O Visitador Noturno

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Autor: André Neto

AndreNeto13


"Ninguém acredita nas crianças.

Foi apenas a imaginação ou algo mais?

Os rastros no chão denunciaram isso...

Baseado em PESADELOS reais."


***


Jamais esquecerei.

Não posso esquecer.

Não consigo esquecer.

Dormir tranquilo já não é mais possível, vivo o terror daquela noite toda vez que fecho os olhos e para amenizar a angustia que há em mim, irei compartilhar o terror que vivi na noite em questão, peço-lhes que não ache que sou louco ou que eram devaneios de uma criança porque aquilo era real.

Sim...

Aquilo era real.

Sou de família pobre, para ser mais exato sou do interior da Paraíba, nessa época a vida era difícil, eu morava em uma casa de taipa, ela era tão velha que eu nunca descobri quem a construiu apenas sabia que muita gente tinha e vivido e também morrido nela. Por ser simples ela tinha apenas quatro cômodos: a sala, a cozinha e dois quartos (das crianças e do casal). Durante o dia eu e minhas cinco irmãs trabalhávamos no roçado, isto de manha ate o entardecer, no intervalo do almoço comíamos um caldo fino de feijão com farinha para enganar a fome e naquele dia (DIGO NAQUELE DIA) não foi diferente.

Trabalhei arduamente sem cessar o dia inteiro, o almoço (como já disse) foi o de sempre e no final da tarde antes do crepúsculo dispersar a ultima resta de luz eu voltei para casa, infelizmente não havia nada para jantar naquela noite (naquela noite...) e eu fui dormir cedo para que a fome não viesse conversar comigo sobre as desculpas dela estar me matando e também para ter que recomeçar o monótono ciclo da minha miserável vida.

No quarto, enquanto eu e minha irmã caçula dormíamos em redes e as demais dormiam em um colchão de casal velho. Assim que meus olhos ficaram pesados o meu companheiro o sono me transportou para um belo lugar onde só havia paz, descanso e fartura, tudo aquilo que minha luxuria inocente de criança pedia, mas acordei do meu sonho bruscamente por causa de um som estridente, um som de metal rangendo penetrou os meus ouvidos e cavou fundo ate perfurar a minha alma, aquilo era horrível e o impressionante era que ninguém de casa tinha acordado com o som.

Era noite de lua cheia, posso dizer, pois uma luminescência atravessava as fissuras do teto e das paredes, aquele som estava ficando cada vez mais alto, parecia que ele estava vindo em minha direção, minha espinha gelou e embora tentasse acordar alguém o esforço era perdido, pois ninguém acordava. Depois de pensar criei coragem e sai da rede em direção à porta do quarto e ver o que estava amedrontando meus sentidos.

Arrependo-me disso ate hoje.

Entrando pela porta da sala vi o que parecia ser uma sombra montada em um quadro de bicicleta, mas somente o quadro não havia pneus e o ser vir arrastando aquilo no chão causando aquele tumulto que me despertou do meu sonho para meu pesadelo, naquele momento eu paralisei por uns segundos eternos antes de pular novamente dentro da rede, me cobri por inteiro e esperei o som parar, porem ele seguiu ate a cozinha onde cessou. Quando eu tive esse meio tempo para pensar, tentei exaustivamente acordar alguém, mas novamente foi tudo em vão, ir para o quarto de meus pais estava fora de questão, pois eu tinha que passar pela cozinha e eu sabia que a criatura estaria lá a minha espera. O barulho havia escasso por um momento e nesse momento eu pensei que aquele inferno tinha acabado novamente criei coragem e fui à porta para ver o que aconteceu.

E vi.

Na beira do fogão de lenha, soprando o que restou das brasas estava uma figura demoníaca se camuflando nas sombras, as brasas... A luz que manava delas revelou a face decomposta e grotesca do ser. Enquanto eu contemplava com horror a criatura, ela repentinamente olhou para mim o que não percebi de imediato, o meu corpo só se mexeu quando um movimento brusco do ser denunciou que ele já havia notado minha presença, nesse momento corri de volta á rede e me embrulhei com o lençol, fechei os olhos com tanta força que era arriscado eu não abri-los novamente, o som recomeçou e foi ficando alto...

Mais alto

CADA VEZ MAIS ALTO...

E

PAROU!

Devagar a minha rede foi sendo aberta, mas continuei de olhos fechados, uma mão gelado como a de um cadáver tocou minha barriga, um bafo frio envolveu meu ouvido e uma voz afônica sussurrou para mim:

"Sei que não esta dormindo, não adianta fingir".

Depois disso ouvi o metal gemer até que ele desapareceu em meio aos sons dos grilos que cantavam a noite, quando levantei ele havia sumido deixando apenas seus rastros pelo chão.

Hoje.

Tenho medo de fechar meus olhos e quando abri-los ver ele novamente.

Tenho medo de dormir.

André neto

Nova palmeira - Paraíba

02-09-2015



** Este conto encontra-se originalmente postado no perfil do próprio autor que pode ser acessado através do link: https://www.wattpad.com/story/84876631-o-visitador-noturno

Faces Ocultas - Contos de Terror e SuspenseOnde histórias criam vida. Descubra agora