Eu não sei o que Louis tinha em mente mas, a julgar por seu sorriso maldoso, ele pretendia fazer alguma maldade com aquela recepcionista. Ele disse que tínhamos que esperar pelo momento perfeito para fazermos alguma coisa, então, somente fiquei ao lado dele e aguardei por qualquer que fosse o próximo passo desse rapaz.
— As pessoas sempre perguntam para ela onde são os quartos dos pacientes. — Louis explicou em um tom normal, não era necessário nos escondermos ou falarmos baixo.
— E?
— Você parece um pouco impaciente, Curly, vamos com calma... Eu estou tentando mostrar como as coisas podem ser legais aqui, ok? — ele usou uma expressão de ofendido e apenas levantei as mãos em rendição.
— Tudo bem, desculpe. — pedi automaticamente.
— Certo, não precisava se desculpar. — ele balançou a cabeça e voltou a se concentrar na mulher que folheava um tipo de caderno, ela parecia procurar por um nome.
— Ah, sim, aqui. — sua voz soou e ela se virou para chamar uma outra recepcionista.
Nesse momento, Louis levantou sua mão e fez um pequeno movimento, como se estivesse acenando de forma estranha. Eu até questionaria o porquê disso se não tivesse visto o que aconteceu depois: as folhas do caderno começaram a se virar sozinhas, do mesmo jeito que fariam se um vento forte estivesse passando por elas. Mas isso não estava acontecendo, pois não havia uma única corrente de ar na sala.
— Como fez isso? — perguntei no mesmo segundo em que a mulher voltava com a outra, ficando confusa por achar seu caderno sendo folheado sozinho e então Louis fechou a mão em punho, fazendo as folhas pararem de se mexerem.
— Eu não tenho a menor ideia. — disse ele enquanto ria das mulheres, que agora estavam pálidas. — Mas isso é bem pouco perto do que posso fazer.
— Como assim?
— Ah, eu faço muitas coisas por aqui... É muito entediante ficar sem fazer nada o dia todo. — completou depois de fazer uma pausa. — Geralmente, fico na sala de descanso dos médicos, fico mudando os copos de lugar ou até mesmo as cadeiras... — Louis deu um sorriso e então, virou-se para mim e começou a caminhar no sentido contrário ao das recepcionistas.
Fiquei sem saber o que fazer por um tempo, mas então resolvi seguir o rapaz para fazer mais perguntas.
— Como descobriu que podia fazer isso? — pergunto enquanto caminho para alcançá-lo. — E por que você faz isso?
— Acho que sou o que chamariam de "poltergeist" na televisão, a única diferença é que ainda estou vivo. — pontua as aspas e encolhe os ombros. — Descobri isso um pouco depois que estava desse lado, eu estava com raiva e acabei jogando tudo o que estava ao redor contra as paredes. Foi insano!
Louis tinha um tom tão animado ao contar isso que ele parecia reviver esse momento em sua mente todos os dias, como um marco de melhor dia de todos.
— Eu posso fazer isso também? — Louis olhou para mim e logo abriu a expressão.
— Não sei... Eu demorei muito para aprimorar minhas habilidades. — um sorriso dançava em seu rosto. — O que acha de tentar?
— Para sermos poltergeists juntos? — pisquei devagar e logo sorri, acho que pela primeira vez desde que havia acordado.
— Para sermos poltergeists juntos. — disse Louis, concordando comigo.
(...)
Nunca imaginei que Louis fosse ser tão paciente, mesmo ao ter um péssimo aluno como eu. Cada dica que ele me dá com gentileza faz com que eu fique um tanto quanto impressionado com sua delicadeza, ele não parecia ser desse jeito quando o conheci.
— Eu desisto... — digo finalmente, olhando para as páginas do livro que permaneciam paradas enquanto eu recolhia minha mão. — Eu nunca vou conseguir fazer isso.
— Mas... — Louis pareceu decepcionado com minha desistência. — Talvez você não tenha energia suficiente para fazer isso.
— Como assim? — tornei a indagar e ele suspirou.
— Quando eu surtei de raiva e joguei o que estava ao meu redor para os lados, eu fiquei cansado e cheguei a "dormir" por alguns dias... — ele pontua as aspas. — Só recobrei minha consciência uns três dias depois. Como você acabou de chegar, eu imagino que ainda seja fraco para fazer as coisas que eu faça.
— Ah... Talvez seja isso. — disse um tanto decepcionado.
Não que eu quisesse realmente fazer isso, mas senti como se "ser fraco" não fosse algo que eu estivesse acostumado a ser. Talvez um traço de minha personalidade se manifestando. Olho para Louis e sorrio ao que isso chega em minha mente, o rapaz parece não entender e por isso começo a falar.
— Eu acho que não sou acostumado a ser fraco. — digo com certa felicidade. — Acho que isso é parte da minha personalidade...
— Claro que não é acostumado a ser fraco, já viu o tamanho dos seus bíceps? — questionou o de olhos azuis para mim, fazendo-me olhar em direção aos meus braços.
Ambos eram tatuados, um mais que o outro, mas eram fortes. Continuo me analisando por um tempo e então arrasto uma mecha de meu cabelo para trás, olhando para Louis ao que dava de ombros.
— Aliás... Você já viu seu corpo? — o rapaz questionou depois de alguns minutos que estávamos em silêncio. — Tipo... Quando acordou, você estava perto de seu corpo?
— Ahn... Não me lembro disso. — a verdade é que tudo o que aconteceu nos meus primeiros minutos de fantasma pareciam um mero vislumbre, como se fosse um passado muito distante. — É confuso...
— Esse lugar pode te deixar louco com a questão do tempo... — disse Louis. — O que acha de procurarmos seu corpo?
— Essa conversa ficou mórbida do nada. — digo com um pouco de humor na voz. — Mas acho que seria bom para mim... Principalmente se ajudar a entender quem eu sou.
— Vai ajudar, sim. — ele fala para mim, mais como incentivo, parecendo saber de algo que eu não sabia.
— Por onde começamos? — pergunto alguns segundos depois.
— Acho que pelo último lugar. — Louis diz de forma meio enigmática, fazendo-me ficar um pouco confuso.
— Pelo último lugar? — a confusão era clara em minha voz.
— Pelo necrotério, lerdo. — Louis fala por fim, fazendo um frio percorrer minha espinha.
• • • • •
OIOIII, TERRÁQUEOS!
Espero que estejam gostando da história, porque eu amo esse plot.
Essa fic vai ser longa, mas vai ser do tipo que não vai ter uma sequência, diferente das minhas outras fanfics.
Bom... Me contem o que estão achando!
- daNONE
PS: não esqueçam de votar, comentar e compartilhar com as amizades. Amo vocês ❤️
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only souls | l.s
FanficNão saberemos com clareza o que acontecerá após nossa morte até que esse momento chegue. Muitos crêem que existe um lugar bonito para se ir se você foi uma boa pessoa em vida, assim como também existe um lugar nada belo para quem não o foi. Alguns a...