A Perda

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"Há quem diga que nossos melhores amigos faziam parte da família em outra vida."

— Spencer era sempre a primeira a chegar, depois eu e por ultimo Brandom. Naquele dia não tinha nada de diferente: fui para o refeitório depois do treino de futebol e a vi sentada na mesma mesa de sempre, lendo alguma coisa. Tudo parecia normal até eu perceber que ela estava usando um casaco moletom preto com capuz, era estranho porque dizia que roupa moletom foi feita para dormir e achava um absurdo as pessoas usarem aquilo de dia. — Na minha mente eu ri, lembrando — Aí comprei uma lata de refrigerante e quando me aproximei dela vi que estava quieta demais, e isso era o mais incomum daquele dia porque ela sempre foi a mais agitada do trio, e sempre fazia alguma piadinha — Fiquei sem jeito com aqueles dois brutamontes me encarando.

— Continue, Dylan — Ordenou o policial sentado.

— Aí sentei ao lado dela e mesmo assim ela continuou de cabeça baixa e quieta. Tomei um pouco do refrigerante e esperei a piadinha, mas ela não disse nada, então perguntei o porque dela estar usando pijama na escola. Ela riu e disse que era necessário, foi então que reparei no tom de voz dela...

— Como era o tom de voz dela?

— Trêmula, parecia que estava chorando — Observei aflito o policial anotar tudo o que eu dizia em um bloco de notas — Perguntei o que tinha acontecido e ela disse que não era nada demais. Ela sempre dizia que estava tudo bem, mesmo quando a gente sabia que não estava. Eu insisti e perguntei outra vez, foi então que ela finalmente tirou o capuz e virou o rosto pra que eu visse o que aquele idiota fez — Senti a raiva tomando conta do meu corpo outra vez.

— Quem é... abre aspas,aquele idiota, fecha aspas?

— Brad, o namorado dela.

— E como estava o rosto dela exatamente?

— Tinha um corte no lábio inferior e outro na bochecha, e o olho esquerdo estava roxo e um pouco inchado.

— Ela te disse que Brad era o culpado pelos ferimentos?

— Quando perguntei se tinha sido ele, ela assentiu, e também não seria a primeira vez.

— A quanto tempo os dois estavam juntos?

— Não sei o tempo exato, mais ou menos um ano, eu acho que...

— Humm, e por que ela nunca registrou queixa? — Me interrompeu o policial que estava em pé

— Porque Brad manipulava ela. Uma vez tinhamos convencido ela de fazer o boletim de ocorrência mas era só o otário desconfiar de alguma coisa que ele mudava: De um completo babaca para o namorado dos sonhos...

— Quando você diz nós, você quer dizer.... — Me interrompeu outra vez.

— Eu e Brandom.

— Okay, E o que você fez depois disso?

  Respirei fundo antes de responder pra não deixar transparecer meu ódio, todo sangue que corria em meu corpo fervia só de lembrar.

— Fiquei irritado, é claro. Já era a terceira vez em dois meses que ela aparecia assim, aquilo não podia continuar — Respirei fundo outra vez — Então começamos a discutir porque a ameacei dizendo que iria denunciar e ela continuava a defender ele. Eu a insultei e...

— Você a insultou? Como? — Me interrompeu, de novo.

—Meio que eu disse que a culpa era dela — Senti todo o peso daquela lembrança me puxar para baixo — Ela me deu um tapa, pegou as coisas dela e foi em direção a saída do refeitório. Fiquei com tanta raiva que amassei a latinha de refrigerante que estava segurando e arremessei longe. Quando peguei minhas coisas pra sair vi Brad entrando com os amigos e umas garotas, fiquei cheio de ódio porque pra ele nada de errado tinha acontecido, ele estava ali rindo enquanto Spencer estava com o rosto todo desfigurado.

IMPROBRUS ILLEOnde histórias criam vida. Descubra agora