Parte I - Nevoeiro

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A manhã estava muito cinzenta, fria demais para o mês de agosto, divagava o rapaz que contemplava o horizonte até o estreito de Long Island ao longe, quase engolido por uma névoa que despontava. Ele não sabia dizer por quanto tempo estava ali sozinho no alpendre da luxuosa casa onde ocorreu um baile na noite anterior. A maioria dos convidados estavam indo embora, cansados, felizes e falando bobagens e frivolidades a respeito da festa, dos anfitriões e da filha deles. Era irritante ouvir os comentários de outros rapazes da idade dele fofocando o quanto a moça era bonita e valiosa, no sentindo literal da palavra – um dote de trinta mil dólares era algo belo demais. Todos eles mimados e nascidos em berço de ouro, enquanto ele...

Suspirou cansado. Não valia a pena pensar naquelas coisas já que ele não ficaria na cidade por muito tempo e ele não precisaria vê-la de novo. Tempos sombrios batiam a porta de cada pessoa nas colônias, só não enxergavam quem não quisesse. Os ingleses estavam chegando e ele estaria pronto para recebê-los com chumbos e com toda a raiva descarregada em batalha, lutando pelo seu pela libertação do povo, como todo jovem americano estava disposto a fazer.

Pensar na guerra revigorava o ânimo dele, enchia o seu sangue de um heroísmo que nem ele sabia que existia dentro de si. Ele queria ser um herói, sobreviver bravamente com toda a glória de um soldado fiel a sua causa – era o que gritava em fúria as campanhas de alistamento. E seduzido ele e mais outros milhares de jovens se alistaram. Havia um preço muito alto a se pagar por tudo aquilo, entretanto... Só que ele não se sentia tão determinado quando pensava nela.

— Está uma manhã muito fria, não é Mr. Jackson?

A voz suave o espantou do devaneio enquanto ele se virava para olhar a garota de cabelos loiros presos num elegante coque, um palmo mais baixa que ele, grandes olhos cinzentos, delineada por um delicado vestido azul – torturantemente azul era a cor favorita dele, e ela sabia disso.

— Está sim, Miss Chase – respondeu ele vagamente, ainda perdido na beleza da moça a sua frente.

— Por que está aqui sozinho e com frio? Estou o procurando há quase meia hora, você deixou a festa tão depressa...

Ela parou engolindo em seco, encarando-o com seus belos olhos cinzentos como aquela manhã, em tristeza. Ele sentiu a culpa invadi-lo num gosto amargo por deixá-la angustiada, mas o que ele podia fazer com todos aqueles abutres disputando a atenção dela? O rapaz tinha certeza que não conseguiria controlar o ciúme por muito tempo ocasionando numa besteira depois. Então, mentiu com um falso sorriso.

— Estava sufocante lá dentro.

Mentiroso, pensou Miss Chase com raiva. Ela sabia o porquê e estava lá justamente para confortá-lo e deixar claro que nenhum daqueles rapazes ricos e mimados era especial como ele era. Mesmo um pouco triste, a moça não deixava de achá-lo lindo com o charme natural que ele possuía de sorrir também com os olhos verdes brilhantes, que sempre lhe dava um aspecto infantil que ela achava adorável juntamente com os cabelos negros sempre desalinhados, que combinava com a cor do casaco dele.

A jovem espantou aqueles pensamentos, pois sempre a deixava desconcertada e corada.

— Mesmo assim o senhor não deveria ter fugido dessa forma. Não me convidou para dançar uma vez se quer a noite toda, ao contrário, ficou zanzando pelo salão e não me procurou em nenhum momento.

— A senhorita estava ocupada sendo uma boa anfitriã.

A retaliação dele foi carregada de amargura, e mesmo sabendo que ele estava chateado, ela não estava preparada para o conflito.

Nevoeiro (Percy & Annabeth)Onde histórias criam vida. Descubra agora