CAPÍTULO 3.AMOR X NÃO AMOR

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Capítulo 3.

Entrei no carro ainda assustada.
No caminho da festa até em casa permaneci em silêncio.
- Filha, quer conversar? Tá tudo bem? - perguntou.
- Tá sim pai, só tô um pouco cansada. - sorri.
- Como foi a festa? O Pedro tava lá?
- Foi legal. E sim, ele tava.
- Sabe... Eu gosto tanto daquele garoto.
- Que bom. Sorri encarando a rua pela janela do passageiro.

Fui pro quarto e a primeira coisa que fiz foi colocar o celular pra carregar e mandar uma mensagem pro Pedro.

Ontem quando saí do terraço não encontrei mais ele. Ele sumiu.
Eu poderia ter ido atrás dele.
Pensei em ligar, mas ele poderia estar dormindo. Lavei o rosto, tirei a maquiagem e coloquei um moletom confortável, me joguei no travesseiro, mas minha cabeça estava em outro lugar. Passava repetidamente um filme de tudo que havia acontecido naquela noite. Quem eram eles? Por que eles falavam aquilo? Por que não consegui ir atrás do Pedro? Por que comigo? E o pior... por que algum lugar dentro de mim se sentia parte daquilo? Nada fazia mais sentido.

Sonho.

(Leia ouvindo: You - Petit Biscuit)

Estava próxima a uma estação de trem e muitas pessoas passavam por ali com pressa.

No meio de tudo aquilo, pude avistá-lo.
Eryn estava de olhos fechados em meio a
todos, mas era como se ninguém pudesse enxergá-lo. Os olhares de todos que passavam eram tristes e solitários.
Mas o garoto, com os olhos fechados, mantinha um semblante tranquilo e um leve sorriso em meio a tudo aquilo.

Alguém vinha se aproximando com passos leves e andava diferente de todos que estavam passando pela estação.

Ela parou ao meu lado, olhando fixamente para o que acontecia à nossa frente.

Era como uma fada, toda delicada. Seu cabelo se erguia até alto e escorria em mechas em
tons púrpura, lilás e roxo que deslizavam por seu rosto e braços que eram cheios de tatuagens e símbolos nunca vistos.

- Quem é você? O que está acontecendo aqui? - perguntei e continuei observando Eryn em meio àquela estação que contrastava com sua expressão.

- Clara, de onde vim me chamam de Nay. - disse ela, como se já fôssemos amigas.

- Observe e você vai ver. Continuou a garota.
- Só existem dois tipos de pessoas. - Agora pegando em minha mão.
Seu toque era suave e suas unhas eram compridas e brilhantes.

- Aquelas que veem a Verdade sobre o que está acontecendo e aquelas que acham que estão vendo, mas imaginam sozinhas.
- Como sei se estou sozinha? - perguntei.
- Quando suas imaginações são mais fortes que seu interesse por aqueles que cruzam seu caminho.
- Quando se está na escuridão e a luz chega, para que você possa vê-la, precisa estar de olhos abertos, e para ver a luz é necessário admitir que ainda não a vê.

- O que é a Luz?

Então a garota apontou para o garoto e à sua volta havia uma luz, que era ignorada por aqueles que caminhavam tristes e preocupados em sobreviver, então, não conseguiam ver no garoto a alegria de viver.
- Pois quando se tem certeza que vê, não questiona sua própria cegueira. Assim não encontra a Luz, a não ser que a busque fora de suas imaginações.
- Mas como sei se estou cega?
- Quando você não consegue ver ninguém além de você.

Acordei.
Ainda na cama, fiquei pensando no que aquela garota havia dito.
- Dois tipos de pessoas: as que estão vendo a Verdade e as que acham que veem...
"Em qual eu me encaixo? O que é a Verdade?"
Meu celular vibrou. Era o Pedro.
Meu estômago se revirou mesmo antes de saber o que havia na mensagem. Mil imaginações passavam pela minha cabeça.
"Será que ele está bravo comigo? Ele não quer mais me ver? Ele não gosta mais de mim?".

Era apenas um oi, ele ignorou o que eu havia perguntado.

Enquanto eu esquentava o almoço que minha mãe tinha deixado, olhava meu celular a cada minuto, esperando que ele respondesse. Nada.
Quando terminei de lavar a louça, chequei outra vez. Ele tava online, mas não respondeu.
Acho que ele cansou de mim, eu nem sei o que ele viu em mim..
Eu sou tão comum... Por que um cara como ele ficaria comigo?

Percebi que não estava pensando no Pedro e apenas em mim.
Logo, tudo o que a Nay havia dito no sonho e eu não havia entendido começou a fazer sentido.
Eu não fiz nada de errado para ele ficar assim comigo, essa era a Verdade.
Ele só podia estar imaginando...
Meu celular vibrou. Era ele.

- AFFFFFFFFFFFFF. Aquilo era realmente sério? Por que ele estava fazendo aquilo?

Digitei, mas não enviei.

Lembrei novamente de Nay e de que as pessoas que imaginavam coisas não conseguiam ver a luz que vinha do garoto.

Eu sei que agora o Pedro pode estar imaginando muitas coisas, mas não vou retribuir da mesma forma.
Eu gosto dele e não é porque já ficamos ou até podemos não ficar mais, que vou deixar de gostar dele...
Comecei a refletir.
Às vezes as pessoas imaginam coisas e acreditam que elas estão acontecendo.
Isso acaba de alguma forma acontecendo pra ela, na cabeça dela, mesmo que não seja verdade.
E ela, presa nisso, não percebe, mas está sozinha.
Porque seu mundo de imaginações é solitário e ninguém pode entrar.
Assim você se priva de aproveitar as pessoas ao seu redor, as priva de você.

Enviei uma mensagem para o Pedro.

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Ilustrações: Yasmin Hassegawa
Fotos: Luiz Cláudio e Sandes

Cap. 4 - Abandonada.

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