- Está tudo bem, prima? – preocupou-se verdadeiramente – A criatura te feriu?
Minha voz custou a sair, e custou mais ainda reconhecê-lo – Sim... Apenas uma dor de cabeça forte... Primo – quando por fim lembrei-me dele, escondi meu rosto em seu pescoço e dei vazão ao meu desespero – foi horrível, primo! Eu comecei a simplesmente esquecer tudo! De minha mãe, da minha cidade, de você! – Rodrigo me abraçou com força, e me senti segura em seus braços. Quando os outros voltaram algum tempo depois, estávamos abraçados no chão.
- Vocês estão bem? – perguntou o dono da casa. – O que diabos era aquilo?
- Ele a pegou de jeito – disse em tom sério meu primo – E aquilo era um Devorador de Palavras. Só nos dê mais um tempo, ok? Já explicamos tudo. – voltou-se para mim, colocando a mão em meu rosto. – Está melhor, Pati? - Fiz que sim com a cabeça, colocando minha mão sobre a dele. – Então temos que contar tudo para eles. Eles precisam saber. – começou a contar enquanto se levantava e me ajudava a fazer o mesmo - O que eu sei...
Eu o interrompi. – Deixe que eu conto. Afinal, isso tudo começou comigo. Eu não sei COMO aquilo surgiu, mas, pelo que pesquisei, trata-se de uma criatura ancestral. Tudo começou há algumas semanas atrás, quando notei que algumas palavras estavam sumindo. – E assim, palavra por palavra, experiência por experiência, narrei tudo o que aconteceu comigo até ali. Para quem escutasse de fora, teria certeza que dessa vez eu era a mestre de jogo e estava interpretando alguma personagem chave com informação da missão dos heróis. Meu primo e meus novos amigos ouviam com interesse, tal qual aventureiros, atentos à quaisquer informações que poderiam ser usadas. Conclui – E, por fim, descobri essa equação matemática que o afasta, e descobri que os druidas celtas possuíam um jarro de barro com runas que eles usavam para manter essas criaturas presas. – Me virei para o dono da casa – PC, Rodrigo me contou que a tua mãe é ceramista, né? Será que conseguiríamos fazer um jarro no forno dela?
- Olha, acredito que sim – respondeu. Por sua expressão ele ainda não aceitava totalmente o que havia vivenciado – Mas tu acha que vai funcionar?
- É nossa única chance. – respondi – Acredito que, quando eu atraí a criatura lá no parque com Rodrigo, e agora aqui, eu tenha tornado todos nós alvos para ele. E, imagino eu, agora tudo o que cada um de nós fizermos poderá ampliar suas opções de alvos também. Assim, a única chance que temos é aprisioná-lo e deixa-lo em um lugar onde ninguém vai achar. Vocês conhecem um lugar assim por aqui? – antes que alguém respondesse, lembrei-me de uma velha fazenda abandonada. Ficava para lá da "minha" colina. Havia um poço lá, e eu poderia baixar o balde até o fundo do poço. Com sorte estaria seco, e o jarro, nosso piser ficaria em segurança.
- Bom... – começou a dizer PC, um pouco mais confiante de que o que acontecera, bem como tudo o que eu dizia era verdade – Então vamos fazer esse jarro de uma vez. Podemos fazer essa semana, que acham?
- Pati vai para casa amanhã. – interviu secamente Rodrigo - Precisamos começar isso hoje.
- Bem... certo. Vamos ao atelier da minha mãe, então. Ela deixa a chave aqui pendurada.
Fomos todos ao local. Era uma construção atravessando o pequeno jardim decorado com vasos e jarros, com as mais diversas pinturas. Possuia também algumas estatuetas de anjos e outras figuras, também de barro. Sem dúvida a mãe dele era uma mulher talentosa. Esperava apenas que ele tivesse algum talento. A sala não era muito grande, mas cabíamos todos ao redor da grande mesa com o disco giratório onde poríamos a argila. Um pedal fazia girar uma correia, que, por sua vez, girava uma roda e, por fim, fazia a base circular girar também. A velocidade era controlada pelo pedal. PC disse que tinha alguma habilidade, e pegando um bom punhado de argila, não saberia dizer o peso, mas parecia uma bola de futebol, colocou sobre o disco. Começou a girar a base lentamente a principio, moldando o jarro conforme minhas orientações.
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Aconteceu em Porto Alegre
General FictionPalavras que somem do papel. Pessoas que perdem os olhos ao ver um "flash". Mudanças radicais de comportamento. Até pouco tempo antes de ter que vir às pressas para Porto Alegre, nada disso parecia fazer parte da rotina de Patrícia, uma jovem...