fosse me ouvir e me chamar de louco por falar sozinho, então quando o vi jogado no chão chorando eu tive que fazer aquele comentário, esperando ser ignorado pela quinquagésima vez - no dia, mas isso não aconteceu. Ele simplesmente levantou o olhar em minha direção e falou comigo.
Por algum tempo, pensei que ele fosse algum tipo de médium que pudesse falar com pessoas que estão na minha situação, mas depois que ele confirmou que ninguém podia ouvi-lo também, minhas esperanças de um dia ser libertado foram por água abaixo.
— Não tem como sair? — ele repetiu minha frase com tom de pergunta, encarando-me com tristeza.
— Você nem se lembra de quem é, não é como se fosse sentir falta de muita coisa. — respondi enquanto espalmava minhas mãos no chão e me deixava inclinado sobre elas, não suportando o drama.
— Mas eu não quero ficar trancado aqui. — ele disse baixo, quase choramingando. — Eu quero poder falar com as pessoas.
— Você pode falar com elas. — encolhi os ombros, preparando-me para ser maldoso e vendo ele olhar para mim com olhos esperançosos. — Mas ser respondido já é outra história.
Então seus olhos se umedeceram e ele voltou a chorar, revirei meus globos oculares e olhei entediado para a recepção do hospital. Não que eu realmente quisesse que alguém viesse me visitar, mas procurei por algum familiar. Não deve ser muito legal ficar falando com alguém que nunca te responde, apesar de eu fazer isso, e suponho que também não seja agradável ver seu filho na minha situação. Mamãe e Lottie, uma de minhas irmãs, são as que mais me visitam, mas elas não aparecem faz uma semana e isso tem começado a me preocupar.
Bufei com o pensamento de ser esquecido e olhei o garoto que agora soluçava baixinho. Estou há tanto tempo aqui que nem sei como é sentir falta de estar lá, ele pode não se lembrar mas deve ser horrível acordar e ver que não pode ser visto ou ouvido.
— Vamos lá... Pare de chorar. — digo, aproximando-me dele e tocando seu braço para chamar sua atenção. — Meu nome é Louis e eu vou te chamar de Curly até você se lembrar do seu, tudo bem?
Não sei exatamente porque estou usando um tom amigável com ele, mas tenho a impressão de que é porque não quero que a única "pessoa" que pode me ouvir chore o tempo todo. Isso seria realmente irritante.
— Curly? — ele disse confuso e perdi tempo demais observando como sua boca se movia para pronunciar a palavra.
— Você tem esse cabelo todo... — fiz um gesto exagerado com as mãos para indicar o cabelo cacheado e bagunçado dele e ele sorriu minimamente, ele ainda estava triste mas isso já é um começo.
(...)
— Então... Como veio parar aqui? — a voz do garoto soou depois de longos minutos em silêncio, ambos estávamos encostados na parede que antes só ele estava.
— Longa história. — digo apenas, não querendo contar esse detalhe da minha vida.
Senti seu olhar sobre mim e mantive minha postura de não-quero-falar-sobre-isso, e ele pareceu entender ao ficar quieto.
— O que somos? — tornou a questionar e dessa vez o olhei, não deixando de notar o quão carente de respostas ele estava.
— Você... Eu não sei. — disse de forma sincera. — Eu estou aqui porque meu corpo está em coma, então minha alma está presa aqui até eu acordar do coma.
Ele abriu os olhos e me encarou com uma expressão de... Pena? Não, eu realmente não preciso disso.
— Coma? — repetiu com um tom baixo e assenti com a cabeça, desviando meu olhar do seu.
— Relaxa, eu estou bem. — garanti um pouco descontraído, batendo meus pés num ritmo qualquer.
O garoto de cabelo cacheado volta a ficar em silêncio e eu volto a observar as pessoas que passavam por nós sem ter a menor noção de que estamos ali. Eu sabia que ele estava se questionando sobre alguma coisa mas eu não tinha certeza do quê, então apenas continuei quieto no meu lugar.
Grace, a enfermeira que está sempre indo no quarto de meu corpo, passou por nós despreocupada e ela olhou diretamente para o garoto ao meu lado, e este estava perdido demais em seus pensamentos para perceber, fazendo-me mais uma vez suspeitar que ela podia me ver. Mas, de novo, minha esperança se foi quando ela desviou como se nada tivesse visto.
— Eu também estou em coma? — a voz grave daquele rapaz soou, e encolhi os ombros.
— Pode estar morto também. — digo naturalmente e o garoto arregala os olhos, num sinal de desconforto extremo com a ideia de já não estar entre os vivos.
— Morto? Tipo... Ser enterrado à sete palmos e tudo isso? — questionou, desencostando-se da parede e se pondo de joelhos ao meu lado.
— É, quando você morre sua alma pode ficar presa aqui por um tempo. — explico, mas a real é que estou me baseando em filmes que assisti, eu nem sei se isso acontece de verdade.
— Mas... — ele murmura com uma expressão vaga e perdida.
— Bom, na verdade, eu não sei. Pode ser que sim, nunca se sabe quando uma alma fica presa no segundo plano da terra. — respondo com o tom ideal para ele notar que eu estava apenas brincando.
Ele suspira e deixa seu corpo cair ao meu lado novamente, mordendo o interior de sua bochecha em sinal de nervosismo. O garoto parecia sem rumo e até amedrontado.
— Ah, qual é, Curly? Não é tão ruim ficar aqui. — digo, levantando-me e fazendo um sinal para ele fazer o mesmo. — Vou te mostrar uma coisa.
Caminhei em direção à recepção onde era o lugar no qual o número de pessoas era maior, eu tinha um plano de mostrar como me divirto quando estou entediado. Acho que Curly vai gostar... Ou me achar um total psicopata. De qualquer forma, vou fazê-lo se sentir melhor.
— O que você vai fazer? — aqueles olhos verdes opacos me encararam com seriedade e apenas sorri, puxando meu cabelo para cima e apontando logo depois para Carmen, uma recepcionista do hospital.
— Se prepare para o show, Curly. — brinquei, antes de começar a fazer aquilo que tinha em mente.
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OIOI, PESSOINHAS!
Como vocês estão, amores?
Gostaram do capítulo de hoje? Espero que sim :)
Eu estou indo bem devagar com as coisas que estão acontecendo... Querem capítulos mais longos ou posso continuar assim?
Comentem o que estão achando, eu vou postar até o capítulo 10 com certeza... Dependendo de como estiver as opiniões ou views (pq isso aqui tá flop) eu vou apagar ou continuar ;)
Até mais 🌈❤️
Danone
PS: não esqueçam de votar, comentar e compartilhar com as amizades. Amo vocês ❤️.
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only souls | l.s
Hayran KurguNão saberemos com clareza o que acontecerá após nossa morte até que esse momento chegue. Muitos crêem que existe um lugar bonito para se ir se você foi uma boa pessoa em vida, assim como também existe um lugar nada belo para quem não o foi. Alguns a...