☾ Capítulo 2 ☽

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   Um arrepio em seu estômago quase a fez vomitar, ela tinha um pânico enorme da floresta, depois do ocorrido nunca mais queria voltar em tal lugar. Entretanto estava determinada, apertou a o sobretudo contra o corpo e avançou em direção ao local que agora tornava seus sonhos um pesadelo sem fim.

   Ela suspirou cansada e continuou tentando alcança-lo, apenas quando atravessaram as tochas. Tentou fazer o mínimo de barulho possível, queria ver até onde ele iria. Sua atenção desviou-se quando viu pequenas flores brancas próximas a uma árvore, entretanto, soltou um gritinho ao ver uma nemoura na neve.
   Aeryn ficou mais confusa ao perceber que Bernardo sequer olhou para trás. Além de asno era surdo? Não se importou com isso, apenas continuou a seguir.

  Após alguns minutos que não pareciam terminar, ela esticou a mão para chamar o asno do dia anterior.

— Es...pe...ra. — Murmurou ofegante enquanto parava e apertava o sobretudo contra o corpo.

Bernardo suspirou ao ouvir aquela voz, então parou e virou-se para encarar a menina do dia anterior. Arqueou as sobrancelhas e soltou uma risada baixa ao vê-la ofegante.

— Sabia que tem um lobo por essa floresta? Ele pode acabar te devorando se não sair daqui.

Aeryn o encarou por alguns segundos, então puxou o capuz para cobrir ainda mais o rosto.

"Você é aquela que todos falam. Tinha que ser". — Palavras nesse sentindo sempre fixavam-se em sua mente.

A mocinha abaixou a cabeça e caminhou em direção ao homem, então ergueu a vestimenta para entregar-lhe.

— Obrigada.

   Bernardo pegou seu sobretudo e olhou por alguns instantes para Aeryn, então franziu as sobrancelhas quando a viu esconder o rosto mais ainda com o capuz.

— Você é estranha. — Ele tirou o capuz do rosto da moça e sorriu com sarcasmo. — Por que esconder? Nunca vai poder mudar a cor.

   Aeryn arregalou os olhos, então apertou as mãos ao redor do corpo e abaixou a cabeça.

— Eu...Costurei o furo. — Ela murmurou enquanto jogava o cabelo na frente de seu rosto. — Espero que não se irrite.

— Por que eu me irritaria com isso? — Bernardo murmurou, então vestiu seu sobretudo. — Melhor voltar para casa, estou ocupado e a floresta é perigosa. Ou vai querer que o lobo de pegue?

   Aeryn o encarou por alguns segundos e então sentiu as mãos tremerem. Estava tão covarde que apenas a palavra "lobo" lhe causava desespero?!

  Mordeu seu lábio e assentiu, então ajeitou as madeixas e tratou de puxar o capuz.

— Mais uma vez...Obrigada. — Sussurrou enquanto retirava a pequena pintura do bolso e a apertava contra o seio.

   Aquele mero desenho sempre a deixava mais corajosa, queria lembrar-se daquela pessoa, mas tudo o que via era um borrão.

— E...Cuide-se. — Sussurrou enquanto novamente seguia seu caminho.

  Bernardo franziu as sobrancelhas. Já havia visto aquele papel em algum lugar, era familiar ao que tinha em sua casa. Deu de ombros e seguiu o caminho de casa.

  Ele não gostava dessa época do ano, pois a neve cobria as armadilhas deixadas por caçadores e já não sabia se seu corpo ainda teria espaço para mais cicatrizes.

   Felizmente, um caçador em especial estava fora da aldeia por um tempo, mas logo voltaria com os diversos tipo de armas. Todo ano Bernardo vivia uma constante batalha, pois sempre quando o inverno se aproximava, aquele caçador fazia uma pequena viagem em busca de armadilhas específicas para lobos. Não sabia o porquê de tanto ódio, nem ao menos se conheciam e Bernard, por mais que seus instintos selvagens fossem extremos, nunca teve a oportunidade de cravar as presas naquela pele áspera.

Lua de PrataWhere stories live. Discover now