- Não acredito nisso, Arthur - falei, rindo da idiotice do meu melhor amigo.
- Eu precisava de alguém pra passar vergonha comigo, ué!
Nisso ele tinha razão, ele estava realmente passando vergonha vestido de Papai Noel e dançando com algumas crianças que pediam de vez em quando. Mas vestir o nosso cachorro de rena era exagero!
Sinceramente, eu nunca acreditei no velhinho, mas aquele garoto estava sendo o melhor Papai Noel que eu já tinha visto na vida. Aquele era o quarto natal que eu passava com sua família enorme e nas quatro vezes ele fez a alegria das crianças e dos velhinhos vestido daquele jeito. Era incrível ver a alegria deles, diferente da minha família, que provavelmente estaria dormindo naquela hora.
Eu sempre adorei o natal, com comida, festa e o verdadeiro significado da coisa toda, que era o nascimento de Jesus, mas aquele ano estava sendo o melhor até agora desde o momento em que Gean entrou pela porta.
- Meu Deus - sussurrei no ouvido de Arthur, que estava distraído comendo uma rabanada, o que eu odiava. - Quem é aquele?
- Meu primo Gean - ele respondeu, dando de ombros.
Na minha cabeça, o garoto andava tão divinamente que parecia estar andando em câmera lenta, como se ele tivesse ensaiado aquilo tantas vezes que chegasse a parecer natural. Enquanto ele andava eu o admirava: os cabelos loiros alinhados e o seu corpo alto e levemente forte. Me senti de certa forma especial quando, por uma fração de segundo, ele olhou em minha direção e deu uma piscadela.
- Por que ele não veio nos outros anos? - foi a primeira dúvida que eu tive.
- Morava no exterior. - respondeu, dando de ombros novamente.
- Ele gosta de ruivas? - deixei escapar e, antes que eu pudesse perceber, entreguei pra Arthur a minha intenção.
- Lívia, não vai me dizer que você está interessada no Gean, vai?
Demorei um pouco pra responder. Ele me olhava com uma expressão estranha, talvez uma mistura de deboche com ciúme.
- E se eu estiver? - perguntei, fazendo uma carinha de cachorro.
- Ok, eu sei o que essa cara significa. Mas me diz, o que é que eu posso fazer?!
- Não sei... Mas vai lá, por favor!
- Tá, mas você vai ficar me devendo uma - ele revirou os olhos verdes. - O que eu não faço por você, hein?
Sorri pra ele enquanto ele se afastava, pra depois voltar com o primo maravilhoso. Eu tinha o melhor amigo do mundo.
Depois de muito tempo jogando conversa fora, eu estava cada vez mais derretida pelo Gean, que se mostrava ainda mais legal a cada assunto novo que surgia. Descobri que ele era um ano mais velho que eu: tinha dezoito anos, e em seis deles ele morou na Argentina, voltando há apenas dois meses. Descobri coisas básicas e idiotas também como cor e comida preferida, o que gostava de fazer e algumas outras que eu nem lembrava mais. Arthur estava assumindo o seu papel de Papai Noel/Dançarino/Devorador de Rabanadas, nos deixando a sós. O que me faltava agora era apenas a coragem.
- Daqui a pouco, quando der meia noite, eu vou no asilo da outra rua distribuir presentes por lá - Gean falou. - Descobri que eles estarão acordados ainda, então comprei algumas coisinhas para presenteá-los. Quer ir comigo?
- Claro! - falei, um pouco empolgada demais. - quer dizer... Se não for incomodar, eu adoraria.
Ele deu uma risada, mostrando pra mim o seu sorriso perfeito cheio de dentes bancos e alinhados.
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Além Das Meias
Storie breviLívia adora o natal. Há quatro anos ela comemora essa data tão especial com a família do seu melhor amigo, Arthur, mas aquele estava sendo o melhor natal da sua vida: Gean, que tinha passado tanto tempo fora do país, tinha voltado e estava mostrando...