Prólogo.

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"Cuidado belas damas e donzelas
Venham todas as moças bonitas e ternas,
Com o sangue de virgem e corpo puro

Fujam do escuro e do terror da floresta
Corram para longe da lua cheia
Pois o lobo está a solta e com seu uivo
As árvores choram e o silêncio

Ele se espalha".

"Cuidado belas damas e donzelasVenham todas as moças bonitas e ternas,Com o sangue de virgem e corpo puroFujam do escuro e do terror da florestaCorram para longe da lua cheiaPois o lobo está a solta e com seu uivoAs árvores choram e o silêncioEle ...

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    Essa música sempre fez Aeryn ter medo do escuro.
    Em Okarina, o lobo atormentava o pesadelo de todos na Aldeia, o pânico de apenas pensarem em ter um pequeno encontro com a fera os deixava aterrorizados.
   A fera os atormentava por gerações, até mesmo criaram a historia de que talvez fosse imortal.

    Sentada em frente a mesa do chá e segurando delicadamente uma xícara decorada, Aeryn vislumbrava o horizonte e soltava pequenos suspiros ao sentir o vento tocar seu rosto.
   Fazia uma semana que seu irmão mais velho saiu em viagem, foi novamente em uma de suas caçadas e a deixou 'sozinha'. Seus pais sempre estavam ocupados com assuntos que nem ela mesma entendia, tentava ao máximo entender certos assuntos, entretanto eram como montanhas distantes em que queria levantar com uma das mãos.
 
   Aeryn era uma moça jovem na flor de sua idade, acabara de completar seus dezoito anos e sentia-se uma adulta feita, mas para quem a olhava de longe, pensava que era apenas a "filha mimada do prefeito".
   Seus cabelos eram castanhos e longos, tinha certo problema para escova-los pois acabava esquecendo. Sua pele era pálida como a Lua e seus olhos eram um ponto que impressionava ou assustava a multidão, um deles era cor de rútilo e o outro verde como uma esmeralda, já foi deveras julgada por conta deles, Então tentava esconder seu rosto debaixo de uma capa que quando avançava em passos largos, pintava a neve de vermelho.

    Dedilhou as paredes de madeira nobre enquanto a empregada tentava ajustar seu vestido, ela não fazia por mal, sempre teve problemas em manter-se quieta.
   Pôs a canhota no bolso da capa e puxou para si uma pintura antiga e borrada, estava sentada ao lado de um rapaz na época em que tinha 6 ou 7 anos, nunca lhe responderam quem ele era, mas a lembrança doía em seu coração.

— Aeryn. — Ouviu a voz grave de seu pai ecoar pelo corredor, então avançou em passos largos e franziu as sobrancelhas ao vê-lo lendo o jornal matinal.  — Caso queira, pode dar uma volta hoje. Não parece estar mal de saúde.

   Á moça tinha certos problemas nos pulmões e já perdera a conta em quantos dias teve de ficar na cama por conta disso.

   Ela assentiu com um enorme sorriso no rosto, então avançou em passos largos em direção a saída e ouviu o mais velho levantar, ele caminhou em direção a Aeryn e abraçou-a com delicadeza.

— Tenha cuidado, mocinha.

   Aeryn soltou uma risada afetuosa e assentiu, levava consigo uma cesta vazia onde poderia colocar flores e ajeitou a capa rubra sobre a pele cor de nevasca.
   Atravessou a vila com tranquilidade, escutava crianças cantando alegremente e as pessoas fazendo seu devido trabalho.
    Pulou em cada pedra que pavimentava a rua e soltou risadas baixinhas ao ver um lenhador brigando com um amigo, ajeitou a vestimenta para cobrir os olhos bicolores e vislumbrou a floresta.

   Pôs algumas flores na cesta assim que chegou ao seu destino, então limpou à terra que sujava suas mãos e respirou fundo.  

   O entardecer era à hora de dizer até logo, pois à  noite o lobo saia em busca de presas e é claro, Aeryn nunca o viu, mas seu pai sempre lhe alertava para ficar longe dele e

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   O entardecer era à hora de dizer até logo, pois à  noite o lobo saia em busca de presas e é claro, Aeryn nunca o viu, mas seu pai sempre lhe alertava para ficar longe dele e...Longe da floresta.

   Na época, ela não acreditava como coisas tão lindas que se encontravam na natureza poderiam ser perigosas.
    Ela aprendeu a não julgar um livro por sua capa.

  À Lua já alcançava o céu, sabia que seus pais já estariam preocupados por seu sumiço e ela mal conseguia enxergar o caminho.

  Sua imaginação infelizmente passou a trabalhar de forma sombria.

   Às árvores eram mexiam-se com violência graças ao vento, teve certeza de enxergar olhos dourados no escuro, ouvia barulhos altos e baixos, era uma sinfonia de horror que maltratava sua sanidade. A brisa era tão fria que parecia até mesmo ser uma lâmina cortando seu rosto.
  Apenas à Lua minguante iluminava seu caminho como uma tocha de esperança, apertou as mãos ao redor do corpo e reprimiu um grito quando um morcego quase pousou em suas madeixas completamente bagunçada.

  Puxou o gorro afim de se aquecer um pouco e abraçou os cantos da capa, olhava em volta e se assustava diversas vezes com os com os sons dos animais noturnos. Pensou em subir em uma árvore e esperar amanhecer, mas acabou desistindo da ideia quando viu alguns animais nos galhos.

   Aeryn suspirou, andava e escolhia os caminhos de forma aleatória, queria ter seu irmão ao seu lado, chamava mentalmente por sua mãe e tentava imaginar seu pai abrindo os braços para lhe abraçar e confortar sua filhinha sobre essa terrível experiência.

   Encontrou uma tocha quase se apagando e a levou consigo, pôde ver sangue no cabo de madeira e estava fresco, tentou cantar mentalmente a canção de ninar que sua mãe lhe ensinou, mas apenas reprimia o choro de medo, os animais estavam silenciosos e Aeryn não entendia o porque, sinceramente, ela tinha 'pânico' de entender. Pois uma vez, seu irmão lhe disse: "Quando à floresta fica em silêncio, o predador está perto".

  Não trazia nenhuma arma, agachou-se em frente a uma árvore e segurou um galho com a mão livre, a cesta apenas a atrapalhava, mas sabia que sua mãe gostava dela, então não podia jogar fora, ajeitou-a no antebraço e firmou a tocha na canhota e o galho na destra.
  

   Estava tremendo de medo e largada no escuro. Sentou na terra e abraçou o próprio corpo, estava perdida, mas jurava ter ouvido passos vindo dos arbustos.
   Deixou a cesta de lado e segurou o galho com mais firmeza.
   Prendeu o tornozelo em uma raiz de árvore e ouviu um estalo, porém reprimiu mais um grito.
   Levantou-se lentamente e com cuidado, 'engoliu' um grunhido ao sentir sua perna dolorida. Olhou para os lado, entretanto, não viu nada, mas tomou um susto quando viu alguns arbustos balançarem.
   Aeryn mordeu o lábio inferior e respirou fundo, então, de repente, ouvindo um rosnado. Ficou estática e começou a tremer quando viu dois olhos dourados e brilhantes entre as folhas, dentes brancos e manchados de sangue. 

   Demorou alguns instantes para reagir, e só começou se desesperou quando o animal começou a uivar tão alto que seus ouvidos doeram.

   Corria de forma desesperada e desajeitada, ofegava e sentia seu abdômen doer. Escondeu-se atrás de uma árvore pelo cansaço, então respirou fundo e olhou levemente para trás. Estranhou o silêncio e, por algum motivo, se desesperou por isso.

   Soltou um grito agudo quando sentiu o impacto das garras do lobo no tronco da árvore. Sem pestanejar, voltou a correria, mesmo se já não houvesse esperanças para sua pessoa.

 Sem pestanejar, voltou a correria, mesmo se já não houvesse esperanças para sua pessoa

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Lua de PrataWhere stories live. Discover now