Sorri diante do espelho apenas por precaução, porque meus dentes continuavam impecáveis em seu tom perolado. Era uma mania ridícula, eu sabia. Depois de tantos anos e tantos tratamentos odontológicos para deixá-los perfeitos, eu ainda me flagrava agindo como se fosse aquela garotinha insegura de quinze anos.
De repente, as portas do elevador se abriram e eu enfiei o pequeno espelho dentro da bolsa. Ele estava atrasado, o que não era surpresa. Nicholas dificilmente chegava na hora certa, mas isso não era considerado um problema. O pequeno deslecho com relação a pontualidade era sempre relevado diante de todos graças aos seus encantos e brilhantismo com os negócios.
Há oito meses trabalhando como assistente pessoal de Nicholas Ferraço, eu já tinha aprendido uma série de lições. A primeira foi sobre a responsabilidade dele com os horários. A segunda era que, ocasionalmente, mulheres altas, esguias e siliconadas tinham passe livre para a sala da presidência; e a terceira era que por mais que as loiras fossem maravilhosas, elas nunca apareciam uma segunda vez.
— Eu sei. — Ele retirou os óculos escuros e debruçou-se sobre a minha bancada com o sorriso encantador de sempre. — Estou atrasado e você vai me repreender por isso.
— Você está enganado. Eu já desisti dessa tarefa, visto que tenho muitas mais como sua assistente.
O sorriso dele se ampliou:
— Sabe que eu adoro sua irritação na segunda de manhã? Você fica impressionantemente sexy.
Ele passou a mão pelos cabelos escuros e sorriu de lado. Levantei-me e agarrei a prancheta, dando a volta na minha bancada para ficar diante dele.
— Sabe o que é impressionante? — verifiquei a agenda dele e grifei um compromisso. — Que você tenha essa capacidade enorme para se lembrar desses flertes baratos e se esqueça, por exemplo, de que seu pai deve chegar aqui dentro de quinze minutos.
Nicholas soltou um suspiro e eu ergui a cabeça sorrindo.
— Merda. — ele gemeu e começou a andar na direção do seu escritório. Caminhei ao lado dele. — Há alguma coisa incriminadora no meu escritório?
A sala da presidência ocupava sozinha, o último andar do edifício, sendo assim Nicholas e eu éramos os únicos lá grande parte do tempo. No início foi mais difícil. As investidas dele, como eu esperava desde que aceitei o cargo, eram constantes. Eu não era puritana, bem longe disso, e embora não me importasse em usar alguns cretinos para me divertir em alguns momentos, com Nicholas eu não podia levar da mesma maneira. Ele era o meu chefe. Dormir com ele implicaria numa série de consequências, como perder o emprego. Emprego esse que era fundamental para o plano de carreira que eu tinha em mente.
Por isso, mesmo não sendo hipócrita e admitindo minha atração por ele, eu o afastei da minha lista de brinquedinhos. Com o tempo, nós dois nos acostumamos com a rotina de provocações e flertes sem justificativas finais. Ouso dizer que até criamos certa amizade, no contexto geral. Algumas vezes nós fazíamos horas extras no estranho flete dele cheio de antiguidades gregas e persas, depois Nicholas me levava para a casa e durante as várias vezes em que isso acontecia, nós até conversávamos descentemente.
Em algumas ocasiões, entretanto, as coisas não eram tão descentes. Essas ocasiões eram quando eu tinha de recolher os sutiãs e calcinhas às vezes perdidos no escritório de Nicholas, como fiz pela manhã quando cheguei.
— Não. Eu retirei a calcinha de renda vermelha que estava no chão essa manhã. — recitei enquanto terminava de analisar a agenda dele.
Nicholas riu.
— Sabe, às vezes penso se temos realmente essas conversas. Parece bizarro em alguns momentos. Senhorita. — Ele abriu a porta do escritório e me deu passagem.
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