Capítulo II - O Sonho

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Frio. Era um frio seco, que os faziam sentir os pelos de seus corpos se arrepiarem e seus músculos tencionarem. Vinham e iam, apenas flashes e sensações repentinas, fazendo-os questionar o que era real e o que era sonho. Enxergavam apenas luzes em um momento e em outro, escuridão, apagando e se acendendo. Luzes extremamente fortes, brancas, monótonas. Estavam deitados em algo duro, uma maca, talvez? Seus olhos iam lentamente se ajustando a intensidade da luz. Podiam ver silhuetas. Não conseguiam ver os rostos. Eram vultos, indo e vindo. Estavam os cercando. Tocando-os. Sentiram a agulha penetrando seus pescoços. Não conseguiram nem registrar direito o que estava ocorrendo antes de serem apagados.


Céleste


Céleste acordou num susto, porém ela não acordou em casa. Escutou uma máquina fazendo vários "beeps" em sequência. Ela estava em um hospital.

"Por que diabos estou aqui?", pensou.

-Ela acordou!- Céleste ouviu uma voz bem baixinha do lado de fora do quarto em que estava.

Logo em seguida a porta se abriu. Era um médico, já conhecido por Céleste, o Dr. Burnier. Ele se sentou numa cadeira que havia ao lado da cama de Céleste.

-Bom dia, Céleste- Disse Burnier, num tom sério.

-Bom dia- ela respondeu- Por que estou aqui?

-Você entrou em coma alcóolico, Céleste- anunciou- de novo.

"Ai merda...", pensou Céleste.

-Por quanto tempo eu estive aqui?- perguntou.

-Já fazem 2 dias.

-Você não pode contar isso pros meus pais- implorou Céleste- por favor, prometo que não farei isso de novo.

-Tarde de mais Céleste- disse Burnier- seu pai e sua mãe já estão cientes do ocorrido.

-Então cadê eles?

-Seu pai estava viajando quando o comunicamos e sua mãe apareceu aqui no primeiro dia, ela que lhe trouxe, mas foi embora e não conseguimos contatá-la novamente.

-Nem pra isso eles aparecem...- Céleste recostou na cama.

-Posso te perguntar uma coisa, Céleste?

-Claro.

-Por que você fez isso?

-Isso o que?

-Por que bebeu desse jeito? Você é nova demais, acabou de completar 15 anos. Seu corpo ainda não está preparado pra receber essa quantidade de álcool.

-Eu estava triste, doutor- Céleste começou a chorar- Era meu aniversário e nenhum dos meus pais estavam em casa...

-Calma, querida- Burnier abraçou Céleste, tentando reconforta-la.

-Desculpa- disse Céleste, soluçando- é que eu não aguento mais...

-Olha Céleste, fique com isso- Burnier botou a mão no bolso de seu jaleco e de lá retirou um papel.- Ela vai saber te ajudar.

"Dra. Vanessa Boiteux, especialista em psicanálise e transtornos mentais. Terapia coletiva e alternativa."


Hugo


Hugo acordou, perturbado com o sonho que acabara de ter. Que lugar era aquele? Era sábado e Hugo tinha uma festa para ir mais tarde. Hugo foi até a sala onde estava sua mãe e seu pai, juntos no sofá. Os pais de Hugo eram um casal bem bipolar.

-Pai... Você voltou...- disse Hugo.

-É filho... Eu e sua mãe nos acertamos.

-Ah, que bom...

Hugo claramente não estava nada satisfeito com a situação atual dos pais.


Hasina


Hasina estava tomando café da manhã junto com os pais.


-Nossa que noite, eu não conseguia dormir de jeito nenhum- Disse a mãe- Esse calor está insuportável.

-E eu que tive um sonho super esquisito?- Revelou Hanasi.

Os pais se entreolharam.

-Como foi o sonho, filha?- Perguntou o pai, que parecia curioso.

-Ah, eu não me lembro muito bem- ela realmente não se lembrava- eu só lembro de que era um lugar bem frio e iluminado. Só isso.

Houve um silêncio momentâneo sobre a mesa e a família continuou a comer.


Kyung



Kyung estava deitado na cama assistindo a uma série em sua televisão, quando seu celular vibrou. Era uma mensagem de um grupo em que ele estava.


"Festa hoje à noite na casa da Sun Hee! Todos estão convidados! P.s: Espero que não tenham problemas com bebida. Haha. XOXO"

Kyung foi imediatamente falar com seus pais sobre a festa.

-Mãe, posso ir na festa na casa da Sun Hee hoje à noite?- Perguntou Kyung.

-Pode sim filho.

Kyung estranhou, nunca foi fácil para ele convencer os pais a deixarem ele ir numa festa.

-Sério?- perguntou Kyung, ainda desconfiado.

-Claro filho- Respondeu a mãe- Suas notas na escola estão boas. Acho que você merece.

-Obrigado mãe- Disse Kyung, sorridente e logo foi abraçar sua mãe.

-Juízo, viu?- alertou a mãe.

-Sempre mãe, sempre...


Adanna


Adanna estava cuidando de seus irmãos mais novos enquanto sua mãe saia para conseguir alimento, colhendo frutas e pegando um bocado de água dos rios.

-Crianças, parem de correr! - Gritou Adanna, tonta com tanta criança correndo em volta da cabana.- Zuhri, me ajuda!

Zuhri era o irmão mais velho, Adanna era a segunda mais velha. Zuhri apareceu e correu atrás dos 4 irmãos mais novos, conseguindo pará-los.

-Cheguei crianças!- A mãe de Adanna voltou- Hora de comer!

-Finalmente- Disse Adanna.

Os irmãos de Adanna já faziam fila para pegar as frutas que a mãe havia colhido.

-Calma crianças, é uma pra cada!- Disse a mãe, tentando acalmá-los.

A família se sentou em volta de uma grande mesa de barro que havia dentro da cabana, todos começaram a comer as frutas. Havia completo silêncio, a hora de comer para a família Du Bois era completamente sagrada. Quando terminavam de comer, todos permaneciam à mesa para conversar durante uns 10 minutos, todos gostavam de ouvir as histórias que a mãe contava. Eram realmente fascinantes.


-E essa foi a história de hoje, meus pequenos...- Terminou a mãe- Vocês têm algo para me contar?

-Não- Respondeu Adanna.

-Nada também.- Respondeu Zuhri.

-Ai eu tenho!- Disse Jahi, um dos irmãos mais novos. - Eu vi uns homens estranhos rodeando a vila durante a madrugada. Pode ter sido só um sonho.

-Foi um sonho com certeza.- Disse a mãe e todos os irmãos riram, menos Adanna.

-Homens?- voltou ao assunto- Que homens?

-Adanna, chega.- cortou a mãe.- Vamos crianças, quero todo mundo lá fora.

Adanna ficou com uma pulga atrás da orelha após o suposto "sonho" do irmão.

"Que homens?"

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