Capítulo VI

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- Você está brincando, não é? - Eu perguntei totalmente chocado, olhando para o garoto na minha frente. Shepon tinha três segundos para me explicar o que estava acontecendo.

- Não, não estou, bobão. - Ele respondeu rindo. - O tempo está acabando. Pelo menos o dela.

- Rapunzel deve estar mais lá do que aqui, só pode! O que deu na cabeça dela para chamar a Katherine para trabalhar com ela?! Ninguém consegue seguir minhas ordens?

Baguncei os cabelos, nervoso. Se alguma coisa acontecesse com aquela garota, a Rainha ia ficar muito brava, principalmente comigo.

- Ninguém te leva a sério. - Meu irmão respondeu, pedindo por um soco.

Meu estresse estava tão lá em cima que tossi, sentindo uma bola de pelos vindo. Como um choque minhas orelhas brotaram sobre a cabeça e o rabo saltou da calça.

- Merda! - Gritei, dando um chute no pé do sofá.

- Ei, calma, tigrão. Você pode concertar isso, sabe que a Loirinha vai te ouvir. - Ele disse segurando o riso.

- Quer saber de uma coisa? Por isso que eu digo, Guardiões tinham que cuidar só dos problemas da fronteira, nem são personagens tão importantes para estar dentro do Livro.

- Nossa, disse o personagem mais importante, um gato que fica invisível e tem um sorriso bizarro. - Esse garoto vai levar é uma porrada se continuar assim. Somente encarei Shepon, sem dizer nada.

O garoto só abriu um grande sorriso, e voltou para a mesa, para colorir algum trabalho idiota de criança. Respirei fundo e joguei o casaco sobre os ombros, me preparando mentalmente para ter uma longa conversa com Punzie, e ter que explicar tudo de novo. Olhei para as chaves da moto e as joguei de volta sobre a mesa, andar um pouco ia ser bom para clarear as ideias.

- Ei, nada de destruir a casa enquanto estou fora. - Falei lançando um olhar irritado para o pequeno.

- Não prometo nada. - Ele cantarolou, sem nem tirar os olhos do desenho mal feito.

O tempo hoje estava escrotamente escroto, com nuvens escuras por toda a cidade e uma gélida brisa. Há quem diga que nos dias antigos eu era mais animado, mas, não concordo, sempre fui desse jeitinho. Posso estar até um pouco mais responsável e sério, e a culpada é a guerra. Nunca soube lidar muito bem com esse tipo de assunto, mas admito que após a morte de Alice, os dias parecem todos como hoje, escuros e frios.

Pode até ser uma surpresa para você, mas é verdade, eu e Alice estávamos juntos por um bom tempo. Esse é um dos motivos para eu ter pego aversão a minha forma humana, pois me lembrava dela.

A Rainha Mirana achou que essa missão ia me fazer bem, mas eu só queria ficar deitado que nem uma estrela do mar sobre os galhos de uma árvore, sem nada para me preocupar. Já tem cerca de dois anos que isso aconteceu, e o tal fato marcou o início dos dias de sombra atuais. O tempo nunca foi algo muito importante para mim.

Enquanto andava pela rua, meus pensamentos voavam longe, até que um barulho agudo e irritante me chamou de volta para a vida. Uma garagem a frente começava a se abrir, apressei o passo e dei de cara com a Lebre de Março saindo com sua pequena moto vermelha. Franzi as sobrancelhas quando vi quem estava com ele. Katherine. Fiz um sinal de desaprovação com a cabeça e virei para continuar o meu caminho. O garoto deu um sorriso travesso, e acelerou a moto.

Eu queria ser inconsequente assim de novo, mas me sinto responsável por muitos acontecimentos. Talvez completando essa missão consiga deixar o meu espírito em paz.

Caminhei por quase meia hora, até que cheguei à loja de doces onde Punzie trabalhava. Mal cheguei perto e vi Katherine, Lebre e a Loira conversando na porta. Preferi não ser visto, e dei meia volta. Talvez fosse melhor ter ligado para um dos idiotas antes. Resolvi seguir caminho para o Parque da cidade, estar perto da natureza me lembrava de casa.

Wonderland - A Redenção - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora