CAPÍTULO 4.ABANDONADA

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Capítulo 4.

Aqueles sonhos haviam parado há dias, eu não conseguia mais encontrá-los e às vezes eu questionava se tudo aquilo realmente havia acontecido.
Pedro tinha sumido e parado de falar comigo e eu não quis mais sair de casa, fiquei fechada e sozinha com meus seriados no Netflix, não queria mais ver ninguém. Eles haviam me falado coisas lindas e me fizeram acreditar que a vida poderia ser diferente.
"Mas você é muito tola mesmo, Maria Clara.
Como pude acreditar nisso?".
A porta do quarto abriu.
- Maria Clara, mais um dia e você não saiu do seu quarto o dia todo... Vem jantar, filha.
- Não tô com fome.
- Você precisa comer.
- Não quero agora, mãe. Depois eu como.

(Leia ouvindo: Go all the Way - Perry Farrell)

Pesadelo.

Era uma cidade pequena, e o céu estava cinza nublado, todas as luzes das casas estavam apagadas.
Na rua principal, todas as lojas estavam abertas, mas vazias.

Andei pelas ruas daquela cidade, mas não havia ninguém.
Não encontrava ninguém.
Eu não os encontrava.

A cidade aparentava estar deserta, mas havia uma música alta tocando por toda a cidade.
Eu tentava encontrar de onde o som estava vindo. Corri. Procurei.
Era impossível.
O desespero começou a tomar conta de mim.
Era como se algo estivesse acontecendo e todos fizessem parte, menos eu.
Eu não fui convidada, mas eu queria estar lá, eu queria fazer parte, mas ninguém havia me chamado.
Senti meu coração apertado.
Às vezes eu sinto como se eu não importasse no mundo.
Como se minha presença fosse insignificante e, caso eu sumisse, nada mudaria e ninguém sentiria minha falta.
Como pude me enganar a tal ponto de achar que poderia fazer parte de algo importante e realmente significante?

Talvez a Nova Cultura fosse apenas um sonho bobo em meu coração, de tornar o mundo um lugar feliz que, no fundo, nunca vai acontecer.

(Leia ouvindo: Purpose - Justin Bieber)

Em meio a todos meus questionamentos pude ouvir alguém sorrindo.
Alguém estava ali? Rindo de mim?
- Você acha isso engraçado? - gritei procurando-o.
Eu estava ajoelhada na rua em meio àquelas casas, em lágrimas.
Ele tinha o canto de seus olhos puxados e serenos, cor de avelã, sua pele era morena.
Sentado num skate ele me observava do outro lado da rua.
Ele estava ali o tempo inteiro?
Continuou a rir de mim.

- O que você quer garoto? - indaguei.
- Nada. - respondeu ele, sorrindo.
- Então o que está fazendo aqui?
- Te observando. - sorriu.
Me senti constrangida.

- Você acha isso engraçado?
- Sim.
- Por quê?
- A solidão é algo um tanto quanto engraçado. Para sentir-se só você precisa se dedicar muito e imaginar muitas coisas. E mesmo assim você finge se fechar, mas isso não é possível, pois você sempre terá contato com os outros, mesmo que indiretamente, seja pedindo um café, um bilhete no metrô ou usando uma camisa que foi feita por alguém, ou mais fundo ainda...
Simplesmente existindo.
- O que você sabe sobre solidão? O que você sabe sobre ser abandonado?
- Aqui, nesse planeta, todos se sentem abandonados.
- E você não?
- Já me senti um dia, mas vi que não estava e nunca estive sozinho.

- Mas eu me sinto sozinha agora, eles me abandonaram.
- O jeito que você escolhe ver o mundo apenas te prova que ele é assim.
- Eu não escolhi isso. Eu não quero isso.
- Ninguém pode mudar seu jeito de olhar, apenas você mesma, você é livre.
- Como você vê o mundo?

Ele começou a sorrir e por um momento pude ver o mundo pelos olhos do garoto.
Ele se chamava Koy, cantava e tinha em seu coração a arte e eu podia ver a sua visão sobre o mundo.

Vi as ruas ganharem Vida, tudo se tornou belo, puro e sem pecados.
Por detrás das pessoas daquela cidade, que agora já não era mais vazia, pude ver que havia algo que antes eu não me permitia ver: Havia A Vida e olhar para elas era como olhar para mim mesmo e lembrar-me da Vida que existia em mim.

Como pude pensar estar só?
Um sentimento de compaixão brotou em meu coração e cada um que passava por meu olhar eu sentia prazer em me encontrar, e uma imensa vontade de cuidar, e não havia mais necessidade de me isolar ou me defender, pois agora eu já não me sentia mais ameaçada por ninguém.

Acordei.

Ilustrações: Yasmin HassegawaFotos: Luiz Claudio

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Ilustrações: Yasmin Hassegawa
Fotos: Luiz Claudio

O Último Capítulo número 5 - Salva,

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