Depois de um longo fim de semana de reflexão compulsiva, Augusto se viu diante do surreal, não sabia que tipo de realidade seria a sua a partir de agora, tudo havia mudado... ele já se identificava como outra pessoa e desprezava completamente o que um dia já foi.
Ainda com receio do que poderia acontecer, agiu naturalmente, até mesmo nas situações que ele sentia que deveria argumentar sobre o comportamento extremamente machista e agressivo de seu pai... porém, preferiu ignorar tudo o que estava ao seu redor, afinal, uma longa semana estava para começar.
Em uma segunda como outra qualquer, ele se levanta e pensa em tudo o que sempre acontece na sua semana e já se vê indo totalmente ao contrario daquela sua direção de sempre, estava um pouco disposto a perder um pouco de falsa admiração que recebe por isso, um ativista social em ascensão, eu diria.
Depois de alguns minutos no banheiro, percebe que são 7:00, nem um pouco empolgado sequer, se arruma e desce para tomar um café, seu pai, pergunta como vai o seu " Marlon Brando " e ele, como sempre, acena e diz que tudo está bem, com um leve diferencial, simplesmente já não estava mais.
Augusto toma o seu angustiante e desconfortável café da manhã... após dez minutos, se levanta e vai a pé para a escola.
A angústia toma conta de Augusto ao perceber que restam a ele apenas duas quadras preciosas, que lhe afastariam do fim.
Enquanto se move lentamente, ele escuta uma voz familiar gritar o seu nome, uma voz íntima, pra falar a verdade, Carla aborda Augusto e o interroga sobre a noite passada, ele responde tudo.. porém, da forma mais subjetiva possível, e como se tivesse dito o óbvio, o que o deixou extremamente desconfortável, enquanto Carla pensou ser uma simples brincadeira.
Após alguns minutos, os dois chegam juntos a escola, logo, guardam seus materiais escolares nos armários que ficam logo após a entrada principal.
Ela deseja boa sorte a Augusto, pois, suas aulas seriam diferentes naquele momento, a Dela seria uma aula experimental, segundo ela, no segundo andar e a dele, no primeiro andar na sala dez, que ficava no único corredor a esquerda no primeiro andar, depois de uma fileira de salas que parecia interminável.
Enquanto Augusto andava em direção a sua sala, as pessoas, o reconheciam, podiam vê-lo através das janelas das salas, os mais dispersos das aulas, é claro, como de costume, alguns desses distraídos, eram seus conhecidos, a cada sinal de positivo recebido, era como uma agulha na garganta, que havia de ser engolida, era como se todos já estivessem julgando Augusto enquanto ele andava em algum tipo de " passarela da vergonha ".
Ao chegar na frente da porta da sua sala, não conseguiu olhar pra porta sem que sua mão tremesse apenas mais do que suas pernas, parecendo um cão após a chuva, de tão trêmulo, Augusto tenta disfarçar, mas sua professora, Dona Alessandra, o vê, trêmulo, fora da sala de aula.
Após alguns segundos olhando para Augusto, Alessandra pensa que ele estaria nervoso por simplesmente não poder entrar na aula, então, em uma oferta caridosa, o convida para entrar, seja lá qual for o motivo pelo qual ele achasse que estava impedido de entrar, regido o seu pensamento , ela levanta de sua cadeira, caminha até a porta, abre e chama Augusto pelo nome, na frente de todos.. justamente no dia em que ele estuda com Pedro.
A professora o chama para entrar mais uma vez, ele finge uma pequena tonteira, mas olha para ela e aceita o convite.
Quando olha para dentro da sala, esperando ser bombardeado de maus olhares de seu amigo, simplesmente não o vê na sala de aula.
Ele se sente aliviado com as boas novas da situação e simplesmente se senta e finge prestar atenção em mais uma das chatas aulas de Alessandra, quando, na verdade, não consegue tirar o pensamento de Pedro.
E se pergunta por que esperar maus olhares se Pedro havia gostado do que ocorreu? Augusto começa a perceber que a preocupação surge apenas dele, e que é, simplesmente inexistente.Continua.