Cap. 4 - Sonho

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Três dias haviam se passado desde que seu pai voltou da viagem, Júlia os passou se afundando na leitura do livro da avó de Morgana aproveitando que estava de ferias, era completamente fascinante.

Aprendeu sobre os cristais, sobre magia de encantamento da lua cheia e principalmente sobre a comunicação por sonhos. Mal podia esperar para a chegada da lua cheia que por sorte seria justamente no dia em que a aprendeu. Precisava dormir cedo e, se possível, sonhar.

Ela adorava sonhar, mesmo que para ela fosse raro.

Aquela noite, Júlia se despediu mais cedo dos pais para dormir. Amanda estranhou já que a filha geralmente implorava para permanecer mais alguns minutos acordada, e agora iria dormir antes das 21h, entretanto não falou nada sobre, apenas abençoou a filha e lhe deu um beijo na testa. Júlia sabia que o que queria fazer poderia ser errado, mas sentia que precisava fazer aquilo.

Ela apenas fechou os olhos assim que se deitou na cama e respirou fundo, não demorou muito para que caísse em um sono tranquilo.

Então tudo se iniciou, em seus sonhos, uma mulher elegante com uma aura iluminada lhe visitou. Ela disse se chamar Irina, mas todos lhe conheciam como a mãe natureza.

No sonho, Irina lhe convidou para andar em uma floresta linda e iluminada pelos raios do sol, as flores desabrochavam por onde elas passavam. Era incrivelmente lindo. No caminho, contou a história de uma garota filha de uma poderosa fada que se apaixonou por um feiticeiro.

Na historia, a fada teve um romance proibido com o feiticeiro, era uma regra que fadas e feiticeiros permanecessem longe um do outro, todos eram livre para escolher quem amar, mas as fadas precisavam manter seu sangue puro. A mulher da história não era uma simples fada, além de muito poderosa ela estava prestes a assumir sua responsabilidade com o reino chamado Triora, já o feiticeiro era um exilado por traição.

A corte havia lhe decretado pena de morte por conspiração, mas a fada sabia que ele era inocente das acusações e lhe escondeu em uma caverna protegida por um feitiço temporário.

Em um dos dias em que estiveram escondidos, a fada e o feiticeiro tiveram uma relação sexual, onde daí uma criança foi fecundada. No dia seguinte, guardas do castelo onde a fada morava conseguiram desfazer o feitiço que lhes escondia e os pegaram, levando a fada para o reino e condenado o feiticeiro para a forca. Foi uma das coisas mais cruéis que um ser mágico poderia cometer.

A mãe da fada lhe fez jurar lealdade ao reino e nunca mais cometer um feito como aquele e acima de tudo, aceitar seu destino como herdeira do reino. Além disso, a fada foi obrigada a ver a morte de seu amado do lugar privilegiado pela realeza, onde viu com clareza a cabeça sendo cortada. Foi a cena mais terrível que já havia presenciado.

E como se não bastasse tudo o que viu, assim que sua filha nasceu sua mãe a exilou em um mundo paralelo, onde as chances de ser encontrada seriam mínimas.

Mesmo abalada pela perda da filha e presa por um juramento de nunca abandonar as terras se não fosse por convocação, a fada decidiu mandar seus aliados ao mundo onde a criança foi deixada para que a procurassem. Mas a criança parecia ter um tipo de poder desconhecido que parecia bloquear qualquer rastreamento. E como se não bastasse, os dias nesse mundo passavam mais lentos do que na terra de Triora.

Muitos de seus aliados se perderam no mundo e nele fundaram uma cidade chamada Triora, em homenagem à sua terra natal.

Irina parou de andar e Júlia a imitou, a noite parecia estar chegando na floresta do sonho. A mulher sorriu para Júlia e acariciou seus cabelos, e então, Júlia entendeu que aquela fada da história era Irina e que a criança era Júlia.

Agora, Irina havia vindo lhe buscar. Ela era sua verdadeira mãe.

Júlia acordou assustada, agora sabia o que significava aquela pedra e a sensação de despedida em seu peito, sabia que o que tinha que fazer era o certo e sabia qual era o seu verdadeiro destino e lugar.

Chegara a hora de voltar para seu lugar em Triora, Irina precisava da filha por algum motivo. Amanda e George teriam que ser fortes, talvez ela não retornasse tão cedo.

Mais de 3000 anos haviam se passado em Triora desde que Júlia renasceu como uma MacLaine, dezessete anos haviam se passado em sua nova vida. Ela era a herdeira direta de uma fada e um feiticeiro, ela foi a primeira bruxa a ser concebida.

Quando Júlia partiu naquela madrugada, toda a história da sua verdadeira terra natal se reorganizou. Agora, Júlia era a filha de Irina, herdeira da natureza e de Triora. Uma terra de seres mágicos e de poderes ainda desconhecidos por ela.

Contos De BruxariaOnde histórias criam vida. Descubra agora