Nick corria o mais rápido que podia, mas tinha certeza que não conseguiria escapar. John sempre foi o mais rápido, e quando ficava bravo, sua velocidade triplicava. Bochechas coradas e respiração ofegante, foi assim que eles se encontraram pela primeira vez. Isso, se puder considerar cair no chão em cima de alguém um encontro. Quando John abria a boca para avisar o irmão, já era tarde demais. Ele estava muito longe para ouví-lo. E John precisou segurar a barriga de tanto rir ao ver Nick em cima de uma garota linda, com as mãos posicionadas convenientemente em seus seios.
Seu rosto, branco como a neve que caía suavemente, foi tomado por um rubro intenso e idêntico ao cabelo sedoso que possuía. Os olhos escuros de Nick encontraram os verdes da menina e, infelizmente, eles expressavam um misto de vergonha e fúria.
— Sai de cima de mim... Agora...
Se os dois não tivessem tão perto, Nick não teria conseguido ouvir. E só então se deu conta de onde suas mãos estavam. Ao olhar para a esquerda viu John rolando no chão, chorando de rir.
— Ah! Desculpa! — disse Nick, se levantando.
— Só, não faça isso de novo. Nunca.
E se foi, deixando um Nick confuso, John se recuperando e nenhum dos dois sabia seu nome.
— Nick... Nick, cara — disse entre risadas —, você está babando, para com isso.
— Claro que não! Sai fora! Temos que voltar pra casa, papai deve estar furioso.
— Aposto um soco que ela não vai te dar a mínima.
— Apostado.
🎄🎄🎄
— Vocês são dois irresponsáveis! Eu lhes dou uma tarefa, uma tarefa! E o que fazem? Saem correndo que nem duas crianças ao invés dos homens que são! Como querem assumir isto tudo, agindo dessa maneira!?
Os dois garotos engoliram em seco ao encarar o Velho Noel. Como Nick havia dito, ele estava furioso. Eles estavam muito atrasados para começarem a arrumar o salão para o baile de véspera com os elfos e isso estava causando uma grande comoção na fábrica. E mesmo que quisessem inventar alguma defesa, não adiantaria de nada.
— Desculpe, pai. Houve um imprevisto. Mas estamos aqui agora. Vamos John, vamos arrumar logo esse baile.
— Lembrem-se, eu não sou eterno. Sua vez está chegando Nick, e não pode agir assim, você sabe que tenho razão.
Ele concordou em silêncio e saiu puxando John pelo braço. Não sabia porque seu pai estava falando aquilo, todos sabiam o que iria acontecer e que isso era inevitável, mas jamais era comentando. Havia uma regra não dita sobre não dizer quando o filho assumiria o lugar do pai. E ainda assim, ele insistia em falar aquelas coisas, deixando Nick com um gosto amargo na boca só de imaginar. Já John, por outro lado, ficava extasiado com a ideia de se tornar o próximo Papai Noel. Sua única falha foi ter nascido depois do irmão. E esse pequeno detalhe acabava com todos os seus planos. Já que era lei que somente o primeiro filho poderia assumir.
— Não fique assim, Nick.
— Assim como?
— De mau humor. Hoje é o dia do baile de véspera! Vamos lá! Animação! Garotas e bebidas!
— Tá, tanto faz.
— Esse vai ser o melhor ano de todos! O Pólo Norte nunca ficará tão quente quanto hoje!
— Espero que sim, irmão.
Ao entrarem no salão de festas da fábrica viram os elfos correndo de um lado ao outro, completamente desorientados. Poderiam facilmente dizer que uma bomba explodiu ali dentro e qualquer um acreditaria.
— Nick! John! Que bom que chegaram! — Grace, a coordenadora de todos os elfos chegou correndo com olhos arregalados. — Como podem ver, eles enlouqueceram! E não me escutam por nada!
— Deixa com a gente, Grace. Pode ir se recompor.
Ela concordou e saiu do salão. Os irmãos olharam a bagunça, imaginando como fariam para conseguir arrumar tudo a tempo. E então um lampejo de esperança em formato de nariz vermelho passou pela janela.
— As renas! — Ambos gritaram ao mesmo tempo e saíram para buscá-las.
E como esperado, elas ajudaram, e muito. O trabalho foi realizado com sucesso e rápido. O local foi tomado por cores natalinas e brilhantes. Dourado, verde e vermelho e uns toques de prata. Luzes pendendo do teto e piscando, deixando todos um pouco tontos. E, bem no centro, uma imensa árvore que ia até o teto. Ela estava sem decoração ainda, pois, a medida que os moradores da vila chegassem, iriam colocando os enfeites. Era tradição. Cada um colocava dois enfeites. Uma coisa boa que queriam lembrar e um desejo para o próximo ano. Cada família tinha que fazer o próprio enfeite, então uma árvore nunca ficava igual a anterior.
As mesas foram dispostas para a equipe de cozinha preparar e o palco foi montado para as bandas e a revelação da princesa de neve do ano. Quem vencesse seria dada a honra de colocar a estrela no topo da árvore. E este ano a disputa estava ficando um pouco selvagem. Houve todo tipo de sabotagem entre as três garotas. Mas todos esperavam que Alina vencesse. Por possuir cabelos prateados e família importante. Dessa vez as votações seriam transmitidos na tela durante toda a festa. A contagem dos votos ao vivo foi ideia da Sra. Noel, e realmente deu uma animada na festa.
— Oh, meus amores, o salão ficou lindo.
— Obrigada, mamãe. — John a abraçou.
— Todos estão animadíssimos com a votação. A senhora realmente deu uma ótima ideia — elogiou Nick, fazendo a senhora sorrir e as poucas rugas aparecerem.
— Quem vocês acham que será a princesa esse ano? — ela perguntou.
— Pouco importa, mamãe. Isso é só uma bobagem, todas as garotas merecem ser princesas e colocar a estrela. — Nick suspirou e apoiou a cabeça na mão.
— Você é um otário, Nick. Só fala isso na intenção de pegar as garotas. Eu quero que a Sarah ganhe. Ela é obviamente a mais bonita.
— Eu estou torcendo para a Jess — Sra. Noel constatou.
Essa conversa continuou por muito tempo, até que Nick se cansou e foi para casa se arrumar. Sua mãe mandou os elfos deixarem um terno em cima de sua cama. Revirando os olhos ele passou direto e pegou uma camiseta branca com gola V e uma jaqueta de couro. Esse era o seu estilo, não um terno. Mas ninguém parecia querer aceitar. Após passar gel e creme no cabelo escuro para deixá-lo para trás com um aspecto molhado e natural, saiu para o baile. Já estava na hora do discurso do Sr. Noel, o mesmo discurso todo ano antes dele sair para entregar os presentes. A vila Pólo Norte não era pequena, mas algumas casas eram adaptadas para os elfos, por isso se destacavam. Todo mundo tinha descendência élfica na família. Em algumas isso era mais evidente. Já que todos tinham feições delicadas e pontudas como nariz e orelha ou olhos ligeiramente maiores. Cabelos de colorações impossíveis e estatura menor.
E com tanta mistura, era difícil dizer se havia alguém realmente puro elfo ou puro humano. O que tornava o Pólo Norte um local esquecido do mundo. Ninguém fazia questão de querer passar as férias lá há muito tempo. O engraçado era que esperavam que a família Noel continuasse entregando presentes no natal.
A neve fazia um barulho gostoso sob as botas de Nick. Apesar dá neve caindo, ele não sentia tanto frio. Um aspecto adquirido pela parte élfica da família, os quais ele mais gostava.
Bem vindos ao baile de véspera, as palavras pintadas em preto na faixa foram a primeira coisa que encheu os olhos de Nick ao chegar no salão. Seu olfato foi tomado pelos aromas deliciosos de refeições natalinas, se completando numa mistura que o deixou salivando. E se não fosse por John e pelo discurso, ele iria agora mesmo atacar a mesa.
— Cadê o seu terno? Mamãe vai te matar!
— Eu tenho vinte anos. E odeio ternos e uniformes.
— Olhe quem está lá, atacando um peru na mesa. Sua chance, Nick.
E lá estava ela, os cabelos vermelhos em duas tranças bagunçadas e vestido preto simples.
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nick & kathy
ContoAlguma vez já se perguntou como o Papai Noel e a Mamãe Noel se conheceram?