Parte 2 - Amores

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 — Parada!

Passos aproximavam-se, urgentes. Os ouvidos da morena identificaram dois soldados.

Leta precisava pensar rápido. Enquanto aproximavam-se de Aline, tombada no chão, os soldados ainda não perceberam-na encobertada ali tão próxima, encoberta pela escuridão. De fato, a visão humana era limitada. Mesmo a noite a vampira enxergava tudo claramente. Algo no traje dos militares chamou sua atenção: desconheceu os uniformes similares das Forças Armadas, salvo a tonalidade escura e aquelas estranhas máscaras de oxigênio.

— É ela? — perguntou um deles, a voz nasalada pelo equipamento em seu rosto.

— Não – respondeu o outro, abaixando-se próximo a Aline, que gemia de dor, como se mil pregos em chamas transpassassem-na. Há tempos não era pega desprevenida. Da pior forma, teve certeza de que não se tratava de uma bala comum, pois a dor era lancinante. Sua consciência abandonava-a. Tinha de avisar Letal de uma guerra iminente entre os seres da noite e os humanos. Malditos humanos. Só serviam para ser alimento, nada mais. Letal era uma das pacifistas. Conseguira junto a outros iguais um acordo entre humanos e vampiros nas cidades brasileiras. Contrato esse que a ruiva tinha certeza que nunca daria certo. Descobrira uma brecha nesse esquema e precisava avisá-la. De fato, seus feitos a precediam. Em tão pouco tempo na vida noturna, a morena havia conquistado um município. Letal era mortífera em seus ataques e contava com leais servos para o sucesso de seus intentos. E mesmo assim não confiava em nenhum deles.

Sua glória talvez residisse nesse ponto.

Letal era capaz de instaurar ordem em Guarulhos. Ela era extraordinária. Aline acabou exagerando para ter de falar com ela, e estava pagando caro naquele momento. Dívida amarga.

As autoridades deveriam estar caindo em cima para que os vampiros fossem atacados tão de repente, assim como elas estavam naquele momento, ainda mais com aquele soldados diferentes. Não sabia quem eram aqueles caras e o porquê de atirarem nelas. Deveriam ser parte do esquema que estava para acontecer ali na cidade. O primeiro local a ser atacado. Todos os vampiros seriam eliminados em breve e Aline precisava avisar Letal, pois sabia que era a única que poderia fazer algo a respeito.

No entanto, a ruiva estava incapacitada. Seu corpo tremia e sangue vertia em profusão de seu abdômen. Não podia aceitar aquele destino ingrato. Ouvia os dois oficiais conversarem, mas suas vozes não passavam de ecos no escuro. A visão estava embaçada, como uma neblina em seus olhos.

Aline estava morrendo.

— Vamos levar essa — decidiu o soldado.

— Vamos — respondeu seu parceiro. — Ela pode nos dizer onde a outra... — Mal terminara a frase e o soldado teve a cabeça violentamente empurrada em uma árvore, tombando inconsciente. Seu parceiro, surpreendido com a investida repentina, também foi derrubado com um golpe rasteiro. Atabalhoado, perdeu os sentidos quando seu rosto foi empurrado violentamente numa pedra, sangue manchando o gramado mal tratado.

— Aqui, ruiva. Ele é seu – Letal passou o braço por trás de cabeça de Aline, erguendo-a. Apoiou o outro em suas costas, guiando-a para um dos militares. Reunindo suas últimas forças, Aline agarrou o corpo do soldado, dilacerando seu pescoço e sorvendo o líquido escarlate que a salvaria.

Letal viu Aline recobrar as forças. A ruiva estava determinada em drenar todo o sangue daquele maldito. Viu também que o ferimento dela estancara. O sangue era a sina e a salvação daquelas criaturas. Finalmente poderiam conversar. Letal precisava saber o que estava acontecendo.

E então, para sua surpresa, sentiu um impacto em seu corpo.

O barulho ecoou por todo o cemitério, espantando alguns morcegos que guincharam assustados e saíram em debandada.

Sangue, Amores e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora