Dois

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— Cadê a comida? — soa uma voz estridente do final da mesa.

— Eu estou com fome! — mais uma criança impaciente.

— Fiquem quietos! — é a vez de Joanne falar — Ou vocês não almoçam.

Ah, o almoço. A hora mais esperada do dia. São 100 pessoas na Casa 55, de modo que a pouca comida que conseguimos nunca é suficiente. Temos que revezar, as pessoas que almoçarem, não jantam, e as pessoas que não almoçarem, jantam. Acontece que o almoço é bem melhor e mais bem servido que a janta, de modo que é muito mais disputado. As crianças pequenas geralmente ficam com o melhor, enquanto nós adolescentes e adultos temos que comer lanchinhos de dia e comidas prontas à noite. Joanne serve o almoço preparado por ela e pelos outros adultos para os pequenos, ao passo que os mais velhos brigam por um pão ou uma furta. Afinal, precisamos comer algo para ter energia.

Estou sentada ao lado de Neptune e Fawn, meus melhores amigos. Os dois são mais velhos que eu, ambos com 21 anos. Já estão lá a mais tempo e tem muito mais responsabilidades e tarefas diárias. Converso com Neptune enquanto Fawn tenta pegar pão para nós. Ele é o homem mais calmo que já conheci. Não sei como consegue, visto que esse lugar é sempre barulhento e movimentado.

— Não estou com fome hoje — diz ele, recusando o pão francês que minha amiga conseguiu arranjar —  Dividam vocês.

Fawn revira os olhos, como se estivesse de saco cheio dele. Ela o considera irresponsável, infantil e sem noção. Ainda assim são amigos, mas eu não concordo com ela. Acho ele bem responsável, para falar a verdade. Ele só não gosta de demonstrar essa responsabilidade tanto quanto ela.

— Não comece! Você vai comer sim. Eu consegui três pães para nós e você vai recusar? Tenha dó! — ela briga, de modo que meu amigo se vê obrigado a comer — Além do mais, você precisa de energia mais do que o normal hoje. Vamos para a cidade, lembra?

Neptune não responde, enfiando o pão seco na boca. Andar pelas ruas vendendo objetos não é a experiência mais agradável. Especialmente numa Cidade Caída, onde tudo são ruínas. Ele não está nem um pouco ansioso para isso. Nem eu.

Ficamos os três em silêncio enquanto comemos. Sou a primeira a terminar, como sempre. Quero mais, mas sei que não posso. Peço licença para ir ao banheiro e só volto uns minutos depois, quando quase todos os sentados à mesa já acabaram sua refeição. Observo as pessoas perto de mim, adolescentes e adultos que já conheço bem, e de repente meus olhos captam uma figura mais nova. Não levo muito tempo para reconhecê-lo, o garoto com quem falei mais cedo. Quero chamá-lo para ver se ele me reconhece, mas então percebo que ainda nem sei seu nome.

— Fawn, você sabe o nome daquele garoto? — pergunto, apontando para ele. Ela segue meu dedo.

— Acho que é Jonathan, por quê?

— Eu falei com ele mais cedo. Ele é novo.

Eu chamo seu nome e ele procura a origem do som. Quando me encontra, não tem a reação que eu esperava. Arregala os olhos e em seguida olha para baixo. Eu solto uma risadinha.

— É Jonathan, não é? Ou eu errei seu nome? — me dirijo novamente a ele, com um sorrisinho sarcástico no rosto.

— Sim — sua voz soa baixa, mas não por ele estar longe, está apenas a uns três assentos de distância. Ele está com vergonha.

— Bom, eu sou a Troian! Eu estou no quarto 12, qual é o seu?

Ele hesita um pouco em responder, mas logo vê que não tem problema.

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⏰ Last updated: Dec 13, 2016 ⏰

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Os Filhos RenegadosWhere stories live. Discover now