Capítulo 4

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Na manhã seguinte, acordei com as mordiscadas de bichano na ponta fina do meu nariz. Abri primeiro um olho, espreguiçando-me. O gato lambeu meu nariz e o mordeu novamente, como se estivesse me dizendo para acordar logo.

‒ Já vou, já vou ‒ resmunguei, bocejando demoradamente.

Estendi a mão para acariciar a cabeça dele, mas acabei errando o alvo e pousei minha mão em algo molhado.

‒ Ah, não! Não, não, não! Você mijou na minha cama? ‒ choraminguei, apontando para o lençol com uma pequena poça úmida. Bichento me olhou de modo suplicante, depois mirou a mancha. Ele parecia arrependido. ‒ Ok, foi mal, exagerei um pouco. Mas você precisa entender que não pode fazer xixi na minha cama, sabe? Eu durmo aqui e você também, então temos que manter o ambiente limpo.

Eu realmente estava discutindo higiene pessoal com um gato?

Esfreguei o rosto.

‒ Certo, vamos fazer o seguinte. Eu vou tirar esse lençol e levar para lavanderia. Enquanto esperamos, vamos a uma loja de animais comprar ração e uma caixinha de areia para você. Parece bom? ‒ O gato lambeu o nariz e deitou de barriga para cima. Não pude deixar de sorrir como uma boba. ‒ Que bom que você concorda. Agora: café.

Saí do quarto com o gato no meu encalço. Abri o armário à procura do café. Nada. Só tinha uma caixa de Cheerios e foi exatamente o que peguei. Achei uma tigela e despejei o restante do cereal, procurando leite na geladeira. Só havia um restinho, mas foi suficiente. Enquanto comia sentada na bancada, gato tentava subir pela minha calça. Dei uma boa colherada e sacudi o pé, derrubando o bicho no chão. Quase cuspi o cereal ao rir.

‒ Quer um pouco de leite? Vou te dar um pouco.

Saltei da bancada e deixei um pouco de leite cair no pote de plástico vazio. O outro em que tinha colocado o peixe estava fedendo, então o lavei rapidamente, alternando as passadas da esponja com colheradas no Cheerios. Olhei por cima do ombro e vi o bichano se deliciando com seu café da manhã. Fui correndo até o quarto e troquei de roupa. Vesti uma legging, uma camisa roxa e fina de manga comprida e meu casaco cinza com capuz. Calcei o tênis e me aqueci dando pulinhos. Gato apareceu do nada e, com um salto, se jogou nas minhas pernas. Ele parecia se divertir muito com aquilo.

Segurei-o no colo e então tive uma ideia.

‒ Quer ser meu Pikachu? ‒ perguntei sem esperar uma resposta. Olhando no espelho de corpo inteiro, levei o filhote até meu ombro e o soltei. O resultado não foi como o esperado. O bichano escorregou do meu ombro e não conseguiu se segurar. Consequência: bateu na cômoda e caiu no chão.

‒ Puta que pariu! ‒ gritei enquanto me ajoelhava para segurá-lo. ‒ Tudo bem?

Ele balançou a cabeça, tonto, e mordiscou minha mão na primeira vez que tentei pegá-lo.

‒ Ok, eu mereci ‒ confessei. Ele então me deixou segurá-lo. ‒ Sem Pikachu.

Dei um beijinho em sua cabeça e o coloquei no chão para poder tirar o lençol. Embolei o pano e o coloquei em um saco de compras. Fechei o casaco até o peito e coloquei o bichano no bolso. Ele era tão pequenino que cabia ali com facilidade.

Antes de sair, guardei o celular e uma nota de cinquenta dólares no mesmo bolso, então peguei a chave e destranquei a porta, fechando-a com um baque. Depois de comprar tudo o que precisava para o gato, teria que sair de novo para fazer compras. Tanto a geladeira quanto o armário estavam completamente vazios. Talvez fosse uma boa ideia ir ao restaurante do sr. Yong logo, logo.

Assim que cheguei ao patamar, lembrei que tinha deixado algo muito importante dentro do apartamento. Larguei a sacola com o lençol no chão e botei o bichento na cestinha da bicicleta, depois subi as escadas de dois em dois degraus. Já dentro do estúdio, revirei meu armário à procura do que queria. Após alguns minutos, finalmente achei e voltei correndo para o hall do prédio. Fiquei aliviada ao ver que o gato ainda estava ali, sempre muito comportado.

Sonata à Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora