B Ô N U S

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n/a: Esse é um final (one-shot) alternativo para a trilogia de Ransom Riggs. Apenas tive vontade de escrevê-lo, mas não é o fim de Rise. Boa leitura :)

* * *

Então eu acordei, sentindo uma onda de enjoo forte e extremamente desconfortável. Hiperventilei, antes de qualquer coisa e olhei para os lados com ansiedade. Não me lembro da minha casa ser tão brânquida e vazia, muito menos, o orfanato. Os poucos móveis que se faziam presentes na imensidão branca eram embutidos nas paredes.

Era exatamente tudo o que eu conseguia ver: nada.

Meus pulsos estavam presos a uma corrente pequena e elástica, foi difícil movimentar meu próprio pescoço. A parte boa foi poder me libertar das amarras, depois de minutos. Massageei minha pele, sem deixar de admirar a sala.

 — Mãe? — gritei, a coragem brotando dentro de mim — Pai? Onde estou?

A resposta nunca chegou, decidi chamar os nomes dos peculiares. Quem sabe, eles poderiam me resgatar, assim como fiz quando lutei contra os irmãos da senhorita Peregrine. Pus as mãos ao redor da boca, para tornar a voz mais intensa.

 — Olive!

Senti o ar mais denso, só de lembrar do seu rostinho delicado e inocente.

 — Horace!

Lembrei do mais quente e elegante casaco feito a mão por ele. Foi útil, quando Jack atirou em mim

— Emma?

O ardor das chamas deliciosas e crepitantes atravessou pelo meu corpo, meu coração pulsava com felicidade de encontrá-la novamente, mas nada aconteceu.

 — Jacob Portman. Paciente liberado para exames psicológicos. — uma voz eletrônica foi emitida por dois microfones de dentro da sala. Tremi ao escutá-la.

Uma porta de vidro se abriu bem na minha frente, passei por ela ainda confuso. De repente, uma pessoa, que conhecia muito bem, veio ao meu encontro. O garoto da cabeleira esverdeada me abraçou como se não tivesse me visto há anos. Minhas costas estalaram e senti meu peito doer.

 — Jake! Mano, eu fiquei tão preocupado com você!

Ricky Pickering me largou, felizmente. Acho que se não o tivesse feito, eu morreria de uma das maneiras mais esquisitas e irônicas possíveis. O garoto punk mordiscava um cigarro desgastado, tanto por causa do tempo, quanto pelo seu terrível hábito de fumar. Seus olhos estavam marejados - não soube identificar se era pela fumaça que abandonava seus lábios ou por emoção em me ver. Considerei as duas opções.

 — Calma, cara. Eu tô bem. — sussurrei, sem jeito — Onde está todo mundo? Na verdade, onde eu estou?

Ricky olhou para o chão, seu cabelo se tornava cada vez mais brilhante, ao ser exposto contra a luz impactante da sala. Ele sentia vergonha, isso era perceptível. Esperei por um tempo, impaciente, mas até que enfim, ele falou.

 — Não se lembra, não é? Você está num hospício, Jake. — meu coração acelerou, as várias possibilidades tilintavam na minha mente como taças de cristal.

 — Mas o que houve, Ricky? Por que eu estou aqui? — meu melhor amigo me lançou um sorriso triste. Mal me lembrava o quão estranho o garoto era. Quase me esqueci o quão vovô Abe o repreendia. Essa não...

Vovô Abe...

 — Tu enlouqueceu, Portman. Depois do seu avô ter... uh, você sabe... — completei o pensamento na minha própria cabeça com tristeza — você ficou bem deprê e depois, teve muitos delírios enquanto dormia.

 — Que tipo de delírios? — o menino estranho me puxou para sentar num banco prateado.

 — Eram coisas absurdas! Você gritava nomes como Emma e srta. Peregrine e etéreos... — declarou — Certa noite, chegou a jurar que iria espancar alguém chamado Enut.

 — É "Enoch". E claro que eu faria, com todo o prazer. — murmurei, com um sorriso malicioso. Ricky arqueou ambas sobrancelhas, certamente assombrado.

 — Escuta, parceiro. Sei que foi difícil esquecer do teu vô, mas estamos aqui pra te ajudar.

 — Tá, tá certo. Eu sei! — disse, estressado — Foi a mesma coisa que Alma me falou, quando visitei o instituto dela pela primeira vez. Lá é tão legal, Ricky! Era isso que eu queria te falar. Pena que o orfanato dela foi destruído pelos nazistas... Enfim, quero muito que conheça meus amigos peculiares.

 — Jake, você...

 — Não, é sério. Você iria achar o máximo! — cortei sua fala, segurando seus ombros com fúria — É no país de Gales. Tem um cachorro que fala, uma menina que controla a natureza... é incrível!

 — Olha só-

 — Espere! Ainda não terminei! Eu consigo ver e controlar os monstros, Ricky. A dor que eu sinto quando os vejo, alimenta a minha força. Essa é a pior parte, por sinal... — continuei, olhando para o teto, pensativo.

— Jake, olha pra mim, idiota! — gritou, arrumando uma posição que nunca tinha feito antes. Sempre o olhava como um tipo de irmão mais velho, mas nesse momento, parecia um valentão da escola — Foi assim que tudo começou, cara! Teu avô dizia a mesma coisa. Dizia que podia ver os monstros e derrotá-los.

— Mas eu posso, Ricky! Eu destruí vários etéreos e seus assistentes também. Os que se chamam de acólitos. — o menino me olhava com um ar de confusão. Deixei que explicasse.

— Isso é impossível, Jacob. — a coisa parecia séria. Essa era uma das raras vezes que eu ouvia meu nome completo ser pronunciado por ele — Esses personagens vieram da tua cabeça, mano.

 — Tudo bem. Me dê um bom motivo pra você ter razão.

Ele demorou para responder, assim como já tinha feito. A resposta partiu o meu coração da pior forma existente.

— Jake... — começou — Você esteve em coma por 6 meses.


* * *

n/a: Como disse, esse é um one-shot. Os próximos capítulos seguirão com a continuação de "Rise". Bjos e até loguinho.

RISE ;; enoch o. ( ✓ )Where stories live. Discover now