Prólogo {Helena}

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P.O.V Helena Del Rio {EUA}

A minha vida era boa, lógico que não era perfeita, mas era boa. Vivia em Austin, no Texas, com os meus pais. Nossa vida era pacata.

Minha mãe era professora de francês em uma escola e meu pai era corretor imobiliário. Mas minha perfeita imperfeição estava com os dias contados, meu pai fora transferido de Austin para Dallas. Claro que teria algumas coisa para mudar a minha vida, do contrário não haveria história.

E lá estava eu, em meus 12 anos, deixando tudo o que eu conhecia para trás. Como se não bastasse a mudança, ainda fomos viajando de carro. Claro que eu reclamei o caminho inteiro, se eu soubesse que seria a última vez que veria meus pais com vida teria aproveitado mais e reclamado menos.

Meu pai tentou desviar de um bêbado andando na estrada e acabou batendo o carro em uma árvore. Ele, meu pai, morreu na hora. Minha mãe chegou a ser socorrida, mas pegou uma infecção no hospital e não resistiu.

E eu ? Bem... Fiquei um pouco mais de uma semana de coma induzido e mais duas semanas me recuperando. A mas é claro que você quer saber com quem eu iria morar, afinal eu tinha apenas 12 anos.

Eu achava que iria ficar com a mãe do meu pai, minha abuela, dona Esperanza del Rio. Mas a vida e as peças que ela nos prega...

"Você receberá auta em breve, não se preocupe quanto a isso" O médico afirmou "O inchaço na perna diminuiu, está quase 100% "

"Para ser sincera doutor, eu quero saber com quem vai ficar a minha guarda"

Como se estivesse esperando uma deixa, a porta se abriu. Entrou uma mulher na beira dos 40 anos, os cabelos eram platinados, os olhos me deram calafrios, eram de um verde totalmente assustador. Não pude deixar de reparar que ela me lembrava uma cobra cascavel.

"Como ela está doutor ?" A mulher-cascavel perguntou

"'Ela' está aqui, quem é você ?"

"Lógico que sua mãe não falou nada de mim" ela disse em um tom amargo " Meu nome é Cosette Ozanan, sou irmã da sua mãe, sua tia, ou melhor, sua responsável legal desde que seus pais faleceram"

O fato de minha mãe ter escondido de mim que tinha uma irmã ainda era aceitavel, mas eu não iria viver com aquela cascavel vestida de Dior nem morta.

"E minha abuela ? Não deveria ser ela a ganhar a minha guarda ?"

"Sinto muito mon cher, mas sua avó não tem condições de te criar" Disse ela com um suspiro "Irá morar comigo em Páris petit, fará novos amigos... Sua mãe lhe ensinou francês não é ?"

"Você está louca se acha que eu vou morar com você sem falar com a minha abuela antes"

"Tudo bem ma petit" Cosette suspirou "Trarei sua avó aqui, ela está lá fora"

Minha abuela ja fora uma jovem muito bonita, disso eu sabia. Hoje, seus cabelos espessos estão brancos e sua pele tem manchas de sol.

"Minha doce Helena" Disse ela dando-me um beijo na bochecha "Não sei como deve estar sendo para você a morte de seus pais"

"Abuela eu só quero a verdade, eu vou ter que ir morar com essa hija de puta vistiendo Dior ?"

"Olha a boca Helena" Ela me repreendeu "Meu amor, meu dinheiro mau me sustenta, seu pai que me ajudava, sem ele quase não conseguirei cuidar de mim...Vai ficar melhor com a sua tia, confie em mim"

Senti as lágrimas nos meus olhos, pedindo para escapar e escorrer no meu rosto, mas eu não ia dar esse gostinho pra ninguém.

"Je vais avec vous, mais juste pour être clair: je ne vous aime pas."

"Você iria comigo querendo ou não" Disse Cosette "E eu não me importo que você não gosta de mim"

O enterro dos meus pais fora na semana seguinte. Eu ja havia recebido alta do hospital fazia três dia e estava no hotel com Cosette.

Eu via todos aqueles rostos no enterro, amigos dos meus pais, alunos da minha mãe, vizinhos da nossa antiga casa mas nenhum deles me trouxe alívio. Eu sentia um enorme vazio. Chorar me fazia sentir pior mas eu não consiguia aguentar, sempre que ninguém olhava as lágrimas escorregavam do meu rosto.

O enterro havia sido em Austin, prometi a mim mesma que nunca mais voltaria naquela cidade, cada esquina lembrava os meus pais, cada rosto que eu via me vinha a vã esperança de serem eles. Cada lembrança cortava um pedaço do meu coração, que já não sobrara muita coisa.

Talvez ir para Paris realmente fosse uma coisa boa deixar esses pensamentos tristes para trás, há um oceano de distância.

Nem uma das meninas que se diziam minhas amigas apareceram no enterro dos meus pais, elas nem mesmo falaram comigo em nem um momento depois do acidente. Como meu pai dizia 'Os únicos amigos de verdade são aqueles que ficam com você nos piores momentos'.

Cosette não se incomodava por eu não a chamar de tia, ainda bem, não acho que conseguiria chama-la. Não gostava dela, era uma questão de afinidade. Ela com aquele nariz empinado e com roupas caras querendo mandar em mim como se fosse substituir a minha mãe.

Enquanto Cosette fazia o check-out no hotel eu analisava o rosto dela, procurando alguma coisa que lembrasse a minha mãe, o mínimo possível. Os cabelos não eram parecidos, nem os olhos, mas elas tinham as mesmas sobrancelhas e a mesma boca.

Quando Cosette se sentou ao meu lado deixei ela cuidando das minhas malas e esperando o táxi enquanto eu ia no banheiro. Lavei os meu rosto e me encarei no espelho. Eu tinha os cabelos espessos da minha abuela só que eles eram dourados, meus olhos eram castanhos igual aos do meu pai e eu tinha o nariz de minha mãe.

Eu podia estar em qualquer lugar do mundo, aqui ou em Paris, mas eu iria levar meu pais para sempre comigo.

Voltei para o saguão do hotel a tempo de pegar o táxi, Cosette tagarelava sobre como a França era melhor do que os EUA. Eu não liguei, minha mente estava longe, estava com os meus pais, onde quer que estivessem.

Então eu rezei, rezei para que se existisse um Deus que ele cuidasse das almas dos meus pais, para que não tenham estejam sentindo dor. Nunca acreditei que existisse vida após a morte mas se existe espero que a vida dos meus pais seja boa.

Observei a praça perto do hotel, eu havia ido lá com os meus pais. Me lembro que eu havia caído e machucado a perna, chorei muito naquele dia. Meu pai tranquilamente lipou as minhas lágrimas enquanto minha mãe cuidava do ferimento.

"Helena, guarde essas lágrimas para algo mais importante meu amor"

Na época não havia entendido o que meu pai queria dizer com aquilo, mas hoje eu entendi e chorei, chorei pelos meus pais, chorei pela minha abuela, chorei por mim. Não me importei que Cosette me olhasse esquisito, eu apenas chorei e aguardei, aguardei a chegada do meu destino e o que quer que ele me trouxesse.

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