Caro, leitor
Escrevo de um vilarejo isolado no extremo norte da Itália. A cada dia a fadiga aumenta e já não sei mais como me comportar. As vezes me sinto tão só que lembro de todos os momentos que passei ao lado das pessoas que amava e que pretendia proteger até mesmo da morte.
Vamos, sente-se, apanhe um leite quente, pois a história é complexa e intrigante.
Estou fugindo e me escondendo para recuperar as forças de uma guerra que não parece ter fim, entre dois mundos que sempre viveram com uma certa simetria entre si, mas sem perceberem muito.
Enfim, depois de todo esse desespero, escrevo essa carta em uma espécie de esconderijo subterrâneo abaixo do vilarejo; onde é quente, rarefeito e insetos se multiplicam em meio a um cheiro não muito agradável. Mas, para chegar até aqui, andei muito chão.
Tudo começou quando eu tinha dezesseis anos. Era meu aniversário, 27 de Janeiro. Eu estava muito empolgado, juntamente com os meus pais. Era uma noite fria, estrelada e de lua cheia; o brilho de ambas era de encantar várias pessoas que caminhavam pelas ruas e se sentavam nas praças.
Morávamos em uma pequena vila, interior do Texas. Todo ano as pessoas da cidade se preparavam para uma passeata, para homenagear vítimas de um incêndio misterioso que ocorreu em uma fazenda antiga na cidade; coincidentemente, no dia do meu aniversário. Havia grupos religiosos por toda parte prestando apoio aos familiares das vítimas. Toda a multidão segurava cartazes e velas.
Eu e minha família morávamos em um bairro isolado, distante do centro do interior do Texas, e lá ninguém era muito ligado a religião, crenças espirituais ou aos eventos da data de hoje. Somente a minha avó, antes de... Bom, vou-lhe contar:
Eu devia ter doze anos na época que ela começou a me contar histórias sobrenaturais, mas não sobre fantasmas, monstros ou bruxas.
Eram coisas que ela dizia realmente existirem e que colocavam qualquer monstro ou bruxa no bolso. Eram demônios. Ela me contava como podia ver incríveis batalhas entre seres celestiais e os terríveis seres das trevas. Eu imaginava todas aquelas cenas que foram descritas por ela e meus olhos brilhavam de tanta empolgação. Ela falava-me de demônios de todos tipos, e eles não são tão mesquinhos e desocupados como dizem.
Na noite do meu aniversário, fomos visitar minha avó, e sua casa ficava a uns dez quilômetros de onde eu morava.
Meus pais me deixaram na porta e saíram para comprar o jantar; próximo da casa havia alguns restaurantes excelentes.
Minha avó Rebeca, logo me convidou para entrar:
--- Antony, meu neto, entre antes que esse frio lhe faça mal.
Todos estávamos bem agasalhados; mesmo dentro de casa, sentíamos bastante frio.
Minha avó estava me contando mais uma de suas histórias quando meus pais chegaram.
Diferente de minha mãe, meu pai nunca acreditou no sobrenatural e sempre ficava caçoando da fé das pessoas. Ele não provocava medo nas pessoas, até porque medo não existe, o que existe é fé. O "medo" é a junção do auge da nossa fé com uma pitada de adrenalina.
Ele zombava da fé das pessoas e sempre desprezava todo tipo de crença em algum ser além dos seres humanos. Após ouvir um trecho da conversa, ele disse, com um tom ácido e irônico:
--- Ei Antony, peça sua avó para chamar seus amiguinhos das trevas para que nós tenhamos uma conversa.
Minha mãe ficava muito abatida quando meu pai provocava a minha avó, e sempre intervia, dessa vez segurando ele pelo agasalho e implorando:
--- Ben, para com isso! Por favor!
Eu estava confuso com tudo aquilo. Já era tarde e ao olhar pela janela podia ver a lua sorrir para mim, ouvia latas batendo umas nas outras e cachorros latindo incessantemente.
Todo aquele barulho... Só parecia ser ouvido por mim.
Meu pai estava zangado e continuava a insultar a fé da minha avó.
--- Ben, seu grande idiota! Não vou permitir que brinque com minha fé! Saia já da minha casa!
Respondeu com grande brado Rebeca, minha avó.
Logo, os dois estavam frente a frente na porta de casa; toda aquela barulheira que só meus ouvidos podiam ouvir parou...
Minha avó e meu pai se feriam verbalmente e minha mãe chorava muito caminhando em direção ao carro, mas eu não conseguia ouvir nada, tudo estava silencioso, parecia que alguém havia apertado o botão do mudo.
Então, veio sobre mim uma forte dor de cabeça, agachei com as mãos no rosto, porém meu olhos podiam capitar vultos de um lado para o outro ao meu redor; senti uma ventania repentina, ouvi uma risada alta e o som de arranhões, como em um quadro de escola.
De repente, a árvore do quintal da minha avó, um Cedro, começou a balançar bravamente de um lado para o outro por causa do vento. Ela devia ter uns sete metros de altura. Era consideravelmente bem antiga, minha avó me contou que tinha sido plantada pelo meu bisavô.
Aquela árvore foi partida pelo vento.
Agonizante foi tentar acreditar e digerir a cena bem a minha frente.
Minha avó e meu pai, ambos esmagados por uma árvore que devia pesar um elefante. Ela foi derrubada misteriosamente por aquela simples ventania, o que não fazia sentido, pois ela não podia ser arrancada a menos que fosse cortada em suas raízes, pois, nem mesmo um furacão conseguiria arranca-lá tão facilmente. O que aconteceu?
Não acho que tenha acontecido algo normal naquele momento. Eu realmente gostaria de falar que tudo aquilo não passava de um acidente natural, mas um vento seguido de todas aquelas... Se é que eu posso dizer, "visões", não acontecem diariamente.
Os vizinhos saíram para fora assustados com o estrondo, logo a polícia estava ali, e os homens da lei insistiram em interrogar todos.
Como esperado, não conseguiram nada; arquivaram o caso como "acidente".
Meia volta, as horas passaram, mas dor dentro do peito continuava; faltava pouco para minha mãe arrancar os cabelos da cabeça.
Querendo ou não, a vida precisa continuar.
Depois que eu e minha mãe conseguimos ao menos raciocinar tudo aquilo, pensamos em enterrá-los no quintal.
Os vizinhos ajudaram a organizar o velório. Todos nós observávamos o dançar das chamas que queimavam ambos os corpos.
Lá estava eu, totalmente destruído psicologicamente. Havia acabado de completar 16 anos, e me encontrava recolhendo as cinzas de meu pai e minha avó, que era tão amada por mim, para jogar em um buraco quase qualquer. O pior de tudo era que eu nunca mais iria esquecer aquela cena monstruosa.
Esse episódio martelava em minha cabeça, eu não conseguia compreendê-lo.
Depois de toda aquela cena de terror e suspense, já de noite, me encontrava ajoelhado no quintal diante do buraco onde eles foram enterrados. A luz da lua fazia minhas lágrimas brilharem como cristais; mas, por que eu chorava?
Não porque meu pai era o melhor do mundo, mas porque iria sentir saudades da minha vó e pelo grande sofrimento de minha mãe.
Caído ali, em meio a uma poeira que me sucumbia. De fato, a pior poeira não era aquela que podia ser vista impregnada em minha roupa, e sim a que estava dentro de mim.
Todas aquelas lembranças, tudo estava tão confuso, parecia não ter saída para todo aquele sofrimento que me dominava por dentro. Eu, mesmo sem entender, me culpava por tudo aquilo.
Aquela maldita árvore caída no quintal fazia tudo ao seu redor se diminuir com seu imenso tamanho. Mesmo morta, ela me deixava ainda menor e mais oprimido do que já estava em meu interior.
Resolvi caminhar em direção a árvore para analisá-la mais de perto.
Perto de onde foi partida, algo parecia estar escrito a riscos. "Coepi Complete". Era algo que eu não conseguia compreender de maneira alguma. Passaram-se dias e aquelas palavras pareciam me perseguir; estavam até em meus sonhos, onde quer que eu fosse elas não me deixavam. O que significava?
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Battle Spirit
ActionNada parece o que é, os olhos humanos enchergam a uma distância tão curta que nos tornamos meros ignorantes em meio um mundo tão pouco explorado. E se tudo isso que vivemos for inútil e os padrões da sociedade não servirem para nada além de nos ocul...