CAPITULO 1.CONTATADA

1.1K 37 2
                                    

Capítulo 1.

Estava acordada fazia um bom tempo, mas não conseguia sair da cama.
Sabe aquele momento em que você procura forças pra realmente levantar?
- AAAAAAAAAAAAAAAAAHHH - bocejei e gritei ao mesmo tempo.
O primeiro passo é abrir a janela, sempre funciona.

"Ficar fazendo nada na internet a madrugada toda resultou nisso", pensei, ao checar meu celular e ver que já passavam das duas da tarde.
Tudo bem, é só o meu primeiro dia de férias.
Nunca sinto fome ao acordar, me forcei a tomar uma tigela de cereal com iogurte de morango. Meus pais saem cedo pra trabalhar, estava sozinha em casa. Eu gosto.

Pulei no sofá após meu ''almoço'', liguei a TV e deixei em qualquer canal aleatório. Não gosto de assistir isso, mas o fundo sonoro faz parecer que há pessoas aqui.
A primeira coisa que fui olhar foi o Facebook. Nada.

Whatsapp. Nada. Quer dizer, tinha uma mensagem da minha mãe perguntando se eu havia almoçado direito... "Respondi que sim <3" Hehe.

No meu primeiro dia de férias ninguém me chamou pra nada...
É bem esquisito estar em casa de pijama numa segunda-feira à tarde, sendo que agora eu estaria chegando do colégio.

"O que você vai fazer hoje, Maria Clara?", eu pensava enquanto observava a janela da sala.
Podia ouvir as árvores balançando, o dia parecia estar ensolarado e ao mesmo tempo refrescante.
Não sou a louca de sair de casa pra caminhar, mas às vezes também sinto vontade de colocar meu tênis de corrida e dar uma volta no bairro. Talvez eu possa encontrar alguém.

Já estava andando há uns dez minutos e não avistei nenhum conhecido.
As pessoas com quem eu cruzava iam em passos rápidos, nem me olhavam.
- Bom dia! - sussurrei pra senhora que passava rapidamente, sem nem me ouvir.
"O bom do meu bairro é que ele é muito sossegado...", pensei.

Ao me aproximar da esquina, um som de motor rugia e eu pude ouvir a borracha no asfalto.
Um carro em alta velocidade passou e logo sumiu da minha vista.
Alguns segundos depois o som das sirenes tomava conta da rua, duas viaturas faziam o mesmo trajeto que o tal carro.

(Leia ouvindo: Memories - Petit Biscuit)

ei meus fones de ouvido e coloquei na minha playlist.

"Ah! Como eu amo quando descubro música nova e boa.", pensei, enquanto andava a largos passos numa quase dança, observando os raios de sol entrando através das árvores.
Às vezes você só precisa parar de pensar um pouco e colocar aquela música.
Observava tudo a minha volta, cada detalhe e as pessoas andando, me senti como se estivesse dentro de um clipe. Quem nunca? Pensei.
Na esquina me deparei com um tumulto de pessoas no fim da rua, não conseguia ver direito nem entender nada. Corri até lá.

(Leia ouvindo: The Light - The Album Leaf)

Era uma grande roda e eles cochichavam entre si, ao tirar os fones reparei que o barulho das sirenes agora estava mais alto. A polícia está aqui.
Tentei furar a roda, mas ninguém me deixava passar. Eu precisava saber o que estava acontecendo ali.
Via muitas pessoas do meu bairro, enquanto cruzava o muro de pessoas, braços e cotovelos.
Pude ver o carro que havia me cruzado segundos antes, agora com sua frente direita totalmente amassada, não conseguia ver se alguém estava dentro do carro por causa da fumaça.
As pessoas gritavam para ligar pro resgate e ao lado do carro pude ver um rapaz, jovem, que parecia ser o motorista do carro. Ele aparentava estar bem enquanto aguardava o resgate deitado no chão com os policiais.
Gelei ao reparar que tinha uma bicicleta amassada sob o carro. "Ele atropelou alguém?", pensei.
O tumulto era grande, mas um homem chorando chamou minha atenção, ele dizia algo sobre Deus ter livrado seu filho daquele acidente. O menino estava andando de bicicleta no momento da batida, mas estava bem, só um pouco assustado. Meu coração sossegou.
Logo a ambulância chegou e os paramédicos foram afastando todas aquelas pessoas que pareciam estar ali apenas de curiosas.

Ao me afastar pude ouvir a conversa de duas senhoras:
- Bandido tem é que morrer! Deu muita sorte! Isso sim.
E logo a outra completou:
- Na cadeia ele vai pagar por tudo isso, pode ter certeza, Deus é justo.
Corri pra fora do tumulto, empurrei. Consegui sair. Tudo aquilo, tudo, de certa forma, mexeu comigo.

Entrei em casa e fui direto pro quarto.
Não queria pensar no que eu tinha presenciado.
Fiquei procurando coisas para fazer no celular.
Vi tudo no Youtube, Instagram, Facebook. A hora passava.
Ninguém, nem o Pedro me chamava.
Abri o Snapchat.
Ao assistir o snap da minha vizinha, vi que ela tinha gravado o acidente de carro pela janela do prédio dela. Pulei, não consegui assistir até o fim.
Como alguém pode filmar algo assim como se fosse normal?

(Leia ouvindo: Window - The Album Leaf)

Me peguei pensando novamente no que tinha acontecido e questionando tudo que eu tinha visto.
Pensei no rapaz que dirigia o carro.
Onde ele está agora? Ele se machucou? Por que ele corria?
Ele estava fugindo? Ele era mesmo um ''bandido'' como as senhoras diziam?
E se ele tivesse se machucado? Ele seria preso mesmo assim?
O que aconteceria se o menino da bicicleta não escapasse? Deus o teria livrado?
Era só isso? Ou ele morreria e fim? A vida é assim? Tão cheia de sonhos, mas tão frágil quanto uma batida de carro?
É pra isso que Deus nos colocou aqui? Sem nenhum motivo? Ele nos colocou aqui pra sofrer e, se tudo der ''certo", no fim, morrer? Para.

Para. Para. Para de pensar.
Deitei, liguei o abajur e tentei relaxar em meu travesseiro.
Fui parando de pensar.
Relaxei.
Tudo ficou tranquilo.

Eu estava no alto de um prédio onde a vista dava para toda a cidade.
Era um dos céus mais lindos que eu já havia visto.
- Que cores lindas... Esse céu está lin...
Logo uma doce voz completou minha frase.

- O céu tá rosa, com azul e roxo. Te lembra algo? - perguntou a voz.
Ao virar-me pude vê-lo sentado de costas olhando para o céu. Um garoto com cabelo e roupas diferentes.
Seu cabelo combinava com as cores do céu e ele usava uma jaqueta colorida.
Congelei. Não consegui responder sua pergunta.
- Ele me lembra a minha casa - disse ele.
- Quem é você?
- Meu nome é Eryn e o seu? - ele continuava de costas.
"Eryn", pensei. "Nunca vi esse nome, nem em seriados."
- Pode me chamar de Clara.
- Senta aqui, Clara, a vista daqui é linda. - ele me convidou.
- Eu tenho medo de altura.
- Eu te seguro, não precisa sentir medo - disse aquele garoto que eu nunca tinha visto, com os cabelos coloridos ao vento.
Com um pouco de vergonha e medo ao mesmo tempo, fui me aproximando.
Não me contive, ele parecia tão seguro ali.
Ao me aproximar, pude ver seu rosto. Ele olhava para o céu e gentilmente me dirigiu seu olhar.
Seus olhos eram verdes acinzentados e seu rosto era angelical e delicado, com um sorriso de lábios cerrados, ele pegou minha mão e me sentou ao seu lado. O medo se foi.
Dali a vista era realmente apaixonante, o rosa do céu se encontrava com as casas e o roxo com o topo dos prédios, o azul se estendia pelo céu em toda sua imensidão ao alto.
Um sentimento de paz e gratidão tomou conta de mim na presença de um doce estranho.
Num movimento suave, ele deitou sua cabeça sobre meus ombros.
- Todos compartilham o mesmo céu, Clara. Mas às vezes se esquecem disso - dizia ele enquanto eu observava a cidade.
- Respondendo a sua pergunta:
Deus não quer que ninguém sofra, nunca. Ele ainda nos ama.

Acordei.

Leia o Capítulo 2. Chamada.

Espero que gostem da obra do
Erick Mafra.
Beijos de Luz.

O Garoto Do SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora