DEZASSETE

595 52 11
                                    

-"Eu não sei muito bem por onde começar, é uma história longa"- suspira e olha diretamente para os meus olhos.

-"Começa pelo início e não demores muito"- profiro de uma forma arrogante.

-"Tu sabes que a minha mãe morreu já há uns anos"- encara as suas mãos que se mexem, de forma a mostrar o seu nervosismo, sobre as suas pernas cobertas por umas calças jeans de cor preta- "A morte dela sempre foi como um mistério para mim, ela sofria de um problema cardíaco e eu acreditava ser essa a causa da sua morte como o Lewis me tinha dito"- deixa cair uma lágrima o que me comove um pouco mas não demonstro esse facto.

-"Não estou a entender que é que isso tem a ver com o assunto"- digo.

-"Já vais entender"- funga o nariz e limpa o rosto com uma das mãos- "Como tu também sabes, depois da morte da minha mãe, a minha vida ficou uma merda, o Lewis começou a controlar-me de uma maneira maluca e eu entrei pelos caminhos que já sabes quais são e acabei por ser expulso de casa"- volta a fungar o nariz- "Quando eu te conheci as coisas pareciam estar a ficar melhores mas depois separamos-nos e eu saí da cidade, saí porque, para além de querer tentar esquecer-te, convencido de que nunca me irias perdoar, queria também afastar-me um pouco dos meus negócios, queria tentar deixar de lado essa vida e começar de novo"

-"Sim e depois?"- pergunto após o moreno fazer uma pausa no seu discurso.

-"Enquanto estive fora mantive-me a trabalhar num restaurante mas ainda continuava com aquela porcaria, aliás, ainda continuo. Arranjei o trabalho no restaurante, não por precisar do dinheiro, mas para tornar a minha vida mais normal e, como andava a ser investigado, foi uma maneira de despistar um pouco a polícia também."- suspira- "Numa noite como todas as outras, eu estava a servir às mesas no restaurante e a Mia apareceu para jantar, isto foi há cerca de um ano, ela estava sozinha e começou logo de certa forma a fazer-se a mim, eu estava solteiro, ela também e na mesma noite acabámos por nós envolver"

Eu deixo algumas lágrimas caírem, sei que na altura eu não tinha nada a ver com a vida dele mas ele está com ela até hoje.

-"Não chores"- pede-me.

-"Continua Zayn, o teu tempo está a acabar"- informo.

-"Foi só essa noite, eu não queria mais nada com ela só que ela ficou obcecada por mim, não me deixava em paz, aparecia em minha casa e no restaurante praticamente todos os dias mas eu pedia sempre para ela ir embora e nunca mais nos envolvemos, até que, passadas umas semanas da noite em que a conheci noite, ela pediu para se encontrar comigo alegando ter algo de muito grave para me contar, eu aceitei e, chegando ao local do encontro, ela encontrava-se sozinha, com um disco na mão dizendo que era para mim, para eu ver"- mexe-se no sofá aproximando-se um pouco de mim- "Peguei no disco, cheguei a casa e comecei a ver, era um disco da noite da morte da minha mãe, em que aparecia ela a sair de um carro amarrada mas só mostrava isso, o vídeo não estava completo.  Telefonei para a Mia e pedi-lhe que fosse a minha casa, ela fez o que eu havia pedido, quando ela chegou eu fiz-lhe várias questões, nomeadamente como é que ela tinha aquele vídeo, descobri que o pai dela é polícia e investigou a morte da minha progenitora, e eu nem sabia que tinha sido investigada a sua morte, ela prometeu dar-me o disco que contém todo o vídeo mas em troca eu teria de casar com ela"

Fico de facto muito surpreendida com toda a história que Malik acaba de contar.

-"Essa história é muito comovente e tudo mais Zayn mas não deixas de ser um imbecil por teres feito de mim parva"- resmungo- "E eu não sei se acredite nisso tudo"

-"Eu sei que já devia ter contado"- aproxima-se ficando mesmo encostado a mim- "É a minha mãe, eu não iria brincar com um assunto destes"

-"E voltaste para Perth porquê?"

-"Porque a Mia é daqui, estava só em Sydney, cidade onde eu residi estes últimos quatro anos, a terminar o curso de medicina, a fazer um estágio, e quando voltou quiz que eu voltasse com ela"- explica.

-"Mesmo que eu acredite em tudo isso, eu não posso ficar com alguém que vai casar, mesmo sendo obrigado"- explico calmamente.

-"Eu não sinto nada por ela, só quero saber quem matou a minha mãe"

-"Mesmo assim!"- suspiro"- "E tu nunca desconfiaste antes que a tua mãe tinha sido assassinada e não morrido da doença?"- pergunto curiosa.

-"Não, o Lewis também sempre acreditou que fosse da doença e o James também, eu cheguei a casa ao fim do dia e o corpo estava lá caído no chão, sem qualquer marca física, mas muito provavelmente, quem a matou foi a mesma pessoa que colocou o seu corpo dentro da nossa casa para tudo parecer um acidente normal"- limpa algumas lágrimas que haviam caído sobre o seu rosto- "O Lewis sabe que a morte dela foi investigada mas nunca mo disse, não entendo a razão, eu sei que ele não gosta de mim mas estamos a falar da minha mãe e ele sabe que não existia pessoa que eu amasse mais do que a ela"

Sim, eu compreendo a situação dele, parece tudo uma história de novela mas, infelizmente, é real. Eu acredito que ele esteja a dizer a verdade, não seria capaz de mentir sobre um assunto tão grave como este, ainda por cima tendo ele a ligação que tinha com a sua mãe. Ainda que entenda e já não esteja chateada, porque eu no seu lugar faria exatamente o mesmo, não é correto estar com alguém que vai casar ainda que nos amemos.

-"Eu lamento muito toda a situação, acredita que sim, tu sabes o quanto eu gosto de ti Zayn, devia ter-te ouvido mais cedo mas eu estava muito magoada"- encaro os seus olhos que parecem mais escuros do que aquilo que são devido à luz da sala não ser muito intensa- "Mas de qualquer das maneiras, tu vais casar com outra mulher"

-"Mas é a ti que eu amo"- agarra numa das minhas mãos e limpa com a sua outra mão o meu rosto com algumas lágrimas- "Não me deixes por uma coisa que eu não tenho culpa Elena, eu estou a ser obrigado a fazer isto, não consigo perder-te, não mais uma vez"

Aproximo o meu rosto do seu e encosto nos nossos lábios, algumas lágrimas misturam-se com o beijo, eu amo demais este homem. Ele tem razão, não o posso culpar por algo que ele não tem, efectivamente, culpa, estaria a mágoa-lo a ele e a mim mesma.

-"Promete-me que depois de teres o vídeo deixas aquela maluca"- peço assim que as nossas bocas se separam.

-"Claro que prometo Elena, eu amo-te muito"- acaricia o meu rosto.

-"Eu também te amo muito Zayn"- confesso.

Relapse (D.R Sequel) Onde histórias criam vida. Descubra agora