O sargento balbuciava palavras ininteligíveis, tamanho era seu choque ao ver aquela mulher. A vampira, prestes a desfalecer, retomou a consciência ao encarar aqueles olhos castanho-escuros e arregalados. André não acreditava no que via. Nada daquilo era real, ele não conseguia acreditar. Sua inimiga, também surpresa, sorria, logo retomando uma expressão de dor. Letal estava muito ferida.
— Marisa?
— Esses...golpes foram fortes, hein? — falou Letal com a respiração entrecortada.
— Eu não sabia, Marisa. Eu...
— Não precisa se desculpar. Eu também não sabia que era você – Marisa tossiu.
André passou o braço delicadamente por trás da cabeça da vampira. Com o outro, por trás de suas pernas levantou-a. Ela gemeu de dor. Ele ainda não conseguia acreditar.
— Vou te levar pra um hospital. Você vai ficar bem – falou enquanto andava em direção a saída do túnel.
— Não é assim que eu me curo, André. Não mais.
A ficha só caiu naquele momento. Marisa, sua esposa há anos desaparecida estava ali, em seus braços, porém não mais humana como outrora. Um hospital comum não trataria dos ferimentos dela, bem como ele sabia.
André ainda tentava acalmar-se. Seu coração batia forte, mas ele sabia o que teria de fazer. A moral e compromisso com o Esquadrão e seu dever de salvá-la lutavam em seu coração. Os anos gélidos de solidão após o desaparecimento de sua amada esposa, toda a angústia, as campanhas infrutíferas com anúncios na internet, jornais e revistas, as noites em claro desvaneceram no momento em que a tomara nos braços. André buscara sua amada desaparecida em todos os lugares possíveis, todo aquele tempo, sem sucesso algum. Deitou-a delicadamente no chão. Tinha tantas perguntas e queria todas respondidas. E para isso precisava ajuda-la. Queria ela viva.
— Chefe, soldado Juliano na escuta . — O rádio comunicador de André falou com sua voz metálica, interrompendo-os.
— Prossiga, soldado — respondeu o sargento sem tirar os olhos de Marisa.
— Estou me aproximando de sua posição. Ouvi tiros. Qual a situação?
André não respondeu. Precisava agir rápido. Marisa ofegava, suando em bicas. As lâminas das armas brancas do Esquadrão, assim como as balas eram revestidas de prata pura, aliado a um ritual que abençoava o material. A prata era uma das poucas substâncias capaz de combater vampiros.
— André – falou Marisa. — Eu não podia voltar...
— Não fale, meu amor. Não fale. Teremos muito tempo pra isso.
Ele não a deixaria morrer, ela percebeu. Um sorriso fraco estampou seu rosto.
— O que eu preciso fazer? – Perguntou André , mas em seu ímtimo já sabendo da resposta.
...
Juliano consultou mais uma vez seu rastreador enquanto avançava. O sargento André encontrava-se a menos de 300 metros de distância. Ficara apreensivo quando ouvira os tiros. A localização do soldado Lucas permanecia estável. O ponto laranja indicava-o imóvel há algum tempo. Precisava verificar o que acontecera, mas como André respondera, seu nervosismo arrefeceu. O sargento era ainda mais duro quando o assunto eram os vampiros. Se é que isso é possível, pensou ele. Um líder nato, André era referência dentro do Esquadrão. Fora convidado pelo Agente Brites do exército, ao perceber ali um grande valor a ser lapidado. Estava com eles há alguns anos, após sua esposa ter desaparecido misteriosamente. Os feitos de André no exército, posteriormente no Esquadrão o precedia. Mesmo sendo um tanto rígido com sua equipe, era um homem justo, que os auxiliava com conselhos sobre proteger os mais fracos e defender os necessitados. Juliano acreditava que parte daquele status quo devia-se a perda de sua amada. André não falava muito a respeito, e os colegas respeitavam seu espaço.
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Sangue, Amores e Guerra
VampireConto dividido em 3 partes sobre criaturas que rondam ruas e cidades inteiras ao anoitecer. Nada é mais seguro. Na realidade nunca foi. O governo precisa fazer algo a respeito, pois o Brasil corre um perigo inimaginável. Ao anoitecer, carregue suas...