Cap 04 DoubleKO

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  - Abel, vá para base, já disse que posso cuidar disso.
  - Até parece, eu, você, até esse moleque sabe o que vai acontecer, sem contar, que ele é tão cabeça dura, que não dou cinco minutos para ele começar a correr. - A ideia pareceu bem encantadora na visão de Jonathan.
  - Afinal de contas, o que querem de mim? - Finalmente disse, juntando toda sua força, pois a dor que sentia ainda o mastigava. - Não sei o que vocês são, não sei... não sei nada, o que diabos esta acontecendo aqui?! Por que me escondem tudo?! - A sua dor misturada com fúria fez as lagrimas cessarem e seus olhos incendiarem de ódio.
  - Garoto, venha comigo, eu vou lhe explicar o que não sabes, vou lhe mostrar o verdadeiro mundo, o milagre da vida.
  - NÃO ACREDITO EM VOCÊ. - Jonathan começou a correr...para onde?...Não tinha onde ir...mas por que corria? Atravessou a porta e saiu em disparada aos trancos e barrancos, tropeçando nas pedras, então seus olhos marejaram de novo, lembrou de sua infância, de seu único pai, ou o mais perto de um pai que ele já teve. Wallace era tudo para ele, agora não lhe restava nada, nem sequer queria entender o porque, estava cansado, "melhor mesmo era a morte!" pensava, "Noah...", lembrou do amigo, então veio a imagem de Selena, tão nova e tão bela, com uma morte tão terrível, sentiu tanta dor, tanta raiva, "por que? Deus, por que? O que eu fiz?", ele se sentia tão só, que nem Deus ele achou que o ampararia, "AI!", sentiu uma picada no ombro, mas não deu bola, ele nem sequer olhou para trás, então na frente, viu duas menininhas brincando de pular corda, duas meninas pequenas, parecia ter uns 5 anos, com vestidinhos verdes, cabelos longos e dourados, com sandálias um tanto esquisitas, delas saiam pequenas asas roxas, mas nunca as tinha visto antes, e nem tinha saído de Hexham ainda, era impossível ter duas garotas sozinhas brincando, então ele escutou um cantarolar
                                         Um homem estranho bateu na minha porta e eu abri...
                                             Senhoras e senhores, ponham a mão no chão...
  Tudo aquilo era estranho, aquelas garotinhas, cantando, depois da cena que ele tinha visto, pessoas morrendo, sangue jorrando, a possibilidade de crianças cantando alegremente era ridículo, então foi chegando mais perto e a musica aumentava...
                                                    Senhoras e senhores, pulem de um pé só
                                                         Senhoras e senhores, dêem uma rodadinha
  Jonathan nem sequer notou que parará de correr... estava parado, olhando as garotas, elas era gêmeas, duas menininhas gêmeas, e quão belas eram, de olhos azuis. Elas brincavam sorridentes, sem nem notar no rapaz que ali estava, como bobo. "AI!", uma das garotas gritaram, ela tropeçou na hora de pular e meteu a cara no chão, seu nariz começou a sangrar. Jonathan no reflexo nem sequer pensou, correu até a garota,
  - Você esta bem? Machucou muito? Tome.-Rasgou um pedaço da manga de sua túnica, e pressionou contra o nariz da garota que estava sangrando.-Segure firme e não solte...isso, levante a cabeça, assim...-Então veio a dor e em seguida o berro "HÁAA!". A outra garota que estava em pé ao lado dos dois, tirou uma faca debaixo do vestido que ia até as canelas e enterrou-a nas costas de Jonathan, acertando em cheio o pulmão, a faca que mais parecia uma adaga de prata saiu espirrando sangue.-Como...? Po-por-por...que?– Jonathan sentiu seu peito contrair, sua respiração forçar a parar, era como se uma bexiga estourasse em seu tórax, de novo as dores recomeçara, logo agora que estava tão relaxado, tão sereno... sua vista embaralhou, sua cabeça doía, não conseguia espirar...desmaiou, antes de apagar, ele viu uma sombra correndo em sua direção...
  Vou narrar a vocês o que aconteceu, quando Jonathan desmaiou. Abel e Christopher apareceram, as jovenzinhas ao verem Abel, gritaram e correram, Abel pensou em ir atrás, mas Christopher disse que Jonathan era a prioridade. Abel colocou o rapaz sobre seu ombro, mesmo jovem era forte, então correu carregando o rapaz até uma moto, aparentemente o mesmo veículo que os levaram até ali, ele jogou Jonathan na garupa, mantendo a zona do corte para cima, desmaiado, não podia ficar sentado, nem esperou Christopher, acelerou deu meia volta rasgou o asfalto.
  Ao chegar próximo ao casarão, bem longe do centro, onde ficam mais mata e floresta, Abel parou a moto, aparentemente era uma moto de corrida, pois velocidade não faltava, as ruas desertas também facilitou muito, já que toda a cidade estava morta na igreja de Wallace.
  - SOCORRO, SOCRRO, ANDE ALGUÉM, O IDIOTA ESTA COM UM FERIMENTO GRAVE, VAMOS, MARK É PARA HOJE, OU ELE MORRE.-corria e gritava em direção do casarão, de vista parecia estar há tempos abandonado, desestruturado, apesar do teto ser a única coisa bem tratada, "BUM" um baque soou, a porta fora escancarada, dela saiu um homem negro alto com aquele típico corte de cabelo afro, cheio de dread, bem forte, com peito definido, sua regata branca ficava bem justa ao seu corpo, não tardou a ajudar Abel, logo ajudou ele a carregar o garoto para dentro, o casarão que por fora era um barraco, por dentro era maravilhoso, tudo no seu lugar com mobílias limpas e novas, era como se aquela fachada não existisse. Jonathan que ainda não dera sinal de vida,foi levado por Mark e Abel até os fundos, onde tinha um pequeno hospital, ou algo improvisado que deveria se parecer com um, ele foi jogado em uma cama, logo em seguida, Mark saiu. Voltou 2 minutos depois com mais duas pessoas, um rapaz e uma mulher, Abel não saiu de perto de Jonathan, como eles o depositaram em uma sala (o hospital improvisado tinha 3 salas) um espelho mágico dava visão dos ocorridos da sala para o corredor de onde vieram, Noah e mais 2 pessoas estavam ali de pé fitando a cena, tudo foi muito rápido, as pessoas que ajudaram Mark, Lucas, um jovem rapaz, aparentava ter uns 20 anos, baixo com olhos fechados mas com uma expressão de súbita certeza de seus movimentos, a garota que era mais tímida, Megan, sentiu nojo deveras vezes, Mark e Lucas fizeram uma baita cirurgia no garoto que sofria de pneumotórax, ou seja, houve uma lesão causada pela faca, onde por sua vez foi aumentando gravemente o ar na pleura, caso não seja removido por cirurgia, o acidentado pode vir a morrer.
  Jonathan que depois de horas na cama de cirurgia, finalmente estabilizou sua respiração e pela primeira vez abriu os olhos, se viu num quarto branco e cheio de coisas de médico, então se sentiu bem, sentiu que caíra na rua, ou fora atropelado, mas que tudo aquilo fora apenas ilusão...quão errado ele estava.
  - O garoto precisa de um pulmão, mesmo que ele esteja recuperado, não será cem por cento do que era antes, se bobear nem cinqüenta, sem contar, que ele vai precisar do pulmão e muito lá na frente, todos nos sabemos.-Mark falava na sala de jantar com Abel e Christopher, o velho chegara a casa não fazia muito tempo, minutos depois de toda a cirurgia ter sido terminada.
  - Não sei se o senhor reparou Mark, mas estamos sem "peça de reposição" todos aqui precisamos de nossos pulmões, acha que não quero ajudar o garoto? Pensa que sou idiota? Mas não tem onde arrumar um pulmão agora, mesmo que tivesse, esta a horas de distância, até chegar aqui, pode ser que só piore, ele acabou de sobreviver e você já quer por ele em risco de novo! Onde esta seu juízo?-Christopher parecia irritado, mesmo sabendo que aquela era decisão sensata, não escondia sua frustração.
  - Ora, tem uma igreja cheia de "peças de reposição".- Disse Abel se recostando com as costas da cadeira, levantando as pernas dianteira.-Posso ir buscar agora mesmo e...
  - NUNCA!.-Berrou Christopher- Não vou rebaixar ao nível deles!
  - Eu só estou dizendo velho, que aquela garota estava lá, mesmo com a cara destruída vocês a viram não viram? Se eles podem usá-la por que nós não? Por uma causa maior, ainda por cima.
  Christopher não podia aceitar, mesmo Abel estando com a razão, ia contra todos seus conceitos de humanidade, rebaixar aquele nível, violar corpos, mas o que podia fazer?
  - Vá, mas não demore, leve o Noah, ele pode ajudar a achar ela.-Nem precisou esperar que ele mudasse de idéia, Abel saiu as pressas da sala em direção a saída, Noah que estava atrás da porta escutando, se aprumou logo para partir, levando o equipamento necessário, eles partiram.-Fico imaginando. Será que tomei a decisão certa?
  - Christopher, não se culpe, foi a decisão certa, eu e Lucas tomaremos o maior dos cuidados, não se preocupe.

O Demônio caminha sozinho Onde histórias criam vida. Descubra agora