ASCENSÃO- PARTE I

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Prólogo

CARTA DE AMATILL

A vida humana nasce para ter a oportunidade de fazer escolhas, independente se vivem para morrer depois de minutos ou dali cem anos mais tarde, seguem enfrentando uma linha tênue e descompassada a cada conquista e diante a vitória, se sentem ainda mais confiantes para seguirem um caminho ainda mais perigoso, mesmo sentindo seus instintos gritarem para parar, seguem para o inesperado e alucinante.

É o que se pode chamar de sina do humano: Nascer, crescer, procriar, morrer, descobrir se cresceu mentalmente; espiritualmente e fisicamente. Essa concepção humana de que estão designados para o grandioso ou espetacular chega a ser hilário para quem vive nas sombras, para quem sofre com a fome e com a doença, chega a ser irônico como vivem a vida sem se preocuparem com nada além de si mesmos. Seria essa a glória que procuram?

Digamos que aqueles que vem das profundezas da escuridão partilham de pensamentos um pouco parecidos, distorcendo seus preceitos e transformando tudo a bel prazer. Imaginar que algo assim não possa sentir dor, não adoeça, não seja atingido pela velhice ou se quer seja capaz de morrer pode ser assustador, impossível, quase inebriante. Nos faz questionar o porque algo assim pode existir no mundo e se realmente pode caminhar entre nós, já que aparentemente, o único intuito dessa coisa é poder.

Parando para pensar de forma literal e de uma perspectiva diferente, o mundo humano é regido por alguém que trata seus "filhos" como formigas, e sempre que a vida começa a sair fora dos trilhos, ou vira um enorme emaranhado de corpinhos nojentos e desgarrados, Ele vai lá, e manda um dilúvio, por exemplo. Pensar em como o mundo é comandado por uma força maior chega a ser impressionante, mas e se esse caso for como os outros onde o ganhador distorce a história, fazendo o perdedor parecer o demônio em pele de lobo sanguinário?

A vida é um caso distorcido, o livre arbítrio é um caso distorcido e a cada instante que o mundo é ocupado e desocupado, outra alma é jogada ao mar do desespero e novas criaturas da noite são criadas.

Meu desabafo é sincero e minha luta é verdadeira, minha mágoa é real e meu ódio já tomou conta da minha alma.

Por que Ele me fez assim? Por que Ele deixou isso acontecer?

O mundo que conhecemos e passamos a estudar nos mostrou um antro de perdição e deslealdade, dos filhos daquele que se vangloriava por ter derrotado o mal, ter amado a vida humana acima de tudo, ter feito deles os seus filhos e Sua imagem e perfeição, mas a maldade no coração deles nasceu também de sua maldade, de seu joguinho infeliz e discreto, sua manipulação doce e delicada, suas regras incompreensíveis e infundadas.

Eu sou um legado, uma anciã, uma lenda, uma criatura da noite, nascida da terra e criada pelo fogo, sou aquilo que deve ser temido e adorado, aquilo que deve ser ovacionado e amado, odiado e glorificado. Eu sou a imagem da perfeição, a Sua imagem distorcida, eu sou aquilo que deve ser e existir, eu sou a amostra vivida da maldade humana, da maldade dos Seus filhos. Nascida para matar, criada para amar, morta para ganhar.

Acreditem meus caros, alcançar o poder para mim, se tornou uma obsessão diária, linda e tomou todo o meu tempo e esforço, todas as minhas forças se esvaiam a cada segundo que lutava para ser a melhor, e no fim de tudo, sejamos sinceros, valeu cada morte, cada gota de sangue que derramei em meu corpo finito, cada lagrima que vi escorrer e cada pedido de socorro e misericórdia negado. Afinal, não era o Deus misericordioso deles, eu sou a verdadeira face da monstruosidade humana, eu sou vocês, e um dia perceberão que nada do que fazem lhes levará para o perfeito e magnifico Paraiso.

Minha risada ecoa longe pelo vale da perdição enquanto caminho pelas almas sujas e apodrecidas, nojentos seres que se arrastam para pedir acolhimento á luz que nunca chega, acostumem-se caros amigos, pois se consegue ler esta carta, foi um dos poucos que escapou do Juízo Final, a minha verdadeira forma sucumbirá ao ápice do meu poder, e só então, eu levarei aos menos favorecidos a paz tão desejada, deixarão de existir, e enfrentarão absolutamente nada. Sem um pré ou pós vida, sem um amanhã.

Eu serei Ele, então, deixe-me entrar e ser a sua morada, ser sua, ser aquilo que você mais deseja, deixe-me ser a besta infernal que você culpa quando trai sua esposa ou seu marido, quando estupra a menina que voltava da igreja louvando a Ele, quando mata sem dó o cachorro do vizinho só porque não quer ouvir ele latindo quando você invade o quintal para roubar as ferramentas de trabalho do outro, ou quando sente prazer desenfreado quando esta estrangulando sua namorada e espancando o rosto bonito dela, deixe-me ser seu demônio pessoal. Me culpe por ter recebido o livre arbítrio falho daquele que deveria ser sua luz e seu caminho.

Deixe-me ser seu colo, seu canto, sua cama, seu corpo, deixe-me acaricia-lo antes de arrancar sua pele e queimar seus músculos com o veneno mais torturante que Ele já pode inventar: a culpa de ser o que você nasceu para ser!

Me deixe ser...

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