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Quando foi que começou? Sério, eu tentei pontuar, datar, quando foi o dia que essa maldição se iniciou e, na boa, nunca consegui precisar. Não lembro quando comecei a olhar para garotos da maneira que eu deveria olhar para garotas.

Meu primeiro impulso foi constatar que fui maldito pelo criador, e logo depois eu me envergonhei dessa ideia, pois Ele deveria ser o meu salvador ao invés do meu algoz.

A culpa deveria ser minha.

Eu que não vigiei, que não lutei contra esses pensamentos, que me deixei levar por uma direção oposta à do Senhor.

E foi por acreditar nisso que eu decidi seguir os passos d’Ele. Entrei para a igreja querendo ser como todos os outros, os benditos do Senhor: Heterossexuais.

Escolher uma igreja não foi difícil. Eu tinha alguns amigos que frequentavam uma que ficava perto de casa e, por indicação deles, fui ao primeiro culto. Devo dizer, foi catártico. O sermão do Pastor Adriano parecia ter sido feito para mim, falando sobre as tentações da vida mundana e de como deveríamos ter a solidez moral para suportá-las, e que aí residia a verdadeira abnegação para servir aos desígnios do Senhor.

Foi a mensagem mais confortante e opressora que eu já ouvi na vida. Movido pela euforia, eu estava pronto para enfrentar essa luta. E não estava sozinho.

Não sei se você já frequentou uma igreja, mas para alguém fragilizado como eu estava, a acolhida deles, o abraço dizendo que estava tudo bem, que eu não estava sozinho, que minha angústia logo iria passar pela intervenção d’Ele na minha vida… isso é melhor que qualquer antidepressivo. Nesse momento que percebi o papel social importantíssimo que tem a religião.

Depois de aceitar o Senhor na minha vida, passei a participar das atividades do grupo dos jovens. Foi lá que conheci Pedro.

Eu nunca acreditei naquela história de que existe um “gaydar”, um radar biológico misterioso em que um gay é capaz de reconhecer outro, mesmo sem pistas aparentes. Sempre fui péssimo em fazer esse tipo de reconhecimento.

Porém, quando conheci Pedro foi como ter uma certeza suave na cabeça. Ele era bem quieto, na dele, de poucos – mas fiéis – amigos. Mas não sei, algo no jeito dele, na maneira como ele olhava para as pessoas, no jeito que ele tratava a todos ao seu redor, eu meio que soube que ele era como eu.

Que nós dois partilhávamos do mesmo pecado.

Eu era um recém convertido, ainda me habituando com o novo mundo, tentando me encontrar naquele grupo, sob o olhar terno (e atento) de todos os meus novos pares. Quando cheguei, Pedro havia sido muito receptivo e toda vez que nos encontrávamos ele era bastante educado, mas nada além disso.

Não tivemos tempo para descobrir afinidades em comum e talvez isso nunca acontecesse. Eu havia entrado na igreja justamente para me afastar da tentação que insistia em me desviar do caminho d’Ele, e não poderia fazer da casa do Senhor o lugar para perpetuar o meu pecado. Acho que Pedro sentia o mesmo e, se fosse assim, pela força da minha fé (ou da dele), continuaríamos afastados.

A salvo um do outro.

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Moressss, eu escrevia há alguns anos atrás, mas parei e agora volteeei, espero que gostem e que não fique cansativo e nem repetitivo ❤

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