Seguindo ou Sendo Puxado ?

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Sete meses se passaram desde aquela cena sangrenta que eu não me esqueceria tão cedo. Minha mãe passou um bom tempo sem dizer nada, afinal, ela perdeu o marido e a mãe no mesmo "acidente". Mesmo sabendo que nunca acreditarei que aquilo foi obra da natureza, tentei respirar fundo e me acalmar diante de toda aquela dor. 

Certo dia, me encontrei em uma calmaria absurda, podia sentir cheiro de paz no ar, como se nada pudesse dar errado. Não era só eu, mas o bairro inteiro estava silencioso demais. Entrei para o meu quarto e olhei para o teto, era possível ouvir as aranhas andarem e se esfregarem nas vigas de madeira de tanto silêncio.

Deitei em minha cama e a poeira subiu, alguém precisava limpar aquela casa. Minha mãe estava muito diferente desde o acidente, ela não se importava tanto com os afazeres da casa como antes, o que era estranho, já que meu pai a apelidou de "viciada em limpeza" por sempre, exageradamente, manter tudo no lugar. Olhei para uma das prateleiras fixadas na parede do meu quarto e avistei um cubo mágico, presente do meu pai no meu aniversário de onze anos. Levantei-me para pegá-lo, mas notei que do lado dele havia um pequeno livro, não pude deixar de me incomodar, talvez  tivesse a mesma mania de organização da minha mãe, peguei para colocá-lo na estante com os demais livros. Ao reparar sua capa, vi que havia um bilhete pregado, já estava com uma aparência antiga, completamente empoeirado, quando o desdobrei, havia apenas uma frase escrita: "Leia apenas no dia 10 de Setembro". Faltava exatamente 1 mês.

Fiquei confuso, olhei rapidamente para as bordas procurando mais alguma coisa que pudesse ver, e no rodapé, escrito com uma letra minúscula, o nome de minha avó, o bilhete era dela. O que me deixou intrigado foi a data escrita, por que o livro só poderia ser lido em 10 de Setembro? Continuei pensando no bilhete, mas sem deixar de deduzir que o livro também era da minha avó. De repente, ouço um grito:

--- Para! Saia daqui, por favor! Socorro!

Coloco o livreto no bolso da bermuda e corro pela casa procurando o cômodo no qual aquele grito tinha se originado. Era da minha mãe, que estava sendo puxada por um homem extremamente alto, forte e com olhos negros. Sua risada era irônica e me fazia tremer. Eu sabia o que precisava fazer, mas não sabia como, já que estava paralisado de medo, quando tomei coragem, adentrei-me com passos rápidos na cozinha, mas o homem fixou seu olhos em mim e com uma voz alta e autoritária gritou:

--- Fique parado aí! Se você se aproximar, eu mato ela!

Estático, olhei para os seus olhos trevosos e perguntei:

--- O que você quer?

Gritando, o homem disse:

--- Quero que todos vocês, humanos idiotas, tenham uma morte dolorosa!

Quando tentei novamente me aproximar, congelei ao olhar para minha mãe. Meu coração começou a doer, o que eu sentia era indescritível. Os olhos dela estavam negros e sua face, que já estava pálida, não era mais a mesma. O homem novamente gritou:

--- Eu sei quem fez aquilo!

Meu coração que já doía, disparou a bater feito uma bola de basquete sendo jogada contra o chão em alta velocidade, tudo parecia perder o sentido, cheguei a sentir o ar ao meu redor ficar frio, não conseguia dar um passo sequer, minhas pernas quase se desmancharam de tanto tremer. Todas as lembranças voltaram rapidamente em minha mente, os corpos esmagados, a árvore, o grito estridente de minha mãe...

--- Isso mesmo que você está pensando. Sua avó e seu pai? Há! Não passaram de iscas!

Em meio aquela conversa confusa, uma fumaça começou a sair do chão, pensei que estava delirando, tentei correr, mas... Ele foi mais rápido do que eu, e me atingiu com algo pesado, desmontei sobre o piso de madeira e  tudo parecia estar em velocidade reduzida, a luz da cozinha piscava sem parar, a atmosfera se tornou pesada e estranha. Deitado no chão após a pancada forte, tudo foi ficando lento até parar, nada mais podia se mexer. Minha mente  começou a flutuar em meio aquele caõs. Eu podia calcular quantos metros quadrados a casa tinha, qual a origem das cortinas vermelhas que ficavam na cozinha, observar o casaco de couro que o homem usava, a tela preta surgindo na minha frente... Bang! Ouço um estrondo. Eu só podia ouvir vozes altas e apreensivas, pessoas dando passos rápidos de um lado para o outro.

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⏰ Última atualização: Dec 04, 2021 ⏰

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