Capítulo 5

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‒ Você ficou maluca?

Tinha acabado de contar a Francine sobre o gato. Como esperado, ela não achou uma boa ideia.

‒ Ele é muito mansinho. Não vai me causar problema.

‒ Não estou preocupada com você, Reagan ‒ ela rebateu, esbanjando honestidade como sempre. ‒ Coitado do pobre animal.

‒ Há, há!

‒ Estou falando sério. Você não para em casa por causa do trabalho, ainda mais agora que foi contratada para tocar no Sheba. O bichinho vai ficar sozinho o dia inteiro!

Suspirei enquanto brincava com o gatinho, que estava em cima do balcão da cozinha e tentava pegar meu dedo no ar. Não queria admitir, mas minha mãe estava certa. Eu não passaria muito tempo com ele, mas, de qualquer jeito, eu não poderia deixá-lo abandonado na rua e, ainda por cima, ferido! Além disso, cuidar de um gato não devia ser muito difícil. Este aqui pelo menos não fazia nada o tempo inteiro além de me seguir e dormir!

‒ Eu não podia deixá-lo na rua ‒ confessei, esperando que minhas palavras aflorassem seu lado sentimental. ‒ Estou cuidando dele, vou levá-lo ao veterinário ainda hoje para poder ver a pata. Depois disso, posso procurar um abrigo.

Francine ficou em silêncio do outro lado da linha. Meu palpite era que estava pensando no assunto e, muito provavelmente, iria ceder.

‒ Tudo bem ‒ ela finalmente falou. Um sorriso surgiu em meus lábios. ‒ Eu sei que você não vai realmente procurar o abrigo, mas fazer o quê. Tudo bem.

Dei uma risada.

‒ Se estiver tão preocupada assim, pode vir cuidar dele de vez em quando.

‒ E eu por acaso tenho cara de desocupada, menina?

‒ Você é aposentada. À primeira vista, é isso que é.

‒ Então olhe de novo, porque desocupada é a última coisa que sou! – Uau, ela tinha se ofendido. ‒ Preciso cuidar do meu jardim e fazer ioga. Estou com dificuldade para dominar a "Savasana".

‒ Não é aquela posição em que as pessoas só ficam deitadas todo abertas? ‒ perguntei, tentando lembrar da conversa que tivera com Francine sobre o mesmo assunto. ‒ Sabe, eu faço isso sempre que vou dormir.

‒ Não seja debochada, Reagan. Acho que te eduquei melhor do que isso. E, obviamente, a "Savasana" é muito mais do que ficar deitada e roncar que nem uma porca, como você faz.

Touché.

A melodiosa risada de Francine ecoou do outro lado da linha.

‒ Preciso ir. Já estou atrasada para a aula. Tenha cuidado com esse animal.

‒ Tá, tá. Mas espera, por que me ligou?

‒ Ah! Verdade, tinha esquecido. Queria saber se vai vir aqui na véspera de Natal.

‒ Claro! Não foi isso que combinamos?

‒ Não sei como estão os seus horários no Sheba. Talvez não tenha tempo de pegar o ônibus até Tiburon.

‒ Verdade, não tinha pensado nisso. Amanhã é meu primeiro dia, então vou conversar com o meu chefe, daí te ligo.

‒ Tudo bem. Não estrague tudo.

‒ Vou fazer o possível, mãe ‒ resmunguei.

Sonata à Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora