Capítulo 2: Diário de Sonhos

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- Antes que você diga qualquer coisa, em minha defesa... - Nicholas retirou algo do porta luvas em um embrulho e colocou no meu colo assim que entrei no carro. - Chocolates belgas.

- Você está tentando me subornar com chocolates? - segurei a vontade de rir. Eu estava zangada. Ao menos devia estar zangada pela forma baixa e trapaceira que ele organizara as coisas.

- Absolutamente. - Ele garantiu. - Teria funcionado?

Dessa vez não consegui evitar um pequeno riso. Era impossível ficar zangada por muito tempo quando ele sorria daquela forma encantadora.

- Não. - respondi, embora já abrisse a caixa de chocolates. Coloquei um na boca e gemi de satisfação. - Ou talvez sim. Você é um trapaceiro de marca maior, Ferraço.

Foi a vez dele de rir e logo depois o carro começou a sair do lugar.

- Eu não diria trapaceiro. Estrategista, Calculista, Planejador e até Esperto, eu acredito que me definam melhor.

- Vou continuar com o trapaceiro.

Ele voltou a rir e depois desviou os olhos da direção e me fitou rapidamente.

- E que tal democrático?

- Democrático?

- Sim. Democrático o suficiente para aceitar ir naquele restaurante indiano, que você sugeriu e que fica ao lado daquele tailandês que nós odiamos.

Tive de rir mais uma vez á menção do restaurante tailandês. O estabelecimento havia sido aberto a pouco mais de três semanas. Nicholas e eu o odiávamos porque antes o lugar era um restaurante italiano aconchegante que descobrimos por acaso depois da reunião de rotina com alguns banqueiros na quarta quinta feira do mês. Tinha um macarrão incrível e desde então nós sempre almoçávamos no lugar nesse dia específico. Mas o dono não conseguira mantê-lo e um tailandês acabou por compra-lo transformando o pequeno espaço em algo nada acolhedor e com panelas fumegantes.

- O que? Você quer dizer que finalmente vai acatar uma sugestão minha? - falei depois de engolir outro pedaço de chocolate.

- Como eu disse, democrático. - Ele assentiu com a cabeça. - E eu espero que seja boa.

- O que?

- A comida indiana. - Nicholas explicou. - Gostaria de saber se é muito picante.

- Sabe o que eu gostaria de saber? - olhei para o asfalto e depois o fitei. - Em que tipo de problema você se enfiou agora para precisar me ver em um jantar segunda a noite.

- Me fere muito essa sua certeza de que eu sou um cara problemático. - Ele tentou parecer ofendido, mas sua bochecha direita se inclinou um pouco sugerindo um sorriso. - Além disso, gostaria de deixar claro que a veria todas as noites, de segunda a segunda, se você aceitasse.

Ignorei o tom da conversa e tentei seguir por um caminho menos perigoso.

- Conversei com Ellen hoje. Ela ainda acha que fará uma surpresa.

Nicholas desviou seus olhos para mim e depois voltou a encarar o para brisa. Permaneceu em silêncio por alguns instantes, o que me deixou perturbada.

- Uma festa de boas vindas seria ideal. - Ele falou por fim.

- Eu posso ajudar com isso. - embrulhei novamente a caixinha de chocolates e a guardei no lugar em que ele havia retirado antes. - Precisamos apenas encontrar um bom lugar.

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