Entrevistas com autores destacados na categoria de Ficção Histórica no Wattpad.
Capa do livro by @LauraaMachado
Direção e edição das entrevistas @JessT90
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Apesar de se definir em seu perfil do Wattpad como um orc, que, segundo definição é uma criatura mítica deformada, o autor @Henggo - brincadeira com o nome de Henrique Gomes Gonçalves - tem em sua escrita uma forma definida que traz junto com as vidas entrelaçadas de duas Eunices, uma histórica e outra comum, temas que ainda povoam a discussões contemporâneas. Seu conto "Conversas com Miss Simone" ficou em segundo lugar no concurso Mulheres Históricas do perfil @FiccaoHistorica. A história traz a presença marcante da grande cantora, compositora e pianista de jazz e blues e ativista dos direitos civis dos negros norte-americanos, Nina Simone (1933-2003).
Desde 2015 na plataforma, Henrique também é autor dos contos: "As janelas da alma", "Sorriso branco no escuro" e "Um grito chamado Carmen" além das obras "As árvores mágicas do Sr. Petrus" (Fantasia) e "O garoto da plataforma 11" (Romance).
Seu livro de cabeceira é "Precisamos Falar sobre o Kevin", da escritora e jornalista americana Lionel Shriver. "Releio todo semestre, religiosamente; quase um ritual", conta Henrique.
Quando você começou a escrever?
Comecei bem cedo, por volta dos 10 anos, quando olhava para os livros paradidáticos da escola e, por achar muitos deles "sem aventura", reescrever as histórias do meu jeito. Porém, só comecei a estruturar esse fazer literário bem mais tarde, após os 15 anos.
Qual foi sua primeira obra publicada no Wattpad?
Foi o conto sobrenatural "A Porta Trancada".
Em quais autores (as) você se inspira para escrever? Poderia indicar obras deles (as)?
Eu adoro a Lygia Fagundes Telles e o modo como ela consegue traduzir emoções por meio das palavras, brincando e jogando com o texto; é uma inspiração. Dela, indico "Antes do Baile Verde" – tanto o conto quanto a coletânea de mesmo nome. Outros dois que me fascinam é o C. S. Lewis e suas "Crônicas de Nárnia" – que me acompanha desde criança – e Stephen King, que me ensinou a "polir" o texto com o seu "Sobre a Escrita" e prender o leitor através de "It - A Coisa" – livro de terror que li na infância e contribuiu para a minha fobia de palhaços...
"Uma conversa com Miss Simone" foi sua primeira incursão no mundo da ficção histórica? Como foi desenvolver algo do gênero?
Sim, foi minha primeira incursão no gênero e um grande (e agradável) desafio, pois nunca tinha lidado com um texto ficcional cujo personagem central existiu e, por isso, tem trejeitos, histórias e sentimentos pré-definidos. Adaptar isso a uma estrutura ficcional foi um belo aprendizado.
Quais suas técnicas na hora de desenvolver uma narrativa com pano de fundo histórico?
Primeiro, pesquisar e apurar os dados, com todas as suas minúcias e curiosidades. Depois, fazer um roteiro (nem que seja básico) de modo a observar pontos de destaque desse conteúdo histórico e também uma linha de acontecimentos – e, nesse ponto, já ir elaborando uma subtrama que se adapte a esse contexto.
Qual seu maior desafio na hora de escrever?
A escrita é um tipo de desafio agridoce: te traz muito prazer, mas também muitas dores de cabeça. No meu caso, é ter foco; manter e seguir um ritmo de escrita diário sem "encontrar desculpas" para não escrever.
Por que escolheu Nina Simone como sua personagem no conto?
Eu gosto da força que Nina passa através da música; da cabeça erguida ao piano, enfrentando as pessoas em uma época em que uma pianista negra era considerado um ato de "desrespeito" diante de uma sociedade tão preconceituosa. Foi uma mulher problemática, polêmica, mas, acima de tudo, que nunca se calou e soube se fazer ouvir. Quando eu soube do concurso, Nina Simone foi a escolha imediata.
Seu conto discute questões como preconceito racial e autoestima. Como a conturbada vida da Miss Simone o inspirou a trazer esses temas em uma narrativa?
Nina lutou ao lado de nomes do movimento de resistência negra nos Estados Unidos, como Martin Luther King e Malcon X (dois extremos de um mesmo objetivo) e conseguiu traduzir toda a sua indignação por meio da música. Quando eu ouço Miss Simone, respiro tudo isso, sinto-me energizado e impulsionado a refletir. Eu precisava levar essa força para o texto; eu precisava gritar.
Quais ficções históricas você recomenda para os leitores?
"Quando Nietzsche Chorou", do Irwin Yalom é uma grande obra do gênero, capaz de gerar boas reflexões, e também – esse mais ficcional, porém, com elementos históricos bem traduzidos – "O Menino do Pijama Listrado", do John Boyne, seria uma interessante obra de boas-vindas ao gênero.
Para quem quer conhecer mais da obra da personagem trazida a vida pelo Henggo, eis uma das mais famosas músicas dela: Mississippi Goddam, adotada como um hino do ativismo pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, fala sobre o assassinato de crianças negras em uma igreja no Alabama, em 1963.